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<BODY bgColor=#ffffff>

<font size="2">
<br />Parabéns a Hedibert e Tatiana pelo artigo! Agradeço também a Denise pelos dados. 
<br />Eles estavam aí disponíveis, mas a gente nem sempre sabe one buscar e às vezes fica 
<br />tendo que argumentar sem a clareza que estes dados conferem.  
<br />

<br />Feliz 2018 para todos. 
<br />
<br />Eulalia 
<br />
<br /><b>---------- Original Message 
-----------</b>
<br />
From: Denise Britz do Nascimento Silva <denisebritz@gmail.com> 

<br />
To: Alexandre Patriota <patriota.alexandre@gmail.com> 

<br />
Cc: abe-Lista <abe-l@ime.usp.br> 

<br />
Sent: Fri, 22 Dec 2017 16:23:29 -0200 

<br />
Subject: Re: [ABE-L] Usos e abusos dos números 

<br />

<br />> Alexandre  e Hedibert
<br />> 
<br />> é verdade que podemos diminuir a 
desigualdade sem reduzir a pobreza, ou podemos manter a desigualdade mesmo 
ficando todos em pior situação econômica.
<br />>   
<br />> Para contribuir no 
debate, peço que vejam o gráfico 4.8 da publicação Síntese de Indicadores 
Sociais do IBGE 2016 - que compara o acesso dos estudantes mais pobres ao ensino 
público superior ( que reproduzo abaixo).
<br />> 
<br />> <a href="https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf">https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf</a>
<br />> 

<br />> O gráfico indica que, ao considerar a distribuição do rendimento 
domiciliar per capita de estudantes da rede pública de ensino superior,   a 
parcela proveniente das famílias mais pobres aumentou ao longo de 10 anos, 
fornecendo evidência de que a população de estudantes do ensino público 
superior  é composta proporcionalmente de mais jovens de famílias com menos 
recursos financeiros (que estão conseguindo alcançar o ensino superior público) 

<br />> 
<br />> Ao mesmo tempo, o gráfico 6.3 indica uma leve tendência da 
renda domiciliar per capita mediana (todos os valores corrigidos pela inflação 
para base 2015). Deve-se também reconhecer a queda de 2014 para 2015. 
Adicionalmente,  o gráfico 6.4 indica que a parcela da população com rendimento 
domiciliar per capita mais baixo diminui, se deslocando para estratos de 
rendimento superiores adjacentes (mas também houve leve queda nos estrato 
superior). 
<br />> 
<br />> Acredito que, unindo as evidências, ainda  é 
possível concluir que, de 2005 a 2015, as famílias brasileiras não ficaram mais 
pobres, houve aumento real de rendimento. Acho então que as famílias dos 
estudantes não ficaram mais pobres, entretanto mais estudantes de famílias 
pobres alcançaram o ensino superior, indicando  mudança de composição da 
população de estudantes do ensino superior público.
<br />> 
<br />> Lembro que 
os dados referem-se à década 2005-2015.
<br />> 
<br />> Abraços e seguem os 
gráficos.
<br />> Denise
<br />>  
<br />> 
<br />> Em 22 de dezembro de 2017 
14:05, Alexandre Galvão Patriota <span dir="ltr"><<a href="mailto:patriota.alexandre@gmail.com" target="_blank">patriota.alexandre@gmail.com</a>></span> escreveu:
<br />> 
<blockquote class="gmail_quote" style="margin: 0px 0px 0px 0.8ex; border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); padding-left: 1ex;">
<br />> 
<br />> Parabéns ao Hedibert e a Tatiana pelo 
artigo.
<br />> 
<br />> Sobre o último parágrafo:
<br />> 
<br />> ``Se o 
objetivo é corrigir as desigualdades do ensino superior público, 

 temos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o percentual 

de estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 
27%,
 ao passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de 

cotas ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só 

poderão ser medidos em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é 

expandir e aprimorar essa política que, em virtude do comprovado 
aumento
 salarial dos formados, provoca uma efetiva e duradoura redução das 

desigualdades.´´
<br />> 
<br />> Corrijam-me se eu estiver errado, mas: se o 
percentual de estudantes com renda familiar entre [0,3] aumentou 27% e o 
percentual de estudantes com renda familiar entre [7,inf) diminuiu 37%, então 
podemos afirmar que em um certo sentido as famílias dos estudantes estão 
<b>mais</b> pobres. Não quero entrar nos detalhes filosóficos das teorias 
econômicas, mas me parece claro que diminuir a desigualdade financeira não é o 
mesmo que diminuir a pobreza.
<br />> 
<br />> <span class="">2017-12-22 9:22 
GMT-02:00 Hedibert Lopes <span dir="ltr"><<a href="mailto:hedibert@gmail.com" target="_blank">hedibert@gmail.com</a>></span>:
<br />> </span><blockquote class="gmail_quote" style="margin: 0px 0px 0px 0.8ex; border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); padding-left: 1ex;">
<br />> 
<br />> Usos e abusos dos números
<br />> Por 
Hedibert Lopes e Tatiana Roque
<br />> 
<br />> <span style="font-size: 12pt;"><a href="http://www.valor.com.br/opiniao/5235489/usos-e-abusos-dos-numeros" target="_blank">http://www.valor.com.br/opinia<wbr />o/5235489/usos-e-abusos-dos-<wbr />numeros</a></span>
<br />> 

<br />> A regressividade dos gastos com ensino superior público é apontada 
frequentemente como justificativa para a cobrança de mensalidades. O relatório 
recente do Banco Mundial afirma, por exemplo, que 65% dos estudantes das 
universidades federais estão entre os 40% mais ricos. Quem são esses "mais 
ricos"?
<br />> 
<br />> Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios de 2015 mostram que nesse grupo de 40% "mais ricos" estão 
pessoas com renda per capita média de R$ 960,00. O Banco Mundial não define a 
partir de que renda se pode designar um grupo como o dos mais ricos, nem 
justifica o foco nos 40%. Poderíamos selecionar os 30% mais ricos, que ganham 
acima de R$ 1.200,00; ou os 20%, que ganham acima de R$ 1.700,00. A renda média 
desses grupos difere pouco. De fato, a distância só aumenta quando selecionamos 
os 10% mais ricos.
<br />> 
<br />> Suponhamos que fossem cobradas mensalidades 
dos estudantes que realmente têm condições de pagar, escalonadas de acordo com a 
renda. Usando os dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições 
Federais de Ensino Superior (Andifes), verificamos que 81% dos estudantes vêm de 
famílias com renda bruta familiar inferior a R$ 6.500,00, logo não poderiam 
pagar. Na faixa de renda familiar bruta entre R$ 6.500,00 e R$ 9.300,00 estão 9% 
dos estudantes (de um total de aproximadamente 1 milhão, somando-se todas as 
universidades federais do país). Superestimando a capacidade de desembolso em 
15%, essas famílias pagariam uma mensalidade de R$ 1.200,00, perfazendo R$ 1,3 
bilhão no total. Já a faixa com renda familiar bruta acima de R$ 9.300,00 
compreende 10% dos estudantes, mas é preciso analisar detalhadamente a 
distribuição de renda nessa faixa.
<br />> 
<br />> O estudo da desigualdade 
feito pela Oxfam mostra que, no topo da população, reproduz-se a aberrante 
desigualdade brasileira: as famílias 10% mais ricas têm rendimentos médios de R$ 
18.000,00, sendo o rendimento médio das famílias 1% mais ricas de R$ 160 mil. 
Logo, mantendo nossa estimativa do valor da mensalidade em 15% da renda 
familiar, obtemos que 9% dos estudantes pagariam R$ 2.700. Já os 1% mais ricos 
pagariam R$ 4 mil - o valor da mensalidade nas melhores universidades privadas. 
Somando-se, ao fim, todas as mensalidades possíveis, chegamos a um total de R$ 
4,7 bilhões, ou seja, em torno de 11% do orçamento anual das universidades 
federais (de R$ 41 bilhões). Devemos lembrar, contudo, que é necessário subtrair 
desse percentual o custo de se verificar quem pode ou não pagar (uma operação 
complexa), além do custo de administrar a cobrança. Na verdade, implementar 
medidas para melhorar a administração da universidade - o que não contradiz seu 
caráter público - poderia ser bem mais efetivo.
<br />> 
<br />> Resumindo, 
cobrar mensalidades ajudaria pouco a enxugar o orçamento público e o Banco 
Mundial parece ter forçado os números para nos convencer do contrário. O cerne 
da disputa está nas faixas intermediárias, que nem podem realmente pagar nem 
entram na categoria de pobres (para fazer jus a bolsas). A solução ventilada 
para esse grupo de renda média é o crédito, que já mostrou efeitos perversos nos 
EUA e na Inglaterra, levando a um grave endividamento de estudantes - 
comprometendo o futuro de jovens que sequer ingressaram no mercado de 
trabalho.
<br />> 
<br />> Do ponto de vista matemático, o problema é que a 
curva de distribuição de renda no Brasil é extremamente assimétrica (quase 
linear até o decil mais alto), em nada semelhante a uma curva normal.
<br />> 

<br />> Dito de modo menos técnico, as faixas de renda intermediárias dos 
brasileiros são muito similares - e excessivamente baixas. Isso torna pouco 
rigorosa a separação entre "mais ricos" e "mais pobres", sob 
o risco de distinguir quem ganha R$ 960 por mês de quem ganha R$ 800. Só um 
critério qualitativo pode estabelecer a partir de que renda alguém pode ser 
considerado "não pobre".
<br />> 
<br />> É positiva a tendência de 
analisar políticas públicas usando estatísticas. Deve-se tomar cuidado, todavia, 
com a dissociação entre informações quantitativas e qualitativas. A postura 
científica aconselha o uso de estatísticas para confirmar ou refutar perguntas 
em aberto. Mas as definições dos termos do problema, com impactos sociais 
significativos, precisam levar em conta o ideal de sociedade que se quer 
construir.
<br />> 
<br />> Se o objetivo é corrigir as desigualdades do ensino 
superior público, já temos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o 
percentual de estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 
27%, ao passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de cotas 
ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só poderão ser medidos 
em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é expandir e aprimorar essa 
política que, em virtude do comprovado aumento salarial dos formados, provoca 
uma efetiva e duradoura redução das desigualdades.
<br />> 
<br />> Hedibert 
Lopes é professor titular de Estatística e Econometria do Insper e foi Professor 
da Booth School of Business da Universidade de Chicago
<br />> 
<br />> Tatiana 
Roque é professora do Instituto de Matemática da UFRJ e foi presidente da 
Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ)
<br />> 
<br />> <span class="">______________________________<wbr />_________________
<br />> 

abe mailing list
<br />> 

<a href="mailto:abe@lists.ime.usp.br" target="_blank">abe@lists.ime.usp.br</a>
<br />> 

<a href="https://lists.ime.usp.br/listinfo/abe" rel="noreferrer" target="_blank">https://lists.ime.usp.br/listi<wbr />nfo/abe</a>
<br />> 
<br />> 
</span></blockquote><span class="HOEnZb"><font color="#888888">
<br />> 
<br clear="all" />
<br />> -- 
<br />> 
<br />> Prof. Dr. Alexandre G. 
Patriota,
<br />> Department of Statistics,
<br />> Institute of Mathematics and 
Statistics,
<br />> University of São Paulo, Brazil.
<br />> 

</font></span>

<br />> ______________________________<wbr />_________________
<br />> 

abe mailing list
<br />> 

<a href="mailto:abe@lists.ime.usp.br">abe@lists.ime.usp.br</a>
<br />> 

<a href="https://lists.ime.usp.br/listinfo/abe" rel="noreferrer" target="_blank">https://lists.ime.usp.br/<wbr />listinfo/abe</a>
<br />> 
<br />> 
</blockquote>
<br /><b>------- End of Original Message 
-------</b>
<br />

</font>

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