[ABE-L] Fator de Impacto

Adriano Polpo de Campos apolpo em ime.usp.br
Ter Set 29 22:01:50 -03 2015


Caros colegas da rede, fiquei bem animado com a discussão vigente. Não  
é uma discussão simples e, a meu ver, a solução, se houver, não é nem  
um pouco trivial.

Mas antes de mais nada, um ponto para relembrar: o Qualis não é nem  
foi concebido para avaliar indivíduos. Foi concebido para avaliar  
grupos!

Claro que um critério de avaliação de grupos (pós-graduação) cairá nos  
ombros dos indivíduos que compõem o grupo.

Como instrumento para avaliar grupos, apesar das imperfeições, não é  
tão ruim. Eu não participei de sua construção nem tão pouco dei  
palpites a respeito, mas acompanhei à distância e me recordo de várias  
situações. Certamente é criticável e sempre será.

Conversando, em certa ocasião, com o coordenador de área da CAPES, ele  
fez a seguinte observação: crie um Qualis que atenda a você e veja se  
serve para os outros grupos. Antes de mais nada tente fazer o  
exercício de criar um Qualis que seja justo apenas para o seu grupo.  
Penso não ser tarefa fácil!

Vejo que o uso objetivo das métricas é justo mas deve ser acompanhada  
de certo subjetivismo também. Explico: Como estatísticos sabemos que  
qualquer estatística, para avaliação, deve ser necessariamente  
acompanhada de interpretação. Em problemas biológicos, por exemplo, há  
interpretações estatísticas e biológicas e não devem ser usadas  
separadamente.

Não esqueçamos que os índices (fator de impacto, google scholar,  
qualquer outro...) não são unânimes. Muito pelo contrário, há uma  
grande discussão sobre a validade e viabilidade deles. Eleger apenas  
um não me parece sensato.

Usar apenas critérios objetivistas ou apenas subjetivistas não me  
parece justo. Ao usar-se apenas a regra objetiva, esta passa a ser o  
que vai nortear ou guiar as pessoas.

Parafraseando o amigo Julio: A regra define a conduta ou a conduta  
dita a regra?
Por exemplo contar apenas pontinhos para a progressão já provou ser  
critério inadequado.

A ciência deveria ser livre de entraves e deve ser o espaço da  
diversidade; não deve existir hierarquia em ciência! Cientistas devem  
quebrar regras! Basta lembrar de Galileu.

Por outro lado, apenas com atitudes subjetivistas ficamos sujeitos a  
criação dos chiqueirinhos do professor Julio. A pior situação  
subjetivista é quando nos dizem que nosso trabalho não está na moda e  
assim não é adequado para esta ou aquela revista.

Como podem notar pelo meu discurso, não vejo como simples os  
julgamentos de produtividade quando estamos comparando pessoas. Somos  
de fato julgados continuamente por revistas, em projetos, para  
progressão, em bancas, atualmente por alunos, por comitês, etc. Creio  
que em alguns desses canais a subjetividade sobressai sobre  
objetividade e em outros o inverso. O interessante sempre é termos em  
mente que um indivíduo pode ficar muito bravo se for chamado de feio  
quando é e ficar felicíssimo se for chamado de bonito quando não é. O  
julgamento de pessoas só tem sucesso unânime no positivo e nunca no  
negativo.

Dessa forma precisamos ser precisos e cuidadosos ao construirmos  
regras e estas devem ser aprovadas pela maioria das pessoas que  
participam do julgamento, tanto os jurados como os que serão avaliados.

Na academia nossos alunos têm direito a revisão da prova. Assim,  
quando alguém é julgado de forma negativa deve ser informado dos  
critérios e das razões das decisões sobre a VIDA dele. Deve ser assim  
nos artigos, nos concursos e com os pedidos de bolsa.

Lendo as discussões apresentadas pelos colegas da rede, tive a  
impressão que concordo em parte, vendo pontos positivos, em todas as  
mensagens, mas também vejo pontos negativos em todas.

Ainda bem que estou do lado dos que são julgados e não dos julgadores  
e construtores das regras.


Saudações,

Adriano.




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