[ABE-L] Dinâmica de Populações: Paul Singer

Carlos Alberto de Bragança Pereira cpereira em ime.usp.br
Qua Abr 18 10:15:09 -03 2018


Faleceu no dia de ontem um grande intelectual e professor dos melhores  
que tive.  Paul Singer era uma personalidade marcante para todos os  
que o conheceram.  Eu tive o privilégio de ser aluno do Professor  
Singer, anos atrás. Em 1967 fui enviado pela FENSP (eu era auxiliar de  
ensino) para um curso de Dinâmica de Populações, realizado na  
faculdade de Saúde Pública da USP. Estava eu ainda no terceiro ano da  
ENCE e tinha tido aulas de demografia com o saudoso Professor Lira  
Madeira.  Com a anuência dele, fui dispensado das últimas provas do  
final de ano, pois eu já tinha conseguido notas para ser aprovado  
naquele setembro de 67 e assim segui para São Paulo.  Embora tenha me  
graduado pela turma de 68, Dinâmica de Populações foi meu primeiro  
curso de pós-graduação.  Elza Berquó, Lucila Milanesi, Ruy Laurenti,  
Cândido Procópio e Paul Singer foram meus ilustres professores naquele  
curso.  Abaixo listo alguns documentos que falam sobre esses  
professores.  A minha participação neste curso de dinâmica de  
populações caracterizou minha segunda viagem para fora do estado do  
Rio.  A minha primeira viagem em 1964 foi para fazer pesquisa  
eleitoral para o Mauro Borges em Goiás.  No meio de nosso trabalho,  
estourou golpe contra o Governo Jango. Vejam que foram duas viagens  
marcantes em minha vida.  Por fim, virei professor da USP no início de  
1969 e aqui em São Paulo estou até hoje.  Mas fatos marcantes ligados  
ao curso de DP ficam na minha memória.

1.	Eu era o mais jovem naquele ambiente de ilustres médicos,  
sanitaristas, sociólogos e jornalistas para os quais o curso foi  
pensado e criado.  Eu era o único sem diploma universitário e assim  
não estava credenciado a ter o diploma do curso.  A Dra Berquó um dia  
me chamou e me disse que eu poderia ser diplomado se no meu trabalho  
de final de curso eu fosse orientado pela Lucila, a mestra mais brava  
do curso. É claro que aceitei, pois eu apreciava muito a aula da  
Lucila que falava sobre controle de natalidade e aborto no Brasil.  
Assim escrevi meu primeiro trabalho de “pesquisa” – mostrava que não  
teria efeito algum o controle da natalidade nas cidades – e recebi meu  
diploma de pós-graduado sem graduação.

2.	Ruy Laurenti era vice-reitor quando fui diretor do IME e com a  
ajuda e apoio dele montamos uma equipe administrativa de valor,  
inclusive fazendo um projeto de casa própria para funcionários: muitos  
destes ainda moram nos imóveis adquiridos pelo programa.

3.	O Professor Singer tinha uma didática que muito me agradava.  No  
entanto ao final de cada aula eu ia conversar com ele sobre alguns  
equívocos na descrição formal dos modelos.  Nada sério, mas ele na  
aula seguinte corrigia aspectos equivocados.  Fizemos de fato uma boa  
parceria durante o tempo que ele lecionou para nossa turma.  Terminado  
o curso fiquei muito tempo sem ver o professor Singer.  Vez por outra  
cruzava com ele e apenas cumprimentávamo-nos.  Muitos anos depois, o  
Professor Jair da Saúde Pública deu uma festa em um restaurante para  
comemorar sua livre docência. O professor Singer sentou ao lado de  
nossa mesa de costa para mim.  Eu então virei para trás e perguntei se  
ele se lembrava de mim e ele respondeu: Claro que lembro você é o  
Carlos Alberto de Bragança Pereira quem perturbou muitas de minhas  
aulas.  Nós rimos muito e batemos um longo papo sobre o que estávamos  
fazendo.  Passado outra vez um longo tempo eu tive a oportunidade de  
trabalhar em pesquisas eleitorais com o filho André Singer.  Em  
seguida fui membro da tese de doutorado dele e, como sempre, fiz uma  
arguição longa.  Defendida a tese e aprovado o candidato fomos  
convidados para a festa na casa do pai Paul. Quando cheguei o mestre  
Paul me recebeu carinhosamente e me perguntou se eu tinha mesmo de  
perturbar também o filho. Paul Singer foi um professor dos melhores  
que tive e certamente será bem recebido pelo criador.  André  
gentilmente colocou um agradecimento para mim em seu livro sobre sua  
tese.

É interessante ver que algum fato nos traz lembranças do passado de  
onde formamos nossa cultura acadêmica.  A lembrança e os fatos  
passados são o maior patrimônio de nossa formação acadêmica.

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/04/fhc-paul-singer-economista-militante-e-ser-humano.shtml

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89101988000200012&script=sci_arttext&tlng=en

http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2017/12/030-037_entrevista-elza-bercquo_262pdf.pdf

http://jornal.usp.br/artigos/em-memoria-do-professor-ruy-laurenti/

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101967000100007



-- 
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo





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