[ABE-L] Uma sociedade em crescente nível de corrupção e decrescente de satisfação
Carlos Alberto de Bragança Pereira
cpereira em ime.usp.br
Qui Dez 1 17:03:15 -03 2016
UMA SOCIEDADE EM CRESCENTE NÍVEL DE CORRUPÇÃO E DECRESCENTE NÍVEL DE
SATISFAÇÃO
Completei esse ano 70 anos. Assim, tive a “oportunidade” de
presenciar muitos tristes fatos políticos. É bom a gente lembrar esses
fatos para não ser mais uma vez surpreendido.
1955 foi o ano do suicídio de Getúlio que trouxe um caos na disputa
pelo poder do próximo mandato presidencial. Felizmente, por obra de
um general, a democracia venceu e foi possível Juscelino assumir a
presidência. Veio então a campanha do “petróleo é nosso” que derrubou
a vontade de Bob Field. Jussa proporcionou a época de maior
desenvolvimento econômico Brasileiro. Mas também, foi um período de
muita inflação. Naquele momento, um mal desconhecido da sociedade
brasileira. Muitos perderam com a falta de correção monetária. A
Petrobras passou a ser orgulho de nossa sociedade, uma das melhores
empresas do terceiro mundo.
A Petrobrás passou a ser o orgulho de nosso povo. O pós Juscelino foi
a vitória de Jânio para a presidência: numa auto-tentativa de golpe se
demitiu. Jango então conseguiu assumir a presidência, pois era o vice
de Jânio. Justo como ocorreu recentemente com Temer, Jango também
assumiu após um caos provocado pela presidência. Para assumir Jango
aceitou o regime parlamentarista. Assim como Jango, Temer fez parte de
mandato caótico anterior. Direita e esquerda tiveram papéis trocados
nesses dois episódios das vice-presidências.
Os militares então tiraram Jango do poder em um golpe militar muito
bem articulado, com a promessa de Castelo Branco fazer uma eleição
dois anos depois do golpe. Nesse ínterim, Carvalho Pinto em São Paulo
criou a FAPESP com uma legislação própria e avançada para nossos
tempos. Colocou na constituição paulista regras administrativas
descentes: A FAPESP não pode gastar mais do que 5% de seu orçamento
com a burocracia. Os políticos quiseram modificar as regras
constitucionais da FAPESP para tirar desta instituição recursos para
empresas privadas. Mas as regras foram bem protegidas e não houve
possibilidade, graças ao Mario Covas, deste tipo de tentativa de tirar
recursos da academia. Com algumas situações positivas, neste imenso
emaranhado, ainda não havíamos perdido a esperança de uma sociedade
Brasileira melhor.
Voltando a política, tivemos os militares no poder por muitos anos. É
bem verdade que justo esses ditadores permitiram o desenvolvimento da
ciência no Brasil com recursos para EMBRAPA, CNPq e CAPES, permitindo
a formação de um número considerável de pessoas que foram para
programas de doutorado no exterior em instituições de muito valor
científico. A sociedade brasileira com muita luta e após a derrocada
do desenvolvimentismo dos militares, conseguiu mudar a história,
embora com uma eleição indireta para a presidência.
Com a derrocada da ditadura tivemos um dos maiores revezes de nossa
vida. Tancredo, a esperança maior de nossa sociedade, faleceu antes
de assumir a presidência depois da eleição indireta. Seu vice, um
grande amigo de Lula nos dias de hoje, assumiu a presidência: José
Sarney estava na política desde o início da década de 60 e era um dos
grandes quadros da UDN e em seguida da ARENA: enfim um direitista
participante ativo dos governos militares. Novamente um ocaso de
caos; uma inflação altíssima e fora de controle. Mesmo com alguns
planos monetários não conseguiu controlar o mal maior que era a
inflação muito alta.
O pós Sarney imediato foi a eleição de Collor (amigo de Lula nos dias
de hoje): outro que se mostrou corrupto e logo depois foi impedido de
completar seu mandato. O congelamento da poupança das pessoas foi um
grande equívoco econômico. Collor só teve sucesso na eleição porque
Lula teve um pouco mais de votos do que meu candidato eterno, Leonel
Brizola. Certamente em um segundo turno com Collor, Brizola teria
sido eleito. Para mim, Brizola foi o único político brasileiro, líder,
sem amarras de compromissos espúrios.
Itamar completou, com muita propriedade, o período de mandato
presidencial no lugar de Collor. FHC eleito fez um ótimo governo no
seu primeiro período na presidência. Na época fui informado por uma
“vidente” amiga que o Brasil nunca iria para frente com um nome de
moeda que representava morte: Cruzeiro e cruzado em menção ao símbolo
da cruz. Veio então o Real que mudou muito o Brasil para melhor.
Entretanto, assim como Lula, FHC teve um segundo mandato lamentável,
provocando a eleição de Lula para presidente, estava eu caindo na
REAL. "Acredito em Plutão: cada um deve estar em seu lugar cósmico
estabelecido". A melhor participação do governo FHC foi na verdade a
criação da lei de responsabilidade fiscal.
Veio então Lula, a esperança por uma sociedade melhor, em uma eleição
bem disputada. Fez um ótimo governo no seu primeiro mandato
melhorando muito a nossa sociedade com a inclusão dos mais pobres na
“vida” dos brasileiros. Seguiu-se então o Mensalão no meio do segundo
mandato de Lula. Mesmo assim, com um mandato lamentável, conseguiu
que sua candidata vencesse a eleição, para manter o mesmo tipo de
governo, ou negócio. Foi um caos de gestão desde o primeiro período
presidencial de Dilma. Com a proibição dos bingos e de maquinas
caça-níquéis, o Mensalão murchou! Para sua substituição iniciaram a
destruição dos valores da Petrobras: O Petrolão. Também pudera, o PT
se juntou a pior raça de políticos brasileiros. Dentro da ruindade,
escolheram o pior. Os políticos ruins no atual governo são os mesmos
do período negro da presidência. Do REAL promissor veio a atual
REALIDADE da sociedade brasileira. Minha amiga vidente estava mesmo
equivocada: o mal de nossos males não era o nome de nossa moeda, mas a
filosofia de nossa sociedade. A maioria da sociedade pensa mesmo em
tirar o máximo de proveito, em benefício próprio, de qualquer
situação. Como dizia meu saudoso amigo Euclydes; “Carlucho você só
conhece um homem depois que deu poder para ele”. Uma pessoa é honesta
até o dia que deixa de ser! Se morrer antes é um missing data: Riscos
competitivos.
A consequência de nossa história política é o que vemos hoje no
congresso nacional e na política em geral. Um parlamento corrupto e
covarde que se aproveitou de uma comoção nacional para na calada da
madrugada derrubar as normas contra a corrupção que a sociedade
exigia. Eu ainda acreditava na grandeza de algumas pessoas do PT,
mesmo não concordando com posições que veem assumindo. No entanto 2
senadores votaram a favor da proposta de Renan: urgência na aprovação
do que foi enviado pelos deputados. Pensava eu que Humberto Costa e
Lindbergh Farias fossem apenas radicais, agora sei que fazem parte da
cambada dos bandidos. Meus amigos do grupo de renovação estão todos
envergonhados com o que esses bandidos fizeram e continuam fazendo.
Com tudo isso eu penso em meus filhos e meu neto: qual futuro os
espera? MEUS GAROTOS devem ter um futuro longo não como eu que,
felizmente, espero um futuro curto. O grau de satisfação de nossa
sociedade parece uma série temporal com grande decaimento e com picos
de melhora, pequenos, ao longo do temo. Poucos são esses pontos de
melhora!
--
Carlos Alberto de Bragança Pereira
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Stat Department - Professor & Head
University of São Paulo
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