[ABE-L] edital da FSP de 23 de março de 2015

Luis Paulo Braga lpbraga em geologia.ufrj.br
Qui Mar 26 12:23:41 -03 2015


*Ciência em revista*

Sete meses depois de realizada, a 3ª Conferência Internacional de
Engenharia Civil e Arquitetura, organizada pela Unicamp, ganhou o
noticiário --mas não pela influência científica que possam ter exercido os
artigos ali apresentados.

Como mostrou reportagem desta Folha, ao menos 30 pesquisadores brasileiros
"turbinaram" indevidamente seus currículos com os trabalhos expostos no
encontro.

Em vez de reuni-los como anais de congresso, como seria o procedimento
padrão, a editora chinesa IACSIT (International Association of Computer
Science and Information Technology) os publicou como artigos em uma de suas
revistas científicas. Com a manobra, atribuiu às pesquisas um status mais
elevado no mercado acadêmico.

Parceira na realização do evento, a IACSIT integra uma lista dos chamados
periódicos predatórios, publicações cujo principal fator para a seleção de
artigos é o pagamento de uma taxa pelos autores.

Nas revistas conceituadas, os trabalhos passam por um rigoroso julgamento
pelos pares ("peer review"). Essa análise não está livre de falhas, mas,
sendo feita de forma anônima por pesquisadores de notória competência,
busca garantir que a rejeição ou a aprovação do artigo se baseie apenas no
mérito.

A presença das publicações predatórias na rotina universitária brasileira
está longe de circunscrever-se a esse caso isolado.

Pelo menos 201 desses periódicos integram o Qualis, base da Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, órgão do
Ministério da Educação) que classifica o impacto de cerca de 30 mil
revistas científicas.

Além de orientar pesquisadores na escolha de publicações para seus
trabalhos, a classificação pesa na avaliação dos cursos de pós-graduação e
no julgamento de concursos e de bolsas para pesquisa.

O fato de o Qualis listar revistas desprestigiadas e praticamente
desconsideradas pela comunidade científica mundial mostra mais do que a
vulnerabilidade da avaliação realizada pela Capes.

Evidencia sobretudo a expansão deletéria de padrões inferiores de
comunicação acadêmica, com óbvio prejuízo para a produção científica
nacional.

Enfrentar essas questões vai além de uma necessária revisão na
classificação brasileira de periódicos. Trata-se de debater os impactos de
uma política que nos últimos anos privilegiou a quantidade em detrimento da
qualidade.
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <https://lists.ime.usp.br/archives/abe/attachments/20150326/114e3933/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão abe