<div dir="ltr"><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Caros redistas,</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Concordo com o Adriano no seguinte resumo: a questão da Educação no Brasil não se esgota dentro da Escola. Há muitos fatores externos que influenciam o aprendizado e ao final o resultado da educação - a literatura já existente no Brasil demonstra isso de forma contundente.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Entretanto, não avançaremos muito se por reconhecer essa realidade, deixarmos de discutir e buscar melhorias também no que acontece dentro da Escola.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Fizemos bom progresso em oferecer 'escola para todos'. As taxas de cobertura do ensino fundamental no Brasil alcançaram patamares que nos permitem reconhecer essa melhoria.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Por outro lado, ainda temos parcela substancial da população frequentando escolas que operam em turnos de meio dia (manhã, tarde ou mesmo noite), inclusive para o ensino fundamental. Logo o número de anos que uma criança passa na escola no Brasil devia ser ajustado pelo tempo que de fato ela tem dentro do sistema escolar, pois crianças frequentando escola de tempo integral terão bem mais tempo que as das escolas de turnos. Essa estatística ainda não é produzida assim, e portanto, temos dados incompletos sobre o tema.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Nos países que se saem melhor no PISA, esta é uma questão superada. A grande maioria das crianças frequenta escola de tempo integral.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Na sequência precisamos reconhecer as dificuldades com a qualidade da educação oferecida em muitas escolas. Nossas escolas têm certamente muito que fazer nessa questão, mas vão precisar de grande apoio da sociedade para isso. </div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Não vai ser pagando salários de professor do ensino fundamental como os que temos hoje, nem com a baixa valorização que tem a carreira docente na escola fundamental. Ter um filho que vira professor universitário é motivo de orgulho dos pais, mas quando o filho vira professor do ensino fundamental o mesmo não ocorre... Até quando?</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Não tenho respostas. Mas creio que para resolver problemas, a fase mais importante é acertar nas perguntas.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Então vamos continuar debatendo: ao menos, já passamos da fase de negar que temos problemas...</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Saudações dominicais a todos.</div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:verdana,sans-serif">Pedro.</div></div><div class="gmail_extra"><br><div class="gmail_quote">Em 10 de dezembro de 2016 09:29, Adriano Polpo de Campos <span dir="ltr"><<a href="mailto:apolpo@ime.usp.br" target="_blank">apolpo@ime.usp.br</a>></span> escreveu:<br><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">Car(a)os redistas,<br>
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Desculpem minha longa mensagem e possíveis erros de português. Acredito que eu fujo um pouco do tema PISA, mas já li muitas discussões nesta lista sobre diversos assuntos do nosso cotidiano. Não consigo separá-los e por isso, resolvi escrever.<br>
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Sobre o resultado do PISA, comparando com outros países: desculpem-me, mas não vejo a mesma desgraça dos colegas. Não que eu ache que o ensino está bem no Brasil, mas não está nenhuma maravilha na Europa ou Estados Unidos, que tem bolinhas azuis. Não digo sobre a Ásia pois não tenho informações sobre estas localidades.<br>
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Eu morei nos Estados Unidos por 1 ano e conheço alguns professores universitários de lá. A realidade das universidades deles não é nem um pouco animadora. A qualidade dos alunos que entram são, a meu ver, piores do que os alunos que nós recebemos em nossas universidades. Claro, lá todos se formam na graduação, mas não podemos comparar as graduações, nós somos muito mais exigentes que eles (percepção minha). Tanto é que os programas de Doutorado (em estatística, ao menos) praticamente não tem americanos. São na maioria estrangeiros (chineses, indianos, leste europeu, ...), em geral, pessoas buscando melhores oportunidades.<br>
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Já na Europa, conheço também alguns professores universitários. Um deles relatou que um aluno do 3 ano (último ano!) de um curso de exatas não sabia limite, o conceito matemático de limite. Ele ainda enfatizou: "não estou dizendo derivada, integral, se soubessem somente limite já seria muito bom". Detalhe, um professor inglês me disse que integral e derivada era conteúdo do "ensino médio" deles, que um aluno de universidade entrava sabendo isso! Será?<br>
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Nós criticamos nossos alunos na universidade, sim, eu também o faço. Os próprios alunos o fazem. A frase mais comum é: "nossa, o que aconteceu, os alunos que estão entrando a cada ano estão piores". Agora, até onde eu sei, esta frase é dita desde os tempos de D.Pedro. A nossa percepção é sempre que o que estava antes era melhor e o que vem depois é pior. Minha bisavó, que era analfabeta, dizia isso sobre os netos dela (meus tios e pais). Que eles eram muito piores do que a geração dela. Só que os netos dela formaram-se em universidades. Quem tem razão? Para mim o fato é, existe diferença, no mínimo cultural, mas medir inteligência, não tento (claro, o objetivo do PISA não é medir inteligência e não é sobre isso que falo).<br>
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Obviamente, o PISA é sobre "crianças" de 15 anos. Logo, a comparação entre os alunos dos diversos países no nível universitário é injusto. Afinal, quantas universidades temos no Brasil? Selecionamos somente os melhores entre o todo. Talvez estes nossos melhores são melhores que os alunos da Europa e Estados Unidos, em que por lá, quase todos vão para universidade.<br>
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Neste caso, vou me referir aos Estados Unidos, que conheço um pouco mais. O nível de conhecimento do americano em geral, não é nenhuma maravilha. Eu não acredito que eles tenham um ensino excelente. O problema não é a escola, mas sim a pobreza. Eles tem sim uma condição de vida melhor que a nossa (como população). Consequentemente, as crianças conseguem ir para as escolas por mais tempo e bem alimentadas, em escolas com boas infraestruturas. Tudo é uma maravilha? Não, longe disso. Neste caso, talvez o resultado do PISA está refletindo outra coisa e não o ensino.<br>
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Acho que nós (sociedade, eu incluído) focamos muito no lugar errado para buscar a solução do problema. Por isso, raramente conseguimos resolver (ou temos a sensação que não há solução para o problema).<br>
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Para mim os problemas são:<br>
1) Justiça. País sem um sistema de justiça descente não tem como melhorar. (por justiça descente entenda: o povo com medo de ser punido respeita as leis. No brasil o medo da punição é muito baixo ou, se preferir, a certeza da impunição é quase unanime).<br>
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2) Condição de vida: Comida na mesa! Teto! Criança que não precise trabalhar.<br>
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3) Segurança Pública: Não ter medo de ir e vir. Vivemos em nossas prisões, com cercas elétricas defendendo nossas casas. Alarmes, câmeras de segurança, carros blindados, rotinas e atos de segurança (não sair a noite sozinho, trancar tudo, não andar a pé, evitar aquela região mais violenta, ...).<br>
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4) Ensino: condição de trabalho para o professor. Diminuir o tempo dentro de sala de aula, permitido que este prepare sua aula e tenha tempo para capacitação contínua. Salários mais atraentes. Professores, do ensino básico, deveriam ser os mais importantes de todos, os mais valorizados, é ali que a criança começa sua vida (minha opinião, apenas).<br>
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Sem 1, 2 e 3, é bem difícil conseguir o 4. Sem o 4, complicado será para termos 1 e 3. Sem 2, o 3 fica difícil de atingir... e por ai vai. Resumindo: não vejo como separar estas coisas. Notem que eu não incluí saúde em minha lista, não porque não acho importante, mas porque com os pontos acima funcionando, a saúde o povo reclama! Ok, pode ser simplista, inclua o item 5 saúde ou o inclua no item 2 (que não deixa de ser razoável). Mas todos os itens devem ser tratados e olhados ao mesmo tempo. Não podemos ser individualistas. Olhar nosso curral e dizer que o resto é problema dos outros.<br>
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Não sei se concordam com minhas reflexões. Acredito que esta seja a minha primeira manifestação nesta lista (para este tipo de assunto). Não pretendo fazer muitas outras (se é que farei outra). Eu tento fazer minha parte. Como professor universitário, eu incentivo e muito os meus alunos. Eu os incentivo a melhorar, a não tornarem-se os políticos que tanto reclamamos, nem os empresários que temos. (Acredito que tenha ficado claro no cenário atual que a corrupção não está no governo, mas sim na sociedade. Um político não consegue desviar verba, se não tiver uma empresa que seja contratada e o ajude nesta tarefa).<br>
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Se eu conseguir com que alunos sigam na honestidade, mesmo vendo a desgraça e o caminho "fácil" ao seu lado... Se eu conseguir que dois alunos o façam, já será muito bom. Se eu utilizar a ideia de marketing de pirâmide (que é terrível), se este dois conseguirem mais dois... já seremos 7. Agora, mesmo terrível o marketing de pirâmide, eu também preciso me enganar, para continuar acreditando que pode existir solução para o problema.<br>
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Talvez o que doa mais não é isso tudo. Hoje, praticamente temos uma única voz no Brasil inteiro: todos contra a corrupção! Não é lindo isso? Mas a corrupção continua... então, alguém está mentindo! Quem? Nós! O povo brasileiro. Essa é a tristeza maior. Não reclame dos políticos (apenas), olhe a seu lado, você está fazendo correto? Quando se paga 10 reais para um segurança de casa noturna, para evitar a fila, não é corrupção? O que isso incentiva? Que o dinheiro ganha sobre os outros... Quem pode mais... Que tudo tem um jeitinho... A mensagem que fica é mais forte que o valor. Se são 10 reais ou se são 10 milhões... roubo é sim ou não... não é quantidade.<br>
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Ai eu digo, que adianta uma escola boa se nós (sociedade brasileira) ensinamos o errado para nossas crianças todos os dias. A escola não vai resolver. O problema é nosso!<br>
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Porque não me manifesto, nem pretendo fazê-lo muitas vezes (se é que farei de novo): porque todos nós temos ideias e sugestões para solução, mas ficar discutindo e não colocá-las em prática é o mesmo que nada (esse é minha opinião). Antes de mais nada, espero ser justo (e quando não o for, pois todos erram, que seja por ignorância e desconhecimento, mas não intencionalmente). Honesto, acredito que sou. Então, tento dedicar o meu tempo aos alunos, que são aqueles que poderão fazer algo no futuro para resolver este problema e eu (nós) sou (somos) quem tem a obrigação de fazer algo no presente para resolvê-lo! Não adianta transferir o problema para os outros.<br>
<br>
Resumindo: Não sei, mas os resultados do PISA não me convencem (do ponto de vista de ensino), no sentido comparativo entre países. Tão pouco não acho que o PISA não é útil (tenho plena certeza que é uma informação importante). Não que eu ache que aqui está uma maravilha, mas é para se pensar que a Europa e os Estados unidos estão sempre bem (não apenas no PISA, como em outros muitos indicadores). Quem faz a metodologia? quem tem o poder econômico? Isso tudo parece colocar a raposa para proteger os coelhos.<br>
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Abraços,<br>
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adriano.<br>
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