[ABE-L] Pobre de "NÓS"

[Carlos Alberto de Bragança Pereira]

[São muitos os cidadãos que perdem a opinião por falta de uso.  
(Eduardo Galeano)]

Caros redistas:
Essa é a minha primeira semana como aposentado. No lugar de estar  
feliz estou de fato angustiado.  Tanta coisa errada para pensar em  
corrigir e nos sentimos de mãos atadas.  Achei que poderia escolher  
algo para ajudar a quem sempre paga nosso salário.  Como participar é  
a dúvida que nos apresenta.  Entendi, por enquanto, que fazendo o que  
sabemos talvez seja mesmo a melhor forma de colaborar.

Pensem vocês que a USP tem um sistema de escolha de Reitor e Diretores  
de Institutos que dizem não ser democrático e logicamente ÊLES querem  
mudar.  Nelson Rodrigues usava ÊLES para quem estava do lado oposto ao  
dele.  Eu também penso assim das pessoas que querem mudar para um  
sistema como o da UFRJ.  Prefiro a forma que está hoje.  Não posso  
pensar que um menino que entra hoje na Universidade tenha a mesma  
força de um voto de quem está na USP por 46 anos e que presenciou  
quase tudo sobre a vida acadêmica.

Mas a minha angustia na verdade é ver o que hoje acontece no mundo.   
Evidentemente que a foto do menino nos braços de um militar nos choca  
muito.  A mídia dá uma grande ênfase nesta foto com razão.  Contudo  
estamos aqui no Brasil com uma situação infantil tão ruim ou até pior  
do que a que estão vivendo outras crianças no mundo.  No entanto não  
falamos muito sobre isso.  Falo isso por remorso meu mesmo.  O meu  
amigo Zé e eu, outro dia em casa, conversávamos sobre o que está  
acontecendo com o povo que chega à EUROPA.   Fiz eu um comentário puxa  
que povo bonito e o Zé sob o efeito da peculiaridade em seu modo  
crítico imediato falou “e se fossem feios?”.  O preconceito  
inconsciente ainda não saiu de mim que teve a sorte da infância no  
Leblon e depois veio para a vida paulistana em bairros BONS.

Vi também uma passeata de chefes de estado em Paris quando da  
violência com os Jornalistas e ao mesmo tempo muitos na áfrica estavam  
morrendo devido à agressão de grupos religiosos de extermínio.  Para  
esses não houve passeatas de chefes de estado!  Fiquei angustiado com  
essa forma de o mundo “SÓ se importar com quem é importante”. Não sei  
sobre minha atuação futura neste mundo em CAOS!

Perdoem-me os amigos da rede, mas fica mesmo mais fácil se indignar  
com as coisas que nos afetam diretamente ou que estão mais perto de nós.

Vendo a Globo News ontem ouvi um poema lindo feito por um dos  
repórteres que estavam filmando as tristezas dos desembarques.  O  
título era “O Menino na Praia”.  Não consegui achar na internet e nem  
ouvir novamente para passar para a rede.  Talvez a coisa caseira não  
seja boa para a nossa mídia.  Por favor, se alguém achar compartilhe  
com a gente.

Obrigado pela atenção

-- 
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo