<div dir="ltr"><div>O artigo abaixo contém, creio, uma reflexão relevante. Aqueles que trabalham em universiidades públicas brasileiras e que estão comprometidos com atividades de pesquisa precisam, em caráter quase cotidiano, dividir seu tempo com tarefas que nada têm a ver com pesquisa, ensino e orientação de alunos. Precisam desempenhar tarefas de secretariado, cuidar de tarefas básicas e não tão básicas de informática, gastar tempo e esforço para enviar uma correspondência via SEDEX, resolver problemas relacionados à manutenção e ao conserto de equipamentos, cuidar de compras de passagens aéreas e reservas de hotel, elaborar, sem qualquer apoio administrativo, relatórios e prestações de contas de projetos de pesquisa e de organização de eventos e a lista segue. As atividades de pesquisa e até mesmo as atividades de ensino do docente terminam sendo, em alguma extensão, afetadas negativamente. Precisamos caminhar para uma estrutura organizacional mais eficientes em nossas universidades públicas. Fica a reflexão. <br><br></div>Abraços, FC  <br><div><br><br>Folha de São Paulo, 24 de maio de 2016 <br><br>Ciência eficiente<br><br>Suzana Herculano-Houzel<br><br>Ah, como é bom poder fazer meu trabalho. Minha nova casa, a Universidade Vanderbilt, é uma universidade particular nos EUA, e como tal pode ser administrada como qualquer empresa preocupada com eficiência. Isso significa que pessoas treinadas em administração fazem seu trabalho de administrar, e pessoas treinadas em pesquisa podem fazer seu trabalho de pesquisar.<br><br>Deveria parecer óbvio, mas os 14 anos que passei na UFRJ e a experiência compartilhada por inúmeros colegas mostram que esse não é o caso nas universidades públicas do Brasil, nossos centros de excelência em pesquisa. Nelas, cientistas perdem tempo tendo que improvisar nas funções de administrador, agente de compras e viagem, contador, técnico em informática, eletricista e o que mais for necessário. Tipicamente, não contamos com apoio estruturado nas universidades -ou ele não é nem eficaz nem eficiente. Somente professores titulares na UFRJ contam com apoio secretarial.<br><br>Ao contrário, em poucos dias na Vanderbilt, já conto com o apoio de uma pessoa que cuida de compras (basta eu enviar um link do produto desejado), outra que gerencia meus fundos para pesquisa (e sabe o quanto eu gastei por meio do responsável pelas compras), mais uma que resolve tudo relacionado a TI (e providenciou um IP fixo para um computador no dia seguinte). Temos um sistema on-line de reembolso de pequenas despesas e uma agência de viagens à disposição.<br><br>Em meu instituto na UFRJ, levei meses para conseguir um IP fixo -que foi desconfigurado semanas depois. Uma tentativa de montar um serviço de contabilidade que fizesse nossas prestações de contas deu por água por conta da tentativa do instituto de cobrar uma porcentagem do valor dos auxílios administrados, o que as agências de fomento não autorizam. Eu era tratada como ladra quando tinha que provar na Faperj que havia de fato viajado a trabalho, apresentando um sem-fim de comprovantes.<br><br>Mas concluir que universidades públicas não podem ser administradas eficientemente por serem públicas seria uma falácia; aqui nos EUA universidades públicas como a da Califórnia dão o exemplo. Claro que a impossibilidade de punir ou desligar funcionários ineficientes no sistema brasileiro não ajuda. Mas vontade institucional ainda assim poderia ir longe se montasse um sistema que permitisse aos cientistas apenas fazer ciência. <br><br></div></div>