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<div style="font-family: Calibri, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt; color: rgb(0, 0, 0);">
<span>Prezado professor Carlinhos,<br>
</span>
<div><br>
</div>
<div>agradeço imensamente pelos emails e discussões feitas pelo senhor<br>
</div>
<div>na lista da ABE. Em nenhum momento, eu, enxerguei como "choramingadas".<br>
</div>
<div><br>
</div>
<div>Se o sistema tem falhas, temos que identificar as mesmas e tentar<br>
</div>
<div>encontrar uma maneira para melhorar, e eu acredito que calado ou simplesmente aceitando o
<br>
</div>
<div>sistema, seja a maneira de se fazer isso. Obrigado pela preocupação.<br>
</div>
<div><br>
</div>
<div>Feliz 2019 para o senhor!<br>
</div>
<div><br>
</div>
<div>Saudações,<br>
</div>
<div><br>
</div>
<span>Marcelo</span><br>
</div>
<div id="appendonsend"></div>
<hr style="display:inline-block;width:98%" tabindex="-1">
<div id="divRplyFwdMsg" dir="ltr"><font face="Calibri, sans-serif" style="font-size:11pt" color="#000000"><b>De:</b> abe <abe-bounces@lists.ime.usp.br> em nome de Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira@ime.usp.br><br>
<b>Enviado:</b> sábado, 29 de dezembro de 2018 23:04<br>
<b>Para:</b> abe-l@ime.usp.br; g-mae@ime.usp.br; g-mac@ime.usp.br; g-map@ime.usp.br; g-mat@ime.usp.br<br>
<b>Assunto:</b> [ABE-L] Minha derradeira reflexão de 2018</font>
<div> </div>
</div>
<div class="BodyFragment"><font size="2"><span style="font-size:11pt;">
<div class="PlainText"><br>
Meus caros colegas e amigos<br>
<br>
Para não dar uma ideia negativa de meus sentimentos com respeito à  <br>
avaliação (referente à bolsa de produtividade e pesquisa) que tive no  <br>
último ano, gostaria de me explicar. O fato de ter sido diminuído na  <br>
minha classificação, de 1B para 1C, no CNPq, não prejudicou em nada a  <br>
bolsa que recebo. Meus amigos, principalmente meu irmão, me disseram  <br>
que eu não deveria escrever “choramingando”. Entendi então que minha  <br>
intenção não ficou clara e assim tento aqui me explicar.<br>
<br>
O meu (nosso) objetivo principal com minhas choramingadas é pressionar  <br>
pessoas responsáveis.  Regras claras, para decisões sobre concessões  <br>
de auxilio financeiro para projetos científicos e/ou concessão de  <br>
bolsa de pesquisador, precisam ser estabelecidas. Se bolsas são  <br>
concedidas ou não por comparação de projetos e currículos, precisamos  <br>
saber as razões de deferimento ou indeferimento dos pedidos.  Um  <br>
pesquisador, que teve seu projeto indeferido, precisa saber o que  <br>
levou outros a serem deferidos.  Critérios objetivos facilitam  <br>
bastante o entendimento e certamente diminuem as frequências das  <br>
indignações.<br>
<br>
Antes de iniciar minha reflexão gostaria de dizer que 1B é o último  <br>
patamar antes de ir para 1A. Não fosse pela atual representação,  <br>
penso, eu já poderia ser 1A. Minha imaginação ainda produz dúvidas  <br>
sobre a forma como são estabelecidos os QUALIS de nossas revistas.  <br>
Qual a razão das revistas de probabilidades terem QUALIS superiores  <br>
aos da estatística? Desculpem minhas dúvidas, mas sem a clareza das  <br>
regras deixa-se muito para imaginação negativa.  Em qualquer sociedade  <br>
científica as revistas PlosOne e IEEE teriam QUALIS bem melhores do  <br>
que temos hoje. Claro, eu tenho ali alguns artigos com meus ex-alunos.<br>
<br>
Desde 1981, como pesquisador do CNPq, me sinto um privilegiado. Nunca  <br>
deixei de ser apoiado pelas instituições brasileiras, FAPESP, CNPq e  <br>
CAPES e sempre fui galgando as diversas etapas de classificação:  <br>
Fechei meus olhos (ou meus sentimentos) para aqueles jovens  <br>
pesquisadores que porventura foram “injustiçados” ao não receberem  <br>
apoio para seus projetos. Agora, quando fui rebaixado no meu nível,  <br>
percebi que uma injustiça pode afetar o nosso EGO, mesmo quando o  <br>
nosso bolso não é afetado. Este é o principal ponto de minha mensagem.  <br>
Minhas “reclamações” não são para garantir o meu projeto, a minha  <br>
bolsa, as minhas conquistas, mas sim me preocupa o que estão fazendo  <br>
com a área! Se os jovens não tiverem incentivos, eles desistirão! O  <br>
sentimento de injustiça para aqueles que estão em início de carreira  <br>
pode levar ao fim de uma história que nem bem começou.<br>
<br>
Sabendo que não preciso reclamar da vida, percebi que os jovens  <br>
injustiçados não sabem que podem e devem reclamar publicamente: os  <br>
recursos de nossas agências são públicos e por isso precisam ser bem  <br>
administrados.  Escrevi a minha primeira mensagem (no primeiro  <br>
semestre) e como consequência muitos jovens escreveram contando as  <br>
injustiças sofridas. Recebi permissão para publicar uma dessas  <br>
mensagens, como viram. Só para que percebam as práticas possíveis, vou  <br>
contar outro caso recente. Como sabem, estou visitando uma  <br>
universidade federal onde um jovem colega escreveu um ótimo projeto de  <br>
pesquisa para receber apoio financeiro (chamada universal do CNPq).  <br>
Não foi um pedido grande e por sinal achei menor do que o projeto  <br>
merecia. O projeto foi elogiado pelos avaliadores e muito bem  <br>
recebido. No entanto, um dos avaliadores achou estranho não haver um  <br>
pesquisador estrangeiro e por esta “razão” o pedido foi indeferido.  <br>
Por tais injustiças é que eu reclamo! Como um velho privilegiado,  <br>
estou em final de caminho e as consequências de meus escritos não  <br>
poderão realmente me atingir de forma drástica. Prefiro pensar que as  <br>
consequências de meus choros na rede sejam positivas, pelo menos para  <br>
aqueles merecedores injustiçados.  Com respeito à minha produtividade,  <br>
gostaria de enfatizar que minha escolha pela multidisciplinaridade foi  <br>
feita desde o meu mestrado em 1971.  Sigo recomendações de cientistas  <br>
que sempre admirei: Oswaldo Frota Pessoa, Luiz Edmundo Magalhães e  <br>
Ricardo Brentani. Minha admiração por Jay Kadane reforçou ainda mais  <br>
minha convicção de que foi BOA minha opção adicional pela  <br>
multidisciplinaridade.<br>
<br>
Outro exemplo de parecer “estranho” ocorreu com um jovem competente em  <br>
projeto relacionado a um de meus trabalhos. No parecer ao projeto,  <br>
nosso FBST foi classificado como método ultrapassado e assim foi  <br>
indeferido o pedido, apenas por usar o eficiente FBST.  Sem contar os  <br>
trabalhos recentes, o primeiro artigo definindo o FBST possuía em  <br>
setembro 56 citações no SCOPOS e 208 no Google acadêmico. O artigo de  <br>
2008 recebeu 32 no SCOPOS, 26 no Web of Science (dados de 07/2017) e  <br>
106 no Google de hoje. (As citações do Web of Science e da ESCOPOS  <br>
foram retirados dos Lattes de matemática.) Se forem olhar quais  <br>
revistas citaram o FBST, irão encontrar JASA e TAS. Imaginem aqueles  <br>
que utilizam o velho teste de Fisher (ou as suas ideias) em seus  <br>
projetos, seriam estes da pré-história? Felizmente, o pedido de  <br>
revisão foi aceito e o projeto contemplado:  Me pareceu que o  <br>
avaliador sofre com o sucesso das INVENÇÕES de Outrem – A new  <br>
scientific truth does not triumph by convince the opponents and making  <br>
them see the light, but rather because its opponents eventually die,  <br>
and a new generation grows up that is familiar with it (Max Planck) -.<br>
<br>
Aproveitei minha visita a São Paulo para assistir filmes e entrevistas  <br>
como as do David Letterman. Em duas ocasiões pessoas afirmaram, em uma  <br>
música e em um argumento, que não se pode avaliar o conteúdo de um  <br>
livro por sua capa. Concluí então que não se pode (ou não se deve)  <br>
avaliar a qualidade de um artigo pelo QUALIS da revista. Alguns de  <br>
nossos avaliadores não falam do conteúdo do artigo, mas sim da revista  <br>
em que o artigo foi publicado. Repito mais uma vez: Um equívoco de  <br>
Einstein não passa a ser correto pelo fato de ele ter escrito. Um  <br>
artigo ruim no JASA não fica bom por ele ter sido ali publicado e um  <br>
bom artigo não se torna ruim ao ser publicado em uma revista de QUALIS  <br>
menor ou com impacto baixo.<br>
<br>
Minhas reflexões, reclamações, discussões, são muito mais pensando na  <br>
área, Estatística, do que no fato da minha bolsa de produtividade ser  <br>
B, C ou A. Novamente, peço desculpas se em minhas mensagens anteriores  <br>
a ideia principal não foi clara. Trabalhei desde 1969 na USP e ainda  <br>
tenho mais alguns anos de divertimento científico, mas me preocupa o  <br>
caminho que tem sido percorrido pela nossa comunidade. Tenho me  <br>
obrigado à reclamar! Uso exemplos, pois, não tendo mais o que perder,  <br>
eu penso ter o direito de transmitir o que escuto informalmente.<br>
<br>
Meu trabalho acadêmico sempre foi com grupos de pessoas que nos  <br>
complementamos nas decisões e nas escritas. Se eu tive algum sucesso  <br>
em minha caminhada acadêmica devo isto aos meus alunos, colegas  <br>
coautores ou incentivadores. Devo a Estatística muito do que sou hoje  <br>
como “membro de bastidores de trabalhos científicos”.  Penso que  <br>
preciso retribuir ao ganho acadêmico pelo trabalho estatístico.  Penso  <br>
que a palavra chave da ciência é o conflito, no trabalho científico  <br>
não deve haver hierarquia de conhecimento.  FORA COM A TEORIA DA  <br>
AUTORIDADE!  Certo é certo e errado é errado: não há revista que salve  <br>
o errado nem que mate o correto.<br>
<br>
Em resumo, melhorar o processo deve ser ato contínuo. As regras devem  <br>
ser claras para que todos os envolvidos saibam o que deve ser feito e  <br>
poderem projetar sua carreira visando o sucesso científico. Para mim,  <br>
as seguintes atitudes são necessárias para o sucesso de uma comunidade  <br>
científica: DEBATER, CONFLITAR e, principalmente, CRIAR.<br>
<br>
Feliz 2019 para os colegas e que obtenham todo o sucesso científico  <br>
que merecerem.<br>
<br>
-- <br>
Carlos Alberto de Bragança Pereira<br>
<a href="http://www.ime.usp.br/~cpereira">http://www.ime.usp.br/~cpereira</a><br>
<a href="http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR">http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR</a><br>
Stat Department - Professor & Head<br>
University of São Paulo<br>
<br>
<br>
_______________________________________________<br>
abe mailing list<br>
abe@lists.ime.usp.br<br>
<a href="https://lists.ime.usp.br/listinfo/abe">https://lists.ime.usp.br/listinfo/abe</a><br>
</div>
</span></font></div>
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