[ABE-L] compartilhando... livro a ser distribuído e não vendido
Lisbeth Cordani
lisbethkcordani em gmail.com
Seg Set 23 17:01:36 -03 2024
Lançamento de livro sobre Evolução da ABC reúne cientistas e estudantes no
Rio de Janeiro
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*A obra “A Evolução é Fato” foi produzida por 28 especialistas que
trouxeram para uma linguagem didática as inúmeras evidências que demonstram
a evolução da vida na Terra*
Nos dias 19 e 20 de setembro, na sede da Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep) e no Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), ambos no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Ciências
(ABC) lançou seu novo livro, “*A Evolução é Fato*”, fruto do trabalho de 28
cientistas sob coordenação do Acadêmico *Carlos Frederico Menck*, que
juntos compilaram histórias e descobertas da ciência que não deixam dúvidas
sobre a ocorrência da evolução biológica.
“Decidimos por criar um livro bonito, ilustrado, voltado para
não-especialistas, em que procuramos utilizar, sempre que possível,
exemplos brasileiros. Essa uma resposta da Academia para a sociedade,
deixando muito claro qual sua posição nos debates públicos em torno da
Evolução”, afirmou Menck.
Conforme reforçou a presidente da ABC, *Helena Bonciani Nader*, a obra
deverá ser uma ferramenta para professores em sala de aula. Ela lembrou que
não se trata de uma disputa entre ciência e religião, já que grandes
cientistas – como o próprio Gregor Mendel, o pai da genética – eram
religiosos. “A ciência não é uma questão de fé, é uma questão de dados.
Essas duas coisas não rivalizam, a fé é pessoal de cada um”, afirmou.
Como parte desse esforço, o segundo dia do lançamento recebeu alunos de
ensino fundamental da *Escola Municipal Olga Benário Prestes*, de Macaé,
cuja vinda foi viabilizada pelo *Instituto de Biodiversidade e
Sustentabilidade* (Nupem – UFRJ). Os alunos puderam acompanhar
apresentações sobre a origem do universo e da vida na Terra; a evolução das
plantas, dos animais e dos microorganismos; a extinção dos dinossauros e
muito mais. Ao final, cada um dos alunos recebeu uma cópia do livro de
presente!
*Uma viagem desde os primórdios da Terra*
O livro começa antes mesmo da vida surgir e, por isso, conta com geólogos
entre seus autores. Entre eles o professor Umberto Cordani, que nos traz
para o período Hadeano, entre 4,5 e 4 bilhões de anos atrás, quando a Terra
ainda era uma bola de fogo inabitável. Só após um grande resfriamento, que
levou a formação dos primeiros oceanos, é que a vida tornou-se possível.
“Isso se deu no período seguinte, que chamamos de Arqueano, quando
começaram a surgir as primeiras evidências de carbono orgânico e as
primeiras bactérias”, explicou.
*A origem da vida e o “mundo do RNA”*
Mas como exatamente a vida surgiu? Para começar a responder essa pergunta,
precisamos olhar para as três moléculas fundamentais da vida: o DNA, o RNA
e as proteínas. As três são cadeias de carbono compostas por pequenos
“blocos” que se repetem. No caso do DNA e do RNA, são os nucleotídeos, e no
caso das proteínas, os aminoácidos. Na maioria dos seres vivos atuais, a
informação hereditária – aquela capaz de ser transmitida na reprodução – é
armazenada no DNA, mas essa molécula sozinha não é capaz de formar um
organismo. Para isso, a informação contida no DNA é transcrita em RNA e
depois traduzida em proteínas, essas sim, capazes de realizar as funções do
nosso corpo.
Isso só é possível graças ao que chamamos de código genético, cuja
descoberta foi um marco na história da biologia. Resumidamente, cada
sequência de três nucleotídeos sempre corresponderá a um mesmo aminoácido,
permitindo que seja possível olhar para uma molécula de DNA ou RNA e saber
exatamente qual proteína ela irá produzir. Esse código é compartilhado por
todos os seres vivos e é a prova de que todos somos descendente de um único
ancestral comum.
Portanto, numa ponta temos o DNA, que é capaz de se replicar mas não de
formar um organismo, e do outro as proteínas, que formam os organismos e
catalisam processos metabólicos, mas não se replicam sozinhas. E no meio
temos o RNA, o qual também é capaz de se replicar e catalizar funções
metabólicas – como os ribossomos, as “máquinas” responsáveis por traduzir
um RNA em uma proteína, eles próprios feitos de RNA.
O professor *Sávio Torres de Farias* explicou que, por conta disso,
acredita-se que a origem da vida reside no RNA. “Há cerca 4 bilhões de
anos, o cenário era de um ‘mundo do RNA’, onde essas moléculas
replicavam-se e também realizavam funções. Nesse mundo, só posteriormente
surgiram o DNA e as proteínas. Mas existe uma hipótese alternativa onde as
proteínas surgiram junto com o RNA, e o DNA veio depois”.
*A fotossíntese, os eucariotos e o primeiro roubo de tecnologia da História*
Uma vez estabelecida essa primeira forma de vida, ela logo se encapsularia
e começaria a desenvolver as primeiras atividades metabólicas, surgindo as
primeiras células sem núcleo – procariontes – não muito diferentes das
bactérias que conhecemos hoje. Durante cerca de dois bilhões de anos esses
organismos habitaram os oceanos primordiais e evoluíram.
Nesse período, um dos desenvolvimentos mais notáveis foi o surgimento da
fotossíntese, pela qual algumas bactérias, chamadas cianobactérias,
passaram a utilizar a luz solar para produzir energia, liberando oxigênio
no processo. Conforme esse novo gás se acumulava na atmosfera, muitas
bactérias não adaptadas acabaram extintas, mas algumas tinham o necessário
para usar o oxigênio para gerar energia, nas primeiras formas de respiração
aeróbica.
Então, por volta de 1,9 bilhões de anos atrás, surgiu um novo tipo de
célula dividida em “compartimentos”, entre os quais um núcleo para o DNA.
Eram as primeiras células eucarióticas. “Com isso, essas células se
tornaram capazes de regular a expressão dos seus genes, criando novas
formas de diversidade. Os eucariotos puderam formar organismos extremamente
variáveis e complexos, o que é ótimo para a seleção natural”, explicou a
professora *Lucille Winter*.
Uma das primeiras inovações dos eucariotos foi a absorção de bactérias
fotossintetizantes e aeróbicas, as ancestrais dos plasmídeos e das
mitocôndrias, respectivamente. Essas duas organelas celulares se tornaram
responsáveis por realizar essas mesmas funções dentro dos seus novos
hospedeiros. “Essa endossimbiose foi o primeiro caso conhecido de roubo de
tecnologia”, brincou o professor *Daniel Lahr*.
Outra inovação foi a pluricelularidade, cujas primeiras evidências aparecem
há cerca de 1,4 bilhões de anos atrás. Pela primeira vez, um único
organismo passou a ser formado por mais de uma célula trabalhando em
conjunto. A partir daí, o cenário estava preparado para uma verdadeira
revolução da vida na Terra.
*A Explosão do Cambriano e a importância do registro fóssil*
O pesquisador *Thomas Fairchild* lembrou que uma das forças da geologia é o
seu poder para desvendar o tempo profundo. Algumas evidências de formas de
vida primitiva são marcantes há bilhões de anos, como os estromatólitos,
formações características das cianobactérias. Esses e outros tipos de
microfósseis dominaram o registro geológico até cerca de 500 milhões de
anos atrás, quando, no período imediatamente anterior ao que chamamos de
Cambriano, uma profusão de fósseis pluricelulares começou a aparecer.
Muitos desses organismos são diferentes de tudo o que conhecemos hoje em
dia, mostrando que houve uma fase de intensa “experimentação evolutiva”
antes de que os grandes grupos de animais e plantas se estabelecessem. “Há
toda uma diversidade de organismos que ocorrem no registro fóssil e que nos
contam sobre o processo evolutivo”, explicou o paleontólogo Alexander
Kellner <https://www.abc.org.br/link/alexander-wilhelm-armin-kellner/>.
“Como se derrubaria a Evolução? Nas palavras do geneticista britânico John
Haldane: ‘só se descobríssemos um coelho no pré-Cambriano’”, brincou.
*Chegamos ao Ser Humano*
A partir daí, a evolução seguiu seu rumo dando origem à biodiversidade que
conhecemos hoje. Até que muito recentemente, apenas 5 milhões de anos
atrás, um grupo de primatas divergiu de seu ancestral comum com os
chimpanzés, passou a andar em dois pés e, após deixar um vasto número de
espécies-primas para trás, se tornou o *Homo sapiens*, o ser humano moderno.
Apesar de ser apenas um sopro na história da vida, a evolução humana é o
ponto mais sensível do debate. Mesmo Charles Darwin não teve coragem de
abordá-la em seu clássico A Origem das Espécies, vindo a fazê-lo apenas em
seu livro posterior, A Descendência do Homem, pelo qual foi hostilizado. O
próprio Alfred Russel Wallace, que divide com Darwin o mérito de ter
primeiro descrito a seleção natural, morreu sem aceitar as inferências
óbvias que a teoria trazia para a nossa própria espécie.
Mas a conclusão é inescapável. Seja nos traços que compartilhamos com os
outros primatas, seja no fato de compartilharmos 98,5% de DNA com os
chimpanzés, as evidências científicas não deixam dúvidas. O ser humano é um
animal como outro qualquer, produto de um processo de evolução por seleção
natural que vem ocorrendo há 4 bilhões de anos.
*Com mais de 20 palestras, os dois dias de lançamento são um prato cheio
para quem quer saber mais sobre evolução, origem da vida e muito mais.
Confira!*
*Acesse aqui a versão digital do livro “A Evolução é Fato”!*
ABC
<https://www.abc.org.br/2024/09/20/lancamento-de-livro-sobre-evolucao-da-abc-reune-cientistas-e-estudantes-no-rio-de-janeiro/>
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