[ABE-L] Polêmica sobre pesquisa estatística da FEE

Jose Carvalho carvalho em statistika.com.br
Qua Maio 13 18:36:08 -03 2015


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Essa discussão começou sobre o seríssimo assunto de censura a um
artigo científico. Certo, errado, mais ou menos rigoroso, seja o que
for, sabemos que, ao atentar contra um modismo (desigualdade de
gêneros no mercado de trabalho), causou reações contra os autores e
suas instituições de trabalho. A reação, como se deu, é
antidemocrática e foge, ela sim, ao procedimento digno de
intelectuais, cujas ideias se confrontam-se, limitando-se as pessoas
ao debate. O manifesto que se seguiu é mais do que justificado. Não
fosse eu tão insignificante, tê-lo-ia assinado.

E a discussão descambou para comparação de softwares, por um único
mail do Júlio Stern, que, apaixonado e provocativo como sempre, fez a
elegia do R. Mudou a discussão. E seguiu-se um monte de mails, sobre
um assunto sério.

Em parêntensis: gosto de latim, que estudei no ginasial e mais um
pouco depois, mas não posso ler sem dicionário. Pensei quando vi a
enorme citação em latim que, diabos, teria de tratar de entender
latim. Mas fui ver uns alfarrabios e encontrei a citação em um artigo
de Wolfgang Lenzen: Leibniz Logic, um capítulo do livro The Rise of
Modern Logic (editado por Dov Gabbay e John Woods; Elsevier, 2004)
onde a citação e tradução ao inglês estão na página 1. Ufa, não
preciso mais ler o Leibniz no original.

O que tenho a dizer é simples: o trabalho com SAS e SPSS, para quem
lida com muitas análises, de grandes e pequenos problemas, que tem de
ser feitos com rapidez, nada tem a ver com o trabalho que eu fazia,
enquanto estava na Unicamp. Eu ajudava médicos, engenheiros e
pesquisadores de outras áreas, da Unicamp e de muitos outros centros.
Quase sempre os problemas envolviam uma só tabela de dados, quando
muito um banco de dados pequeno. Em geral, os dados eram mal formados
(como até hoje, também na indústria), mas eram quase sempre pequenos.
E as análises poderiam ser elaboradas, poderiam demorar,se eu
precisasse. Naqueles tempos, Minitab, BMDP serviam bem. Claro, desde
sempre usei o SAS, o que me deu um enorme conforto e me fez crescer
muito. É assim: para trabalhar para valer, em geral usamos o SAS. É
mais rápido, a preparação de dados é muito mais rápida. Uso o R
também, claro. Agora mesmo, um cliente me obriga a usar GAMLSS, onde
eu proponho usar regressão quantílica. Sou obrigado a fazer ambos.
Embora seja "produção", o trabalho envolve cientistas e podemos
discutir métodos e gastar tempo com isso (mas não muito). Pois bem, os
cálculos do GAMLSS eu os fiz com R. Naturalmente, as tabelas de dados
foram preparadas com o SAS. O banco de dados original veio em SAS. Tem
dezenas de tabelas, está devidamente normalizado. Mas a tabela que eu
queria, simples, com alguns x's e y's teve de ser preparada. Com a
tabela desnormalizada, retangular, invocar uma rotina é muito fácil.

Tenho de afirmar que sempre gostei de computação, o que é ocioso dizer
aos que me conhecem. Sou portanto alfabetizado em Fortran, C (e mais
umas velharias que não ouso lembrar, inclusive Assembler do /360); mas
vale incluir Perl, Python e... R.

Sobre software livre: sou o maior fã! Brasileiro que sou, trato de
evitar Micro$oft, Apple e cia até onde possível. Toco uma firmazinha
de consultoria, em que há dois servidores, vários desktops e um outro
número de notebooks. Todos - todos! - rodam Linux. No momento, é o
Fedora 21. Usamos o LibreOffice quase exclusivamente. (Há alguns
brincando com Calligra, do KDE). Todos os softwares são LIVRES. Exceto
o SAS, que roda alegremente em Linux. E isso é assim há quase 15 anos.
Brasileiro, comecei com Conectiva (de Curitiba); acompanhando a
Conectiva, fui para o Mandrake, depois Mandriva. Finalmente, este
acabou (virou Mageia e Rosa).

Muitos meus amigos, amigos que respeito e quero muito, altamente
competentes em computação, pugnam pelo R e o usam sob... Windows (nem
todos, felizmente). Alguns alegam que é difícil fugir do Windows no
notebook (como se este fosse diferente de um desktop). Vários fazem
seus relatórios em MS Office. Nossas sociedade profissionais exigem
que artigos submetidos a suas publicações ou congressos sejam
apresentadas em MS Office. Ora, não posso resistir a considerar isso
hipocrisia. Acho que no passado, a turma não usava o SAS, por que era
caro. Hoje, ele é praticamente de graça para o ensino. Existe uma VM
(Linux) que pode ser rodada sob VMWare ou VirtualBox (até sob Windows
como hospedeira), que é gratuita. Basta baixar de
http://www.sas.com/en_us/software/university-edition.html. Está
disponível a professores e  alunos.

Se somar tudo que economizei em divisas, por usar Linux e todo o
software livre, paguei de longe o custo do SAS. Se somar o tempo e a
qualidade do trabalho que meus colegas tem feito ao longo de anos,
então a conta cresce desmesuradamente.

Finalmente: acho R e as bibliotecas matemáticas e estatísticas do
Python, muito bacanas. O pessoal que trabalha comigo deve ser
proficiente em pelo menos um destes. (A gente nuncasabe o futuro -
inclusive deles, que podem ter de ir trabalhar em outro lugar - ainda
mais com o estado de coisas deste país).

PS meu super notebook tem 32GB, um processador de 8 cores super
rápido, dois discos, 1 SSD de 512 GB e um outro comum de 1TB, tela de
alta resolução (o driver nõa da NVidia :-)), etc, etc. O sistema
operacional é FEDORA 21 (será 22 logo). Escrevo-lhes usando o
Thunderbird como cliente de mail. Quer mais FOSS que isso?
PPS pago a Free Software Foundation com o mesmo prazer que pago a ABE.

Abraços a todos, em especial ao Júlio Stern, cujas mensagens sempre me
dão prazer de ler. E apoiemos o manifesto, causa original deste "thread"
.



On 05/13/2015 03:39 PM, Julio Stern wrote:
> ``...quando orientur controversiae, non magis disputatione opus 
> erit inter duos philosophos, quam inter duos computistas. Sufficiet
> enim calamos in manus sumere sedereque ad abacos, et sibi mutuo 
> (accito si placet amico) dicere: calculemus.''

- -- 
Jose Carvalho, PhD
Statistika
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