[ABE-L] matéria veiculada pelo JC

Doris Fontes dsfontes em gmail.com
Ter Jan 28 08:49:41 -03 2020


Aproveitando o assunto sobre "ciência de dados", matéria da Folha de hoje:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/01/numero-de-professores-que-pedem-demissao-da-usp-dispara.shtml

Para quem não tem a Folha:

*Número de professores que pedem demissão da USP dispara*
*Universidade teve 73 pedidos de exoneração e 70 de licença não remunerada
em 3 anos; evasão afeta áreas como computação*
*Angela Pinho*
*SÃO PAULO*

*O número de professores que pedem para sair da mais prestigiada
universidade do país deu um salto nos últimos três anos.*

*De 2017 a 2019, 73 docentes pediram exoneração da USP, e 70 solicitaram
afastamento não remunerado, mostram dados obtidos pela Folha após pedido
feito com base na Lei de Acesso à Informação.*

*Nos três anos anteriores a esse período (2014 a 2016), foram 47 demissões
a pedido e 23 licenças do mesmo tipo.*

*A crescente saída de professores está ligada a melhores oportunidades de
trabalho no exterior e em outras instituições educacionais do país. Outros
motivos citados por pesquisadores são a situação política do Brasil e os
cortes na ciência, além de questões pessoais.*

*O aspecto salarial também veio à tona nos últimos dias, com a decisão do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, de
equiparar o teto de vencimentos das universidades estaduais ao das
federais.*

*No caso de São Paulo, a medida elevou o limite de R$ 23 mil para R$ 39,3
mil por mês.*

*Ao defender a medida, reitores das estaduais paulistas citaram a saída de
professores como uma das consequências da disparidade salarial, ao lado de
aposentadorias antes da idade obrigatória e do baixo número de interessados
em concursos de algumas áreas.*

*A reportagem conseguiu localizar informações sobre a situação atual de 42
dos 73 docentes que pediram demissão da USP nos últimos três anos.*

*Cerca de metade deles (22) foi trabalhar, lecionar ou fazer pesquisa em
instituições no exterior. Oito migraram para universidades federais e cinco
para instituições de ensino privadas, principalmente na economia (Fundação
Getúlio Vargas e Insper).*

*Já entre os que pediram licença não remunerada, há os que foram fazer
pesquisa ou lecionar no exterior e os que partiram para outras instituições
de ensino, como é o caso do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT),
licenciado do departamento de ciência política da USP e atualmente no
Insper.*

*O afastamento não remunerado na USP é permitido por um prazo de até dois
anos, prorrogável por mais três para atividades como pesquisa e ensino em
outra instituição, mandatos eletivos e participação em eventos acadêmicos
—nesse terceiro caso, porém, o profissional não costuma abrir mão do seu
salário.*

*O total de 143 docentes exonerados a pedido ou em licença não remunerada
na USP nos últimos três anos não chega a comprometer, de forma geral, o
funcionamento de uma universidade com 5.626 educadores.*

*Mas, em algumas áreas com mercado mais dinâmico, as saídas interrompem
projetos acadêmicos e sobrecarregam os profissionais que ficaram com
atividades administrativas e orientações, até porque nem todos os cargos
vagos são repostos.*

*O ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP, em São
Carlos, é uma das unidades que mais perdeu profissionais na USP nos últimos
anos.*

*Em julho de 2015 (dado mais antigo disponível), o instituto tinha 141
professores. Atualmente, são 126. O vice-diretor André Ponce de Leon
Carvalho explica que, desde aquele ano, sete docentes efetivos pediram
exoneração, nove temporários solicitaram rescisão e 16 outros educadores se
aposentaram antes da idade obrigatória no serviço público (75 anos).*

*O êxodo, afirma ele, deve-se principalmente ao mercado internacional
aquecido nas áreas de ciência de dados e inteligência artificial. Em regra,
quem pede para sair é porque recebeu convite para sair do país, seja para
migrar para uma instituição acadêmica ou uma empresa. *

*Segundo Carvalho, além do salário, pesa na decisão do professor nessa
situação a redução de verbas para a ciência no Brasil e o fato de as
universidades estrangeiras, em regra, permitirem que o docente dê muito
menos aulas e possa se dedicar mais à pesquisa.*

*A consequência, relata o vice-diretor, é a sobrecarga dos professores que
ficam e a interrupção de diversas pesquisas em andamento. “O Brasil está
perdendo a onda em inteligência artificial porque não tem gente
suficiente”, diz.*

*A área de medicina é outra entre as mais atingidas pelas saídas
voluntárias de docentes. *

*“Nos últimos três anos temos perdido muitos professores para universidades
federais e particulares e também para hospitais privados de grande nome
porque os salários da USP não estão atrativos frente ao mercado externo”,
afirma Margaret de Castro, diretora da Faculdade de Medicina do campus de
Ribeirão Preto. Ela diz acreditar que a decisão de Toffoli pode tornar o
trabalho nas instituições estaduais mais atrativo.*

*O campo da economia é outro atingido pela perda de professores. Em 2017, a
Folha mostrou que o departamento perdeu um terço do seu corpo docente em
dois anos devido a aposentadorias e pedidos de exoneração.*

*O salário, porém, não é o único motivo que leva um professor a sair da
USP, nem mesmo o principal.*

*Após duas décadas como docente da instituição, a bióloga Sabine Eggers
conta que fatores internos e externos à universidade a levaram a pedir
demissão da universidade neste ano.*

*A insatisfação com a USP se devia principalmente à falta de infraestrutura
e apoio institucional: problemas com internet, água e luz, que se repetiam
algumas vezes por mês, e ausência de apoio técnico. *

*Por outro lado, diz, ela também não andava feliz com os rumos da educação
no Brasil e com a instabilidade política e não tinha esperança de que algo
fosse mudar a curto e médio prazo. O trânsito e a violência em São Paulo
também a incomodavam.*

*Sabine conta que decidiu prestar um concurso no Museu de História Natural
de Viena e passou em primeiro lugar. Gostaria de ter ficado como professora
da USP com cursos de verão intensivos e orientação de alunos, mas não lhe
foi permitido. A saída foi pedir a exoneração.*

*Outro professor que pediu demissão, da área de engenharia, diz que tomou a
decisão de ir para uma universidade federal de outro estado por razão
familiar, mas cita a pressão por resultados no estágio inicial da carreira
na USP como um fator que tem levado colegas à depressão, o que pode
contribuiu para a insatisfação com o trabalho.*

*“O período de estágio probatório é agressivo, principalmente na USP,
porque você tem que produzir, aprender a preparar aula e fazer parte dos
conselhos da universidade para ganhar pontos para a progressão na carreira.
Você trabalha mais de oito horas por dia, escreve artigo no fim de semana e
é comum o parecerista do relatório de estágio probatório reclamar da sua
produção”, diz ele, que pediu para não ser identificado.*

*“Sem dúvida nenhuma, tem-se um orgulho em ser professor da USP. Mas isso
só vale do portão da instituição para fora, ou seja, para a sociedade.
Dentro, você é apenas mais um”, conclui.*

*Procurada, a USP não respondeu se tem um diagnóstico sobre o motivo do
aumento da saída de professores.*

*Por escrito, o reitor Vahan Agopyan afirmou acreditar que a decisão do STF
vai ajudar a amenizar o problema. *

*"O fato de mantermos um teto muito baixo era extremamente desmotivante
para professores mais antigos e significava uma frustração para os jovens,
que acabavam optando por seguir carreira em lugares onde não há esse tipo
de limitação, inclusive em outros países", disse.*


Em seg., 27 de jan. de 2020 às 17:02, Lisbeth Cordani <
lisbethkcordani em gmail.com> escreveu:

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> http://www.jornaldaciencia.org.br/edicoes/?url=http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/15-surgem-os-primeiros-cursos-de-graduacao-em-ciencia-de-dados/
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