[ABE-L] O Menino na areia

Carlos Alberto de Bragança Pereira cpereira em ime.usp.br
Sáb Set 5 16:17:06 -03 2015


Agradeço ao Leandro por ter me enviado o texto que eu havia pedido.
Aqui vai
Carlinhos
Mando neste e-mail pois não sei se o Leandro havia mandado para a rede


---------- Forwarded message ----------
From: Leandro Marino <leandromarino em leandromarino.com.br>
Date: 2015-09-05 9:54 GMT-03:00
Subject: Re: [ABE-L] Pobre de "NÓS"
To: Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira em ime.usp.br>


Segue Carlinhos..

Menino na areia é o arame farpado na fronteira”, diz Felipe Pena

Imagem de menino morto em praia na Turquia chocou o mundo. Criança de  
3 anos, seu irmão e a mãe morreram em naufrágio.

03/09/2015 15h09 - Atualizado em 03/09/2015 15h09

A crise da imigração na Europa mostrou nesta quarta-feira (2) seu lado  
mais cruel e uma família virou símbolo do drama da imigração. A imagem  
de um menino sírio de 3 anos, morto, numa praia daTurquia, com o rosto  
virado para a areia, circulou o mundo. O pai do menino rejeitou a  
oferta de asilo feita pelo Canadá. Ele também perdeu a mulher e outro  
filho no naufrágio e disse que vai voltar para aSíria e enterrar a  
família. A foto tão chocante foi exibida no Estúdio i com um  
tratamento especial.

O menino se chamava Aylan Kurdi. Seu irmão mais velho, Galip. A  
família havia fugido do avanço doEstado Islâmico na Síria. Não era uma  
questão de opção. Era questão de sobrevivência. A morte de crianças é  
o símbolo mais perverso do desespero das centenas de milhares de  
imigrantes que fogem da violência e da miséria na África e no Oriente  
Médio para tentar a vida na Europa. Aylan está morto e agora só resta  
à humanidade desumana morrer de vergonha.

A imagem do menino morto na praia tirou o sono do comentarista de  
cultura do Estúdio i Felipe Pena.  Da insônia, nasceu um texto desabafo:

O menino na areia não é sírio.
O menino na areia não é refugiado.
O menino na areia não respira.
E não respiram todos que viraram o rosto para o rosto virado na areia.
Ele, o menino na areia, é o arame farpado na fronteira, é o lorde de  
peruca no parlamento, é o trem sem janelas na estação fechada de todos  
os países. O menino na areia é alemão, é húngaro, é inglês. E também é  
argentino, brasileiro e judeu.
O menino na areia vive (e morre) na periferia de sua atenção, embaixo  
do tapete, no rodapé do jornal que não existe mais. O menino na areia  
é a especulação, a taxa de câmbio, o spread bancário e o socialista de  
botequim. O menino na areia é o menino deitado, de rosto virado para  
os cegos do outro lado da areia.
Cegos que, ontem, finalmente, viram o menino na areia.
E viram no livro dos rostos, que não estavam virados, mas ocupados,  
entre festas na areia, carros importados e guerrilhas ideológicas.
Ontem, todos nós vimos o menino na areia.
Mas o rosto, virado na areia, não era o do menino na areia.
- Olhe de novo, menino na areia.

Por Felipe Pena
-- 
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo





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