[ABE-L] Usos e abusos dos números

poliveir em ime.usp.br poliveir em ime.usp.br
Qua Dez 27 10:22:37 -03 2017


Prezado vermelho

Bem lembrado, inclusive já utilizei e muito dos dados do IBGE,  
principalmente dos dados do último censo que foi em 2010 para os dados  
dos respondentes sorteados para compor a amostra.

Saudações,

                  Paulo Tadeu de Oliveira.



Citando Vermelho <vermelho2 em gmail.com>:

> As vezes pode valer a pena "passear" pelo site do IBGE!
>
> Vermelho
> F.: (21) 2501 2332 - casa
>            2142 0473 - IBGE
>
> Em 27 de dezembro de 2017 09:16, <poliveir em ime.usp.br> escreveu:
>
>> Prezados colegas
>>
>> O mesmo comigo acontece com a questão das pessoas com deficiência com
>> dados que estão digamos escondidos sem saber onde eles estão e também com
>> dados que muitas vezes não são tratados corretamente por erros ou mesmo de
>> forma premeditrada visando a outras intenções.
>>
>> Saudaçõies,
>>
>>                  Paulo Tadeu de Oliveira
>>
>>
>>
>> Citando Maria Eulalia Vares <eulalia em im.ufrj.br>:
>>
>> Parabéns a Hedibert e Tatiana pelo artigo! Agradeço também a Denise pelos
>>> dados.
>>> Eles estavam aí disponíveis, mas a gente nem sempre sabe one buscar e às
>>> vezes fica
>>> tendo que argumentar sem a clareza que estes dados conferem.
>>>
>>> Feliz 2018 para todos.
>>>
>>> Eulalia
>>>
>>> ---------- Original Message -----------
>>> From: Denise Britz do Nascimento Silva <denisebritz em gmail.com>
>>> To: Alexandre Patriota <patriota.alexandre em gmail.com>
>>> Cc: abe-Lista <abe-l em ime.usp.br>
>>> Sent: Fri, 22 Dec 2017 16:23:29 -0200
>>> Subject: Re: [ABE-L] Usos e abusos dos números
>>>
>>> Alexandre  e Hedibert
>>>>
>>>> é verdade que podemos diminuir a desigualdade sem reduzir a pobreza, ou
>>>> podemos manter a desigualdade mesmo ficando todos em pior situação
>>>> econômica.
>>>>
>>>> Para contribuir no debate, peço que vejam o gráfico 4.8 da publicação
>>>> Síntese de Indicadores Sociais do IBGE 2016 - que compara o acesso dos
>>>> estudantes mais pobres ao ensino público superior ( que reproduzo abaixo).
>>>>
>>>> https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf
>>>>
>>>> O gráfico indica que, ao considerar a distribuição do rendimento
>>>> domiciliar per capita de estudantes da rede pública de ensino  
>>>> superior,   a
>>>> parcela proveniente das famílias mais pobres aumentou ao longo de 10 anos,
>>>> fornecendo evidência de que a população de estudantes do ensino público
>>>> superior  é composta proporcionalmente de mais jovens de famílias  
>>>> com menos
>>>> recursos financeiros (que estão conseguindo alcançar o ensino superior
>>>> público) .
>>>>
>>>> Ao mesmo tempo, o gráfico 6.3 indica uma leve tendência da renda
>>>> domiciliar per capita mediana (todos os valores corrigidos pela inflação
>>>> para base 2015). Deve-se também reconhecer a queda de 2014 para 2015.
>>>> Adicionalmente,  o gráfico 6.4 indica que a parcela da população com
>>>> rendimento domiciliar per capita mais baixo diminui, se deslocando para
>>>> estratos de rendimento superiores adjacentes (mas também houve leve queda
>>>> nos estrato superior).
>>>>
>>>> Acredito que, unindo as evidências, ainda  é possível concluir que, de
>>>> 2005 a 2015, as famílias brasileiras não ficaram mais pobres,  
>>>> houve aumento
>>>> real de rendimento. Acho então que as famílias dos estudantes não ficaram
>>>> mais pobres, entretanto mais estudantes de famílias pobres alcançaram o
>>>> ensino superior, indicando  mudança de composição da população de
>>>> estudantes do ensino superior público.
>>>>
>>>> Lembro que os dados referem-se à década 2005-2015.
>>>>
>>>> Abraços e seguem os gráficos.
>>>> Denise
>>>>
>>>>
>>>> Em 22 de dezembro de 2017 14:05, Alexandre Galvão Patriota <
>>>> patriota.alexandre em gmail.com> escreveu:
>>>>
>>>>
>>>> Parabéns ao Hedibert e a Tatiana pelo artigo.
>>>>
>>>> Sobre o último parágrafo:
>>>>
>>>> ``Se o objetivo é corrigir as desigualdades do ensino superior público,
>>>> játemos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o percentual de
>>>> estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 27%,ao
>>>> passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de cotas
>>>> ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só poderão ser
>>>> medidos em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é expandir e
>>>> aprimorar essa política que, em virtude do comprovado aumentosalarial dos
>>>> formados, provoca uma efetiva e duradoura redução das desigualdades.´´
>>>>
>>>>
>>>> Corrijam-me se eu estiver errado, mas: se o percentual de estudantes com
>>>> renda familiar entre [0,3] aumentou 27% e o percentual de estudantes com
>>>> renda familiar entre [7,inf) diminuiu 37%, então podemos afirmar que em um
>>>> certo sentido as famílias dos estudantes estão mais pobres. Não quero
>>>> entrar nos detalhes filosóficos das teorias econômicas, mas me  
>>>> parece claro
>>>> que diminuir a desigualdade financeira não é o mesmo que diminuir  
>>>> a pobreza.
>>>>
>>>> 2017-12-22 9:22 GMT-02:00 Hedibert Lopes <hedibert em gmail.com>:
>>>>
>>>>
>>>> Usos e abusos dos números
>>>> Por Hedibert Lopes e Tatiana Roque
>>>>
>>>> http://www.valor.com.br/opiniao/5235489/usos-e-abusos-dos-numeros
>>>>
>>>> A regressividade dos gastos com ensino superior público é apontada
>>>> frequentemente como justificativa para a cobrança de mensalidades. O
>>>> relatório recente do Banco Mundial afirma, por exemplo, que 65% dos
>>>> estudantes das universidades federais estão entre os 40% mais ricos. Quem
>>>> são esses "mais ricos"?
>>>>
>>>> Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015 mostram
>>>> que nesse grupo de 40% "mais ricos" estão pessoas com renda per capita
>>>> média de R$ 960,00. O Banco Mundial não define a partir de que renda se
>>>> pode designar um grupo como o dos mais ricos, nem justifica o  
>>>> foco nos 40%.
>>>> Poderíamos selecionar os 30% mais ricos, que ganham acima de R$ 1.200,00;
>>>> ou os 20%, que ganham acima de R$ 1.700,00. A renda média desses grupos
>>>> difere pouco. De fato, a distância só aumenta quando selecionamos os 10%
>>>> mais ricos.
>>>>
>>>> Suponhamos que fossem cobradas mensalidades dos estudantes que realmente
>>>> têm condições de pagar, escalonadas de acordo com a renda. Usando os dados
>>>> da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
>>>> Superior (Andifes), verificamos que 81% dos estudantes vêm de famílias com
>>>> renda bruta familiar inferior a R$ 6.500,00, logo não poderiam pagar. Na
>>>> faixa de renda familiar bruta entre R$ 6.500,00 e R$ 9.300,00 estão 9% dos
>>>> estudantes (de um total de aproximadamente 1 milhão, somando-se todas as
>>>> universidades federais do país). Superestimando a capacidade de desembolso
>>>> em 15%, essas famílias pagariam uma mensalidade de R$ 1.200,00, perfazendo
>>>> R$ 1,3 bilhão no total. Já a faixa com renda familiar bruta acima de R$
>>>> 9.300,00 compreende 10% dos estudantes, mas é preciso analisar
>>>> detalhadamente a distribuição de renda nessa faixa.
>>>>
>>>> O estudo da desigualdade feito pela Oxfam mostra que, no topo da
>>>> população, reproduz-se a aberrante desigualdade brasileira: as  
>>>> famílias 10%
>>>> mais ricas têm rendimentos médios de R$ 18.000,00, sendo o  
>>>> rendimento médio
>>>> das famílias 1% mais ricas de R$ 160 mil. Logo, mantendo nossa estimativa
>>>> do valor da mensalidade em 15% da renda familiar, obtemos que 9% dos
>>>> estudantes pagariam R$ 2.700. Já os 1% mais ricos pagariam R$ 4 mil - o
>>>> valor da mensalidade nas melhores universidades privadas. Somando-se, ao
>>>> fim, todas as mensalidades possíveis, chegamos a um total de R$ 4,7
>>>> bilhões, ou seja, em torno de 11% do orçamento anual das universidades
>>>> federais (de R$ 41 bilhões). Devemos lembrar, contudo, que é necessário
>>>> subtrair desse percentual o custo de se verificar quem pode ou não pagar
>>>> (uma operação complexa), além do custo de administrar a cobrança. Na
>>>> verdade, implementar medidas para melhorar a administração da universidade
>>>> - o que não contradiz seu caráter público - poderia ser
>>>>
>>>   bem mais efetivo.
>>>
>>>>
>>>> Resumindo, cobrar mensalidades ajudaria pouco a enxugar o orçamento
>>>> público e o Banco Mundial parece ter forçado os números para nos convencer
>>>> do contrário. O cerne da disputa está nas faixas intermediárias, que nem
>>>> podem realmente pagar nem entram na categoria de pobres (para fazer jus a
>>>> bolsas). A solução ventilada para esse grupo de renda média é o crédito,
>>>> que já mostrou efeitos perversos nos EUA e na Inglaterra, levando a um
>>>> grave endividamento de estudantes - comprometendo o futuro de jovens que
>>>> sequer ingressaram no mercado de trabalho.
>>>>
>>>> Do ponto de vista matemático, o problema é que a curva de distribuição
>>>> de renda no Brasil é extremamente assimétrica (quase linear até o decil
>>>> mais alto), em nada semelhante a uma curva normal.
>>>>
>>>> Dito de modo menos técnico, as faixas de renda intermediárias dos
>>>> brasileiros são muito similares - e excessivamente baixas. Isso  
>>>> torna pouco
>>>> rigorosa a separação entre "mais ricos" e "mais pobres", sob o risco de
>>>> distinguir quem ganha R$ 960 por mês de quem ganha R$ 800. Só um critério
>>>> qualitativo pode estabelecer a partir de que renda alguém pode ser
>>>> considerado "não pobre".
>>>>
>>>> É positiva a tendência de analisar políticas públicas usando
>>>> estatísticas. Deve-se tomar cuidado, todavia, com a dissociação entre
>>>> informações quantitativas e qualitativas. A postura científica aconselha o
>>>> uso de estatísticas para confirmar ou refutar perguntas em aberto. Mas as
>>>> definições dos termos do problema, com impactos sociais significativos,
>>>> precisam levar em conta o ideal de sociedade que se quer construir.
>>>>
>>>> Se o objetivo é corrigir as desigualdades do ensino superior público, já
>>>> temos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o percentual de
>>>> estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 27%, ao
>>>> passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de cotas
>>>> ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só poderão ser
>>>> medidos em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é expandir e
>>>> aprimorar essa política que, em virtude do comprovado aumento salarial dos
>>>> formados, provoca uma efetiva e duradoura redução das desigualdades.
>>>>
>>>> Hedibert Lopes é professor titular de Estatística e Econometria do
>>>> Insper e foi Professor da Booth School of Business da Universidade de
>>>> Chicago
>>>>
>>>> Tatiana Roque é professora do Instituto de Matemática da UFRJ e foi
>>>> presidente da Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ)
>>>>
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>>>> Prof. Dr. Alexandre G. Patriota,
>>>> Department of Statistics,
>>>> Institute of Mathematics and Statistics,
>>>> University of São Paulo, Brazil.
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