[ABE-L] Mais sobre predatórias: Leiam pois está bom!

Carlos Alberto de Bragança Pereira cpereira em ime.usp.br
Seg Ago 24 22:03:04 -03 2015


Caros Redistas:
Tive a honra de receber a visita de fraterno amigo de longos anos.   
Claro que ele pertence ao nosso meio e é dos bons: Zé Carvalho é como  
muito de nós o conhece.  De nosso encontro acertamos de enviar um  
texto mais tranquilo e sobre aquilo que discutimos.  Ele ficou então  
de fazer o texto o qual não tive coragem de mudar uma vírgula.  Está  
muito bom, creiam.

Vejam lá

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Predatórias? As publicações predam o que? Quem é o parasitado, ou  
expoliado? O establishment editorial, que existe há muito tempo e que  
emprega recursos pré-Internet? Deve ser. A substituição do velho pelo  
novo é um dos princípios da dialética de Engels e Marx. Cito, meio de  
brincadeira, pois eles, Engels e Marx, também estão já fora de moda,  
já parece propaganda dos atuais governantes deste país, que xingam  
espertamente os adversários políticos, fazendo muita propaganda com  
pouco argumento.  Quem não conhece a "zelite branca"?

O nome "predatório" é malicioso e escolhido de propósito para dar mau  
tom às publicações abertas.

Pois bem. Existem publicações abertas, como a Wikipedia, que deram  
certo e servem a muita gente hoje. Minha Enciclopédia Britannica  
sequer serve de enfeite hoje. Tenho alguns periódicos top (top?),  
desde 1975. Eles incluem o JASA, Technometrics e Biometrics, Annals.  
Muito me serviram. Hoje são um volume morto. Tenho preguiça de andar  
tres metros e buscar um exemplar. Pego de minha mesa, na Internet. Sei  
que isso não os faz OPEN. Mas o custo de publicar na Internet é  
incomensuravelmente mais baixo e abre caminho para quem quiser publicar.

A qualidade? Ora, a sociedade, o mundo, acaba por filtrar o útil do  
inútil. Nós gostamos do R? É exatamente a mesma coisa. Quem quiser,  
pode escrever rotinas para o R. Nem todas são boas, mas muitas são. O  
software é extremamente útil. E, como a Wikipedia, vai se corrigindo,  
pela colaboração de milhares de pessoas. Nem preciso falar do Linux, e  
dos softwares abertos disponíveis para todos nós. Erros existem.  
Descobertos, são muito rapidamente corrigidos. Enquanto isso, os da  
Micro$oft, Apple e coleguinhas supostamente passsam por um processo  
jurássico de qualidade garantida, ISO e sei lá o que mais, e dá no que  
vocês sabem. Ou deviam saber.

Sem dúvida alguma, o modelo aberto só funciona com liberdade e  
facilidade total de comunicação. Este é um fato ainda novo, que veio  
com a Internet. Mas que já funciona, e funciona bem.

Os paradigmas vão mudar. Haverá resistência. Alguma resistência de  
conservadorismo próprio de quem está acomodado no sistema; outra,  
forte e organizada, das organizações que correm o risco, o grande  
risco, de morrerem, logo depois de viverem o pináculo da glória. Mas é  
inevitável. Aposto que daqui a poucos anos, taxis, como os conhecemos,  
serão lembrados em museus. O Uber vai ficar. Conheço gente que não usa  
o Waze, pois tem medo de ser levado a passar em locais perigosos. Mas  
o Waze veio para ficar. Ou ele ou sucedâneos. Eu comprei GPS, logo que  
surgiram. Gosto de andar nas montanhas e no mato. Gastei dinheiro com  
mapas, supostamente de qualidade (ah, Garmin!). Logo apareceram mapas  
colaborativos, gratuitos, muito mais detalhados e atualizados.

Posso me alongar nos exemplos, mas creio que chega.

Voltando às revistas, não acredito em tutela. Nem os mais reconhecidos  
próceres de estatística, ou de que área for, vão me tutelar, e dizer o  
que devo ler. Aliás, há gente no Brasil, querendo tutelar a imprensa.  
É quase a mesma coisa. No mundo editorial "científico", isso cria um  
grupo de companheiros, de padrinhos e afilhados, que pesam mais do que  
a qualidade que deveria melhorar, com o filtro da censura. Os nihil  
obstat necessários para publicação muitas vezes decorrem apenas de  
autores estarem "in". Quanto à qualidade dessas publicações, eu posso  
arrolar muita coisa fraca. A maioria dos artigos que leio (e eu leio  
um pouquinho) nada trazem de novo; muitas vezes são comunicações de  
cálculos que se poderiam fazer, quando - e se - necessários. Ideia  
nova... ah! isso é raro. Há artigos até errados, que passaram por  
juizes - os que a turma "in" chama de "referees". Há um exemplo, do  
Sokal: https://en.wikipedia.org/wiki/Sokal_affair. Ele publicou um  
artigo, em revista "séria", repleto de absurdos. Sokal quis provar -  
provou - que seria possível publicar um artigo que, embora puro  
besteirol, contivesse as palavrinhas chave e sabujice aos grandões da  
área. Em tempo: Sokal é físico; a revista é da área de Ciências  
Sociais. Leiam (leiam mesmo) o link que lhes mando acima. Se tiverem  
tempo, leiam o livro em que Sokal narra o episódio. E podem escolher  
rir muito ou chorar.

Enfim... deve haver muita picaretagem nas publicações abertas. Como há  
nas da (oops, escrevi nomes de editoras, mas tirei. Elas, que pagam  
gente do establishment para inventar e divulgar nomes como  
"predatórias", estão processando todo mundo. Mas vocês, nós todos, as  
conhecemos.) Viva e deixe viver, é o que é melhor de se fazer. E os  
pontinhos de Capes e CNPq, ora bolas... às favas (a menos que conte o  
valor das publicações, por seu conteúdo).

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Obrigado meu caro amigo Zé.
Acabamos de saber que uma das companhias de tefonia quer proibir a  
parte do áudio do whatsapp
Dizem que é pirataria!
Saudações
Carlinhos

-- 
Carlos Alberto de Bragança Pereira
http://www.ime.usp.br/~cpereira
http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo





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