[ABE-L] Polêmica sobre pesquisa estatística da FEE

Pedro Luis do Nascimento Silva pedronsilva em gmail.com
Qua Maio 13 19:30:50 -03 2015


Colegas,

o tema da existência ou não de discriminação salarial no Brasil é objeto de
vasta literatura em várias áreas do conhecimento, e claro, grande parte
desta literatura vai depender do uso de dados de pesquisas como a PNAD,
entre outras.

A PNAD, embora fonte rica de informações sobre o mercado de trabalho,
limita bastante  as possibilidades analíticas pois não coleta informações
sobre vários atributos relacionados com o 'capital social' dos
trabalhadores.

Uma análise feita com dados de uma pesquisa conduzida  pelo IBGE no fim dos
anos 90, a Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), pela Simone de Castro
Rodrigues (em dissertação de mestrado da ENCE) mostrou que o diferencial
salarial líquido entre homens e mulheres ocupados no Sudeste e Nordeste do
Brasil era de 32,8% (isto é, o diferencial salarial não explicado pelas
características dos trabalhadores, das empresas, e outras consideradas num
modelo ajustado aos dados). Ao mesmo tempo, o diferencial salarial líquido
entre brancos e não brancos era menor, da ordem de 11,6%.

Grande parte da literatura fala em discriminação racial no mercado de
trabalho. A contribuição da Simone à época foi mostrar que a discriminação
racial era substancialmente menor que a de gênero.

O texto completo da dissertação citada acima está em
http://www.ence.ibge.gov.br/images/ence/doc/mestrado/dissertacoes/2003/simone_de_castro_rodrigues.pdf

Para os interessados apenas nos resultados, basta ler o capítulo de
conclusões.

Para os interessados nos métodos, há alguns aspectos interessantes da
análise, onde a Simone mostrou que não deviam ser ignorados na análise os
aspectos da amostragem complexa usada na pesquisa.

Declaro aqui minha solidariedade com os autores do estudo da FEE.

Saudações, Pedro.

Em 13 de maio de 2015 19:08, Richard Santos <jamesrichardsantos em gmail.com>
escreveu:

> Sim, parabéns ao manifesto. Até olhei os dados da Pnad 2013 (com
> descritiva multivariada e bivariada, e regressões), nossa, a renda dos
> homens é mais alta do que a das mulheres independente de qualquer coisa
> (seja urbano ou rural, qualquer raça/cor, UF, Rm e não-RM, tipo de
> ocupação, anos de estudo, etc). Impressionante.
> Att.
> Richard
>
> Em 13 de maio de 2015 18:36, Jose Carvalho <carvalho em statistika.com.br>
> escreveu:
>
>> -----BEGIN PGP SIGNED MESSAGE-----
>> Hash: SHA256
>>
>> Essa discussão começou sobre o seríssimo assunto de censura a um
>> artigo científico. Certo, errado, mais ou menos rigoroso, seja o que
>> for, sabemos que, ao atentar contra um modismo (desigualdade de
>> gêneros no mercado de trabalho), causou reações contra os autores e
>> suas instituições de trabalho. A reação, como se deu, é
>> antidemocrática e foge, ela sim, ao procedimento digno de
>> intelectuais, cujas ideias se confrontam-se, limitando-se as pessoas
>> ao debate. O manifesto que se seguiu é mais do que justificado. Não
>> fosse eu tão insignificante, tê-lo-ia assinado.
>>
>> E a discussão descambou para comparação de softwares, por um único
>> mail do Júlio Stern, que, apaixonado e provocativo como sempre, fez a
>> elegia do R. Mudou a discussão. E seguiu-se um monte de mails, sobre
>> um assunto sério.
>>
>> Em parêntensis: gosto de latim, que estudei no ginasial e mais um
>> pouco depois, mas não posso ler sem dicionário. Pensei quando vi a
>> enorme citação em latim que, diabos, teria de tratar de entender
>> latim. Mas fui ver uns alfarrabios e encontrei a citação em um artigo
>> de Wolfgang Lenzen: Leibniz Logic, um capítulo do livro The Rise of
>> Modern Logic (editado por Dov Gabbay e John Woods; Elsevier, 2004)
>> onde a citação e tradução ao inglês estão na página 1. Ufa, não
>> preciso mais ler o Leibniz no original.
>>
>> O que tenho a dizer é simples: o trabalho com SAS e SPSS, para quem
>> lida com muitas análises, de grandes e pequenos problemas, que tem de
>> ser feitos com rapidez, nada tem a ver com o trabalho que eu fazia,
>> enquanto estava na Unicamp. Eu ajudava médicos, engenheiros e
>> pesquisadores de outras áreas, da Unicamp e de muitos outros centros.
>> Quase sempre os problemas envolviam uma só tabela de dados, quando
>> muito um banco de dados pequeno. Em geral, os dados eram mal formados
>> (como até hoje, também na indústria), mas eram quase sempre pequenos.
>> E as análises poderiam ser elaboradas, poderiam demorar,se eu
>> precisasse. Naqueles tempos, Minitab, BMDP serviam bem. Claro, desde
>> sempre usei o SAS, o que me deu um enorme conforto e me fez crescer
>> muito. É assim: para trabalhar para valer, em geral usamos o SAS. É
>> mais rápido, a preparação de dados é muito mais rápida. Uso o R
>> também, claro. Agora mesmo, um cliente me obriga a usar GAMLSS, onde
>> eu proponho usar regressão quantílica. Sou obrigado a fazer ambos.
>> Embora seja "produção", o trabalho envolve cientistas e podemos
>> discutir métodos e gastar tempo com isso (mas não muito). Pois bem, os
>> cálculos do GAMLSS eu os fiz com R. Naturalmente, as tabelas de dados
>> foram preparadas com o SAS. O banco de dados original veio em SAS. Tem
>> dezenas de tabelas, está devidamente normalizado. Mas a tabela que eu
>> queria, simples, com alguns x's e y's teve de ser preparada. Com a
>> tabela desnormalizada, retangular, invocar uma rotina é muito fácil.
>>
>> Tenho de afirmar que sempre gostei de computação, o que é ocioso dizer
>> aos que me conhecem. Sou portanto alfabetizado em Fortran, C (e mais
>> umas velharias que não ouso lembrar, inclusive Assembler do /360); mas
>> vale incluir Perl, Python e... R.
>>
>> Sobre software livre: sou o maior fã! Brasileiro que sou, trato de
>> evitar Micro$oft, Apple e cia até onde possível. Toco uma firmazinha
>> de consultoria, em que há dois servidores, vários desktops e um outro
>> número de notebooks. Todos - todos! - rodam Linux. No momento, é o
>> Fedora 21. Usamos o LibreOffice quase exclusivamente. (Há alguns
>> brincando com Calligra, do KDE). Todos os softwares são LIVRES. Exceto
>> o SAS, que roda alegremente em Linux. E isso é assim há quase 15 anos.
>> Brasileiro, comecei com Conectiva (de Curitiba); acompanhando a
>> Conectiva, fui para o Mandrake, depois Mandriva. Finalmente, este
>> acabou (virou Mageia e Rosa).
>>
>> Muitos meus amigos, amigos que respeito e quero muito, altamente
>> competentes em computação, pugnam pelo R e o usam sob... Windows (nem
>> todos, felizmente). Alguns alegam que é difícil fugir do Windows no
>> notebook (como se este fosse diferente de um desktop). Vários fazem
>> seus relatórios em MS Office. Nossas sociedade profissionais exigem
>> que artigos submetidos a suas publicações ou congressos sejam
>> apresentadas em MS Office. Ora, não posso resistir a considerar isso
>> hipocrisia. Acho que no passado, a turma não usava o SAS, por que era
>> caro. Hoje, ele é praticamente de graça para o ensino. Existe uma VM
>> (Linux) que pode ser rodada sob VMWare ou VirtualBox (até sob Windows
>> como hospedeira), que é gratuita. Basta baixar de
>> http://www.sas.com/en_us/software/university-edition.html. Está
>> disponível a professores e  alunos.
>>
>> Se somar tudo que economizei em divisas, por usar Linux e todo o
>> software livre, paguei de longe o custo do SAS. Se somar o tempo e a
>> qualidade do trabalho que meus colegas tem feito ao longo de anos,
>> então a conta cresce desmesuradamente.
>>
>> Finalmente: acho R e as bibliotecas matemáticas e estatísticas do
>> Python, muito bacanas. O pessoal que trabalha comigo deve ser
>> proficiente em pelo menos um destes. (A gente nuncasabe o futuro -
>> inclusive deles, que podem ter de ir trabalhar em outro lugar - ainda
>> mais com o estado de coisas deste país).
>>
>> PS meu super notebook tem 32GB, um processador de 8 cores super
>> rápido, dois discos, 1 SSD de 512 GB e um outro comum de 1TB, tela de
>> alta resolução (o driver nõa da NVidia :-)), etc, etc. O sistema
>> operacional é FEDORA 21 (será 22 logo). Escrevo-lhes usando o
>> Thunderbird como cliente de mail. Quer mais FOSS que isso?
>> PPS pago a Free Software Foundation com o mesmo prazer que pago a ABE.
>>
>> Abraços a todos, em especial ao Júlio Stern, cujas mensagens sempre me
>> dão prazer de ler. E apoiemos o manifesto, causa original deste "thread"
>> .
>>
>>
>>
>> On 05/13/2015 03:39 PM, Julio Stern wrote:
>> > ``...quando orientur controversiae, non magis disputatione opus
>> > erit inter duos philosophos, quam inter duos computistas. Sufficiet
>> > enim calamos in manus sumere sedereque ad abacos, et sibi mutuo
>> > (accito si placet amico) dicere: calculemus.''
>>
>> - --
>> Jose Carvalho, PhD
>> Statistika
>> +55-19-3236-7537 (office)
>> +55-19-98139-9927 (cel)
>> -----BEGIN PGP SIGNATURE-----
>> Version: GnuPG v2
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>> D5VRad0pqOsszFpWnZgdGV9OFF/4leJXAHq0UgV0JJkvAOVs6SlOpwlDzQ6rhiqx
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