[ABE-L] Sobre lixo acadêmico
Julio Stern
jmstern em hotmail.com
Sáb Jan 10 03:58:35 -03 2015
Caro Carlinhos: Frotta-Pessoa..., que dizia que no mundo >>> Ha os Genuinos e os Cretinos... Nelson Rodrigues..., que te ensinou a seguir teu proprio coração e tua propria mente. Debabrata Basu..., que te ensinou a procurar o que importante no fundo do teu coracao. Voce teve o privilegio de ter grandes mestres, privilegio que fizeste por merecer pelo teu trabalho, autentico e original, ao longo de tua vida. So assim, como te ensinaram teus mestres, vale a pena fazer ciencia (ao menos na academia). Para resolver probleminhas tecnicos e implementar modeloes para os outros, eu trabalharia no mercado financeiro, pois isto so me vale fazer pelo vil metal. Boa noite a todos, ---Julio Stern
> Date: Fri, 9 Jan 2015 23:49:54 -0200
> From: cpereira em ime.usp.br
> To: ABE-L em ime.usp.br
> Subject: [ABE-L] Sobre lixo acadêmico
>
>
> Meus caros redistas:
> O primeiro artigo publicado na VEJA já foi uma agressão a nossa vida
> acadêmica. Lutamos muito para chegar ao nível que hoje temos, já foi
> muito difícil e muito árduo. O comentário pejorativo de muitos de
> nossos colegas é a justificativa que usam para a falta de
> produtividade própria. Sobre o artigo da folha de São Paulo, chamar
> de lixo acadêmico o que se produz no Brasil me da sim um arrepio
> grande, pois a pessoa para definir algo tem de ter lido tudo, o que
> não é o caso com certeza! Alguns artigos que meu irmão colocou na
> rede mostram que a maioria dos artigos publicados no mundo é inútil e
> talvez até lixo. Não é propriedade brasileira a produção de lixo. Em
> nossa área, por exemplo, a quantidade de artigos com poucas citações
> ou autoexcitações é grande.
>
> Vou evidentemente desconsiderar esses comentários terríveis que tenho
> visto por ai. Gostaria de me dirigir aos pobres jovens acadêmicos que
> estão tentando fazer carreira acadêmica digna em nosso contexto.
>
> Meu autor preferido é o Nelson Rodrigues e em um dos seus textos ele
> comenta sobre o inicio de sua carreira teatral. Manuel Bandeira,
> crítico de um jornal, era um grande nome da intelectualidade
> brasileira. Bandeira fez um elogio grande a uma das obras de Nelson
> que evidentemente ficou lisonjeado. Claro que na próxima peça quis
> ouvir a avaliação do mestre maior e não teve a mesma recepção. Depois
> de alguns trabalhos verificou que ele estava produzindo coisas
> dirigidas para aquele intelectual. Tinha esquecido que o que deveria
> produzir devia refletir o que pensava para mostrar ao público o que
> havia em seu coração e em sua mente. Hoje vejo que os nossos queridos
> pesquisadores escrevem objetivando as revistas famosas - que também
> publicam muito lixo – esquecendo o que na verdade pensam e fazem no
> dia-a-dia. Percebi que também estávamos sofrendo disso no primeiro
> artigo que escrevi com o Josa depois de nossa volta do exterior.
>
> Enviamos um artigo para o ISR – na época uma revista de prestígio –
> cujo editor era um grande cara, Bardorff-Nielsen. Um ano depois
> escrevi para ele cobrando o resultado da avaliação de nosso trabalho.
> Pediu-me desculpas, pois tinha recebido um referato de um dos
> avaliadores dizendo que todos já sabiam daquilo. Ele então questionou
> o avaliador e enviou para outros dois avaliadores. Nosso artigo foi
> publicado com dois anos de atraso e recentemente verifiquei que na
> mesma época orientador e aluno de uma importante escola americana
> haviam publicado um artigo na mesma época com toda a notação igual a
> nossa e a maior parte de nosso material estava ali. Tanto orientador
> como aluno são hoje as pessoas de mais destaque na área de amostragem.
> Não fosse pelo editor, quem iria acreditar que os tupiniquins haviam
> feito primeiro. Assim decidi que tudo que tivermos de novidade, e
> creio que tive MUITAS, devemos tentar sim numa boa revista e se vier
> com elogio, mas dizendo que não é para aquele fórum, publique rápido
> mesmo que seja no arxive. O problema do arxive é que não possui
> avaliadores e assim apenas pessoas muito interessadas fuçam ali, mesmo
> com nomes de tupiniquins. Mas por favor, publiquem em revista de
> impacto razoável mesmo não sendo as de ponta.
>
> Andei pelo mundo da ciência e conheci grandes brasileiros –
> Frotta-Pessoa para mim foi um dos grandes que mesmo VELHINHO me
> ensinou muito – pesquisadores de primeiro mundo. Posso afirmar a
> vocês meus caros que escrever tudo que pensam e acreditam são o que
> faz de vocês verdadeiros cientistas. Se for ruim alguém vai te
> questionar. Se for bom, não espere de colegas elogios, pois não
> virão. Mas escrevam, pois o trabalho mais árduo de um acadêmico é a
> escrita. Acho ruim é ficarmos atrelados apenas à moda e ser
> participante apenas por resolver pequenos problemas técnicos. Frotta
> me ensinou que as pessoas são divididas em dois grupos, os genuínos e
> os cretinos! Faça sua escolha meu filho, o pedia para nós.
>
> A academia americana hoje sofre muito com o fato de um tenure track
> estar com um longo prazo de 10 anos. O indivíduo vira um escravo dos
> grandes nomes e quando chega ao final se não fez novidade não continua
> naquele departamento considerado de alto nível, mesmo quando possui
> muitas publicações em boas revistas. Ali as pessoas olham é a
> contribuição real dos jovens em TT. Imaginem alguém se matando para
> resolver pequenos problemas técnicos de pesquisas de titulares e
> quando chegam ao final do período não tenham publicado a novidade que
> poderia ter vindo do seu coração e da sua mente. Vai ser jogado no
> lixo da concorrência por novo período de experimentação. Já vimos
> isso acontecer!
> Imaginem vocês que tenho três artigos em revistas da Scientific
> Research Publishing – scirp, vários na ENTROPY da MDPI, vários em GMR,
> e alguns na Clinics: As editoras mais criticadas pelo artigo da
> revista VEJA! Estou muito honrado em ser editor associado tanto da
> ENTROPY como da GMR. As duas tem bom índice de impacto e seus
> editores são pessoas que conheço e respeito muito. É claro que também
> ali pode haver papers ruins assim como na nature que vez por outra
> pede desculpas por publicações errôneas. Um dos papers que enviamos
> para a BA, por exemplo, voltou com elogios à matemática, computação e
> pasmem ao inglês. No entanto não era artigo de interesse no momento!
> Mandamos para OJS e fomos muito bem tratados ali. Certa vez eu e um
> aluno chileno tivemos um paper aceito no annals of estatístics, depois
> de nossas correções reenviamos para o novo editor que nos disse que já
> não havia interesse no artigo. Publicamos o artigo, uma parte no
> nonparametrics e outra no multivariate. Um ano depois apareceu um
> artigo no annals com a nossa notação que nos proporcionou a extensão
> para os modelos multivariados. Certamente os autores não eram
> tupiniquins. Poderia contar muitas outras coisas para justificar
> minhas escolhas. O artigo que publicamos na revista chilena estava
> aceito em uma ótima revista de Berkeley, no entanto apareceu a chance
> de homenagear a Pilar que foi uma de minhas alunas. Achei que ela
> merecia um bom paper na revista em sua homenagem. O pessoal da
> revista que havia aceitado nosso artigo não me perdoa até hoje.
>
> Como sou muito velho tenho bastante história para contar. Assim, meus
> caros, eu quero dar um conselho: escrevam tudo que acreditam e que
> gostam. Envie para uma revista, que seus mentores acreditam ser o
> top. Depois que vier a negação, muitas vezes de caras que não leram o
> paper só o nome dos tupiniquins, verifique se convencem você da
> justiça do resultado. Caso se não concordem publiquem o mais rápido
> possível em outra revista não tão badalada. Não me arrependo de ter
> feito isso em minha vida. Meus índices de produtividade são dos
> melhores dentre as pessoas de minha área. É claro que sempre haverá
> uma explicação com desmerecimento, mas o que vale é o que está gravado
> ali no CNPq, no Google ou no researchgate.
>
> Sobre o pagamento para publicação posso afirmar que mesmo boas
> revistas custam mesmo muito caro. Na minha última publicação do
> PlosOne foi minha vez de pagar dentre os membros do grupo. 1600
> dolares foi o que me cobraram! As revistas BMC (bioinformatics,
> genetics etc) também são muito caras. Mas eu reclamos muito e algumas
> delas como a bioinformatics me livrou de pagamento. Na genetics
> consegui redução de 50%. Já nessas outras menos badaladas eu não pago
> nas que sou editor associado e na clinicas eu Tb não tenho despesas.
> Nosso ultimo paper na scirp me descontaram 75% e paguei 300 dólares o
> que não é lá muito ruim. Com outros paguei 500 dólares o que me
> pareceu tb bem razoável. Mas eu choro e digo que não tenho condições
> de pagar o que querem. Todos em Open Access!
>
> Aceito sim críticas sobre lixo que eu possa ter produzido, mas para
> críticas sobre a beleza da revista e não do artigo nem precisam se
> dirigir a mim. Críticas inúteis e com desmerecimento! Em um dos
> artigos do ano passado, uma aluna do Butantan depois de voltar para
> sua terra natal, com a pressão para publicação viu uma revista da
> editora Green Journals e mandou o artigo, que posso dizer lindo. O
> artigo foi publicado e a revista até a poucos meses tinha apenas o
> nosso artigo e não foi para frente. Tenho dois artigos maravilhosos,
> em minha opinião é claro, em que as revistas desapareceram. São dois
> artigos muito citados por gente muito boa. Um na revista brasileira
> de genética e outro na JRSS C – the statistician. Os dois artigos são
> muito requisitados, pois são muito bons.
>
> All I have written was under my skin!!!!!! I am proud of my little
> and unimportant papers! Thats all I have to offer from the botton of
> my heart!
>
> Saudações
> Carlinhos
>
> --
> Carlos Alberto de Bragança Pereira
> http://www.ime.usp.br/~cpereira
> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> Stat Department - Professor & Head
> University of São Paulo
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