[ABE-L] Discussão sobre o open access

Vermelho vermelho2 em gmail.com
Qua Set 16 09:03:55 -03 2015


*Artigo de *Paulo Guanaes (editor- executivo da revista “Trabalho, educação
e saúde”) e Hooman Momen (editor científico da revista “Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz”), publicado no O Globo de hoje, 16/06/2015.
Para que todos tomem ciência

Ao estabelecer em março de 2014 a sua Política de Acesso Aberto ao
Conhecimento, a Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz) buscou garantir à
sociedade a consulta livre a sua produção científica, alinhandose ao
movimento global de acesso aberto ( open access). Com início no fim da
década de 1980, esse movimento foi uma reação à chamada “crise dos
periódicos”. Os constantes aumentos nos preços de assinaturas de revistas
científicas praticados por editoras comerciais inviabilizavam a aquisição
de coleções por bibliotecas de universidades e instituições de ensino e
pesquisa.

Como se veem compelidas a comprar dessas editoras, pois elas detêm o
controle do único veículo aceito pela comunidade científica mundial para
publicação de textos, configura- se um negócio peculiar em que um ente
privado se apropria de um bem ( o artigo científico), agrega algum valor a
ele e cobra preços exorbitantes para sua utilização. Grande parte desses
textos se origina de pesquisas financiadas com recursos públicos. O acesso
aberto rompe essa lógica, auxiliado pelas tecnologias da informação e
comunicação e pela internet, que propiciam modelos de publicação a baixo
custo e ampla circulação.

As políticas de acesso aberto vêm gerando tensão no setor de publicações
científicas. Tratase de um mercado concentrado, no qual apenas três grupos
editoriais — Reed Elsevier, Springer e Wiley — detêm mais de 40% das
revistas científicas publicadas. Até há bem pouco tempo, eles tinham pouco
interesse na publicação científica do Brasil. Esta atitude mudou, e a
maioria já abriu um escritório em nosso país ou comprou uma editora
nacional. Um dos obstáculos a essa expansão de editoras comerciais
internacionais no mercado editorial brasileiro é o SciELO, inovador portal
de revistas científicas brasileiras, pioneiro no uso do acesso aberto no
Brasil e um dos responsáveis pelo aumento da visibilidade da nossa produção
científica em nível nacional e internacional. Recentemente, um
bibliotecário acadêmico americano, simpático aos editores comerciais e
crítico feroz do movimento de acesso aberto, publicou um artigo comparando
o SciELO a uma “favela de publicações”, e as editoras comerciais a “bairros
agradáveis”. Seu desrespeito com a publicação científica na América Latina
foi repudiado pelo SciELO e pela comunidade científica com respostas que
soaram como uma renovação do apoio generalizado ao acesso aberto nessa
região.

No que se refere à Fiocruz, para execução da sua política de acesso aberto,
ela aperfeiçoou em 2014 o repositório digital Arca, criado para disseminar
e preservar a sua produção intelectual. Ele conta hoje com 4.698 artigos
científicos, 2.224 dissertações de mestrado e 867 teses de doutorado. Em
2015, a Fiocruz lançou o seu Portal de Periódicos, reunindo as sete
revistas científicas que edita: “Cadernos de saúde pública”; “Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz”; “História, ciências, saúde — Manguinhos”;
“Trabalho, educação e saúde”; “Revista Eletrônica de comunicação,
informação & inovação em saúde”; “Vigilância sanitária em debate”; e
“Revista Fitos”. Em dois espaços digitais, o leitor tem acesso gratuito a
significativa parcela de literatura científica da área de saúde pública
produzida no Brasil e no exterior.

Hoje, o engajamento da comunidade científica e de governos, que editam leis
em prol do acesso aberto, ocorre em todo o mundo. No Brasil, iniciativas
como as da Fiocruz e do SciELO precisam do apoio das agências públicas de
fomento à pesquisa, criando políticas para publicação em acesso aberto de
artigos oriundos de pesquisa financiada com seus recursos.

Vermelho
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