[ABE-L] Dia do Professor
Carlos Alberto de Bragança Pereira
cpereira em ime.usp.br
Seg Out 16 02:33:54 -03 2017
Lilian pela manhã me perguntou se eu havia recebido alguma mensagem
sobre o dia de hoje (ontem pelo horário de agora), dia do professor.
O não de minha resposta foi um pouco triste. No entanto a noite,
tendo ficado muito feliz, recebi mensagens de colegas e ex-alunos. A
gente fica emocionada com o que recebe nessas ocasiões. Ser lembrado
depois de aposentado é sempre uma grande alegria. Algumas mensagens
foram muito boas para meu EGO. Aliás o afago ao EGO é atualmente o
único ganho que um professor ou cientista tem nesse nosso pais. Nós
professores universitários temos como ganho real apenas a liberdade de
trabalho e as vezes o reconhecimento por nosso trabalho. Liberdade
essa que vem sendo diminuída pelas regras malucas que nos estão
impondo os nossos colegas de comitês de CAPES/CNPq.
O discurso de que “multidisciplinaridade é o futuro da ciência” não
entra na cabeça de colegas que dão muito mais valor ao trabalho
restrito às pequenas áreas e ou disciplinas. ENTROPY, IEE ou PlosOne
receberem baixo QUALIS é realmente inaceitável. Revistas de baixo
Fator de Impacto recebem alto QUALIS enquanto algumas de BOM impacto
como essas três citadas recebem Baixo QUALIS. Isso é inaceitável
considerando que são nossos próprios colegas que definem as regras. O
objetivo de um jovem pesquisador deveria ser produzir boa pesquisa e
não o de publicar em revistas de alto QUALIS. Publicar um artigo
deveria ser consequência de um bom trabalho de pesquisa e não deveria
ser o objetivo principal de um cientista. “O objetivo deveria ser sim
a produção de um bom trabalho de pesquisa: Publicação deveria ser
apenas a consequência.” De que adianta uma publicação que quase
ninguém lê mesmo publicada em revistas de alto QUALIS? Prefiro
valorizar uma publicação com muitas citações mesmo aparecendo em
revista de baixo QUALIS. Por exemplo, nosso artigo estatístico mais
citado (incluindo no JASA) foi publicado no volume 1 da ENTROPY em
1999. Hoje essa revista tem um bom fator de impacto considerando que
é uma revista da área de exatas. Contudo, tem um baixo QUALIS –
QUALIS inferior a revistas com fator de impacto menor do que 1 –.
Voltando ao dia do professor, o meu amigo e colega Kolev me enviou o
seguinte: “Quem compartilha o que sabe muda a história de quem
aprende. FELIZ DIA DO PROFESSOR”. Vejam que não foi usado a palavra
ensinar. Penso que o sentido que se dá palavra ensinar é equivocado.
Ao compartilhar nosso conhecimento não garantimos que um aluno
aprende. O aluno aprender é sim uma possibilidade e não uma garantia.
Se o aluno não aprende então não foi ensinado. Essa é uma
perspectiva muito pessoal, pois sempre me preocupo se o aluno
realmente aprendeu.
Termino essa longa conversa dizendo que fiquei muito honrado em ter
sido a pessoa que fechou a reunião XV MGEST que homenageou os colegas
DANI e ENRICO. Homenagem muito merecida aos 60 anos desses colegas.
Minha palestra como sempre foi sobre trivialidades em contraste com os
trabalhos mais profundos desses colegas. Creio que o convite para
falar nesta reunião foi pela minha profunda admiração pelo trabalho
desses dois professores. No inicio de minha fala lembrei que eles já
tiveram a metade de minha idade e que hoje já não é assim Isto é, a
série das razões de nossas idades vai convergir para um se fossemos
imortais. No entanto, se a razão fosse calculada com um índice de
competência certamente seria inferior à unidade. Talvez a
imortalidade faria a razão convergir para zero.
Também no inicio de minha fala comentei sobre o patrimônio que um
setentão carrega; Dores, Surdez, Próteses, mas primcipalmente e com
muito valor as lembranças e as saudades. Ao comentarmos sobre nosso
passado, lembramos, eu e Dani, que fiz parte da banca de mestrado
dele. Imediatamente nos transferimos para aquele tempo como se fosse
ontem. Lembramos do Professor Bustos e de minhas onversas com ele e o
Dani quando este estava escrevendo a dissertação. Saudade de quando
tinhamos vontade de construir um futuro produtivo. Certo autor disse
que nossas lembranças muitas vezes são de fatos que gostaríamos de ter
vivido não apenas os que realmente foram vividos. Temos a capacidade
de eliminar de nossas mentes as dificuldades que na verdade poderíamos
ter vivido. Lembremos que ao ter uma dor de dente sofremos muito, no
entanto assim que retiramos a dor com um tratamento, aquela dor fica
esquecida pois não conseguimos lembrar exatamente como era. Não
conseguimos mostrar aos amigos como a dor era sofrida. Assim são
todas as nossa lembranças e saudades.
Vida longa meus caros ENRICO e DANI.
--
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo
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