[ABE-L] resultado do PISA
poliveir em ime.usp.br
poliveir em ime.usp.br
Sáb Dez 10 10:06:37 -03 2016
Prezados colegas
Do que o Adriano colocou, acho que vale apena falar do que sei sobre o
ensino nos EUA, muito embora posso está errado, mas o que sei é o
seguinte, o high school deles estão no mesmo nível das nossas
combalidas escolas públicas e segundo especialistas americanos, isso
ocorre, como uma forma de oferecer aos estudantes um maior incentivo a
prática esportiva, com o objetivo de oferecer uma melhor formação para
melhor desempenho nos jogos, sejam eles olímpicos, pan-americanos e
outros, ou seja, nesse nível de escolaridade é a parte esportiva que
possui maior prioridade.
Tanto que, que quando esse aluno vai tentar vaga em universidades
americanas, o curso deles estende dois anos mais, além da duração
normal do curso que ele for fazer, cheguei a conhecer também pessoas
daqui que foram para lá para fazer intercambio e um caso já me chamou
a minha atenção uma certa ve, de uma estudante na época que estudava
aqui em um colégio particular e iria começar a parte de limites, mas
lá queriam que ela fizesse na parte de matemática um curso que diz
respeito a raízes de segundo grau, dizendo que era esse curso que ela
teria de fazer, mas só que se for assim, não vou fazer e que prefiro
voltar ao Brasil, mas depois de toda essa pressão eles autorizaram que
ela fizesse o que pediu.
Conheço casos também, de pessoas que fizeram colégios particulares
como Bandeirantes, Liceu Pasteur, Rio Branco e outros que conseguem
ser dispensados de3sses dois anos a mais nas universidades americanas,
por alegarem que já possuem o conteúdo do segundo grau de lá.
Quanto a PISA, muito embora não possa afirmar em tudo que seja a
melhor forma de avaliação, ma é sim, muito preocupante, e, diria até
que isso é fruto de um sistema de ensino muito desigual sejam eles no
sistema público ou particular, como já dizia um professor de história
de cursinho, aqui existe EScola Particular e Escola Particular, assim
como existe também Escola PÇúb lica e Escola Pública.
Como uma possível solução que vejo, muito emb ora seja difícil a curto
e médio prazo é melhorar as escola spúblicas, principalmente da
maioria delas que se encontram sem qualquer condição, sejam eles em
termos de profissionais que atuam ou de infraestrutura oferecida.
Saudaç~~oes,
Paulo Tadeu Oliveira
Citando Adriano Polpo de Campos <apolpo em ime.usp.br>:
> Car(a)os redistas,
>
> Desculpem minha longa mensagem e possíveis erros de português.
> Acredito que eu fujo um pouco do tema PISA, mas já li muitas
> discussões nesta lista sobre diversos assuntos do nosso cotidiano.
> Não consigo separá-los e por isso, resolvi escrever.
>
> Sobre o resultado do PISA, comparando com outros países:
> desculpem-me, mas não vejo a mesma desgraça dos colegas. Não que eu
> ache que o ensino está bem no Brasil, mas não está nenhuma maravilha
> na Europa ou Estados Unidos, que tem bolinhas azuis. Não digo sobre
> a Ásia pois não tenho informações sobre estas localidades.
>
> Eu morei nos Estados Unidos por 1 ano e conheço alguns professores
> universitários de lá. A realidade das universidades deles não é nem
> um pouco animadora. A qualidade dos alunos que entram são, a meu
> ver, piores do que os alunos que nós recebemos em nossas
> universidades. Claro, lá todos se formam na graduação, mas não
> podemos comparar as graduações, nós somos muito mais exigentes que
> eles (percepção minha). Tanto é que os programas de Doutorado (em
> estatística, ao menos) praticamente não tem americanos. São na
> maioria estrangeiros (chineses, indianos, leste europeu, ...), em
> geral, pessoas buscando melhores oportunidades.
>
> Já na Europa, conheço também alguns professores universitários. Um
> deles relatou que um aluno do 3 ano (último ano!) de um curso de
> exatas não sabia limite, o conceito matemático de limite. Ele ainda
> enfatizou: "não estou dizendo derivada, integral, se soubessem
> somente limite já seria muito bom". Detalhe, um professor inglês me
> disse que integral e derivada era conteúdo do "ensino médio" deles,
> que um aluno de universidade entrava sabendo isso! Será?
>
> Nós criticamos nossos alunos na universidade, sim, eu também o faço.
> Os próprios alunos o fazem. A frase mais comum é: "nossa, o que
> aconteceu, os alunos que estão entrando a cada ano estão piores".
> Agora, até onde eu sei, esta frase é dita desde os tempos de
> D.Pedro. A nossa percepção é sempre que o que estava antes era
> melhor e o que vem depois é pior. Minha bisavó, que era analfabeta,
> dizia isso sobre os netos dela (meus tios e pais). Que eles eram
> muito piores do que a geração dela. Só que os netos dela formaram-se
> em universidades. Quem tem razão? Para mim o fato é, existe
> diferença, no mínimo cultural, mas medir inteligência, não tento
> (claro, o objetivo do PISA não é medir inteligência e não é sobre
> isso que falo).
>
> Obviamente, o PISA é sobre "crianças" de 15 anos. Logo, a comparação
> entre os alunos dos diversos países no nível universitário é
> injusto. Afinal, quantas universidades temos no Brasil? Selecionamos
> somente os melhores entre o todo. Talvez estes nossos melhores são
> melhores que os alunos da Europa e Estados Unidos, em que por lá,
> quase todos vão para universidade.
>
> Neste caso, vou me referir aos Estados Unidos, que conheço um pouco
> mais. O nível de conhecimento do americano em geral, não é nenhuma
> maravilha. Eu não acredito que eles tenham um ensino excelente. O
> problema não é a escola, mas sim a pobreza. Eles tem sim uma
> condição de vida melhor que a nossa (como população).
> Consequentemente, as crianças conseguem ir para as escolas por mais
> tempo e bem alimentadas, em escolas com boas infraestruturas. Tudo é
> uma maravilha? Não, longe disso. Neste caso, talvez o resultado do
> PISA está refletindo outra coisa e não o ensino.
>
> Acho que nós (sociedade, eu incluído) focamos muito no lugar errado
> para buscar a solução do problema. Por isso, raramente conseguimos
> resolver (ou temos a sensação que não há solução para o problema).
>
> Para mim os problemas são:
> 1) Justiça. País sem um sistema de justiça descente não tem como
> melhorar. (por justiça descente entenda: o povo com medo de ser
> punido respeita as leis. No brasil o medo da punição é muito baixo
> ou, se preferir, a certeza da impunição é quase unanime).
>
> 2) Condição de vida: Comida na mesa! Teto! Criança que não precise trabalhar.
>
> 3) Segurança Pública: Não ter medo de ir e vir. Vivemos em nossas
> prisões, com cercas elétricas defendendo nossas casas. Alarmes,
> câmeras de segurança, carros blindados, rotinas e atos de segurança
> (não sair a noite sozinho, trancar tudo, não andar a pé, evitar
> aquela região mais violenta, ...).
>
> 4) Ensino: condição de trabalho para o professor. Diminuir o tempo
> dentro de sala de aula, permitido que este prepare sua aula e tenha
> tempo para capacitação contínua. Salários mais atraentes.
> Professores, do ensino básico, deveriam ser os mais importantes de
> todos, os mais valorizados, é ali que a criança começa sua vida
> (minha opinião, apenas).
>
> Sem 1, 2 e 3, é bem difícil conseguir o 4. Sem o 4, complicado será
> para termos 1 e 3. Sem 2, o 3 fica difícil de atingir... e por ai
> vai. Resumindo: não vejo como separar estas coisas. Notem que eu não
> incluí saúde em minha lista, não porque não acho importante, mas
> porque com os pontos acima funcionando, a saúde o povo reclama! Ok,
> pode ser simplista, inclua o item 5 saúde ou o inclua no item 2 (que
> não deixa de ser razoável). Mas todos os itens devem ser tratados e
> olhados ao mesmo tempo. Não podemos ser individualistas. Olhar nosso
> curral e dizer que o resto é problema dos outros.
>
> Não sei se concordam com minhas reflexões. Acredito que esta seja a
> minha primeira manifestação nesta lista (para este tipo de assunto).
> Não pretendo fazer muitas outras (se é que farei outra). Eu tento
> fazer minha parte. Como professor universitário, eu incentivo e
> muito os meus alunos. Eu os incentivo a melhorar, a não tornarem-se
> os políticos que tanto reclamamos, nem os empresários que temos.
> (Acredito que tenha ficado claro no cenário atual que a corrupção
> não está no governo, mas sim na sociedade. Um político não consegue
> desviar verba, se não tiver uma empresa que seja contratada e o
> ajude nesta tarefa).
>
> Se eu conseguir com que alunos sigam na honestidade, mesmo vendo a
> desgraça e o caminho "fácil" ao seu lado... Se eu conseguir que dois
> alunos o façam, já será muito bom. Se eu utilizar a ideia de
> marketing de pirâmide (que é terrível), se este dois conseguirem
> mais dois... já seremos 7. Agora, mesmo terrível o marketing de
> pirâmide, eu também preciso me enganar, para continuar acreditando
> que pode existir solução para o problema.
>
>
> Talvez o que doa mais não é isso tudo. Hoje, praticamente temos uma
> única voz no Brasil inteiro: todos contra a corrupção! Não é lindo
> isso? Mas a corrupção continua... então, alguém está mentindo! Quem?
> Nós! O povo brasileiro. Essa é a tristeza maior. Não reclame dos
> políticos (apenas), olhe a seu lado, você está fazendo correto?
> Quando se paga 10 reais para um segurança de casa noturna, para
> evitar a fila, não é corrupção? O que isso incentiva? Que o dinheiro
> ganha sobre os outros... Quem pode mais... Que tudo tem um
> jeitinho... A mensagem que fica é mais forte que o valor. Se são 10
> reais ou se são 10 milhões... roubo é sim ou não... não é quantidade.
>
> Ai eu digo, que adianta uma escola boa se nós (sociedade brasileira)
> ensinamos o errado para nossas crianças todos os dias. A escola não
> vai resolver. O problema é nosso!
>
> Porque não me manifesto, nem pretendo fazê-lo muitas vezes (se é que
> farei de novo): porque todos nós temos ideias e sugestões para
> solução, mas ficar discutindo e não colocá-las em prática é o mesmo
> que nada (esse é minha opinião). Antes de mais nada, espero ser
> justo (e quando não o for, pois todos erram, que seja por ignorância
> e desconhecimento, mas não intencionalmente). Honesto, acredito que
> sou. Então, tento dedicar o meu tempo aos alunos, que são aqueles
> que poderão fazer algo no futuro para resolver este problema e eu
> (nós) sou (somos) quem tem a obrigação de fazer algo no presente
> para resolvê-lo! Não adianta transferir o problema para os outros.
>
> Resumindo: Não sei, mas os resultados do PISA não me convencem (do
> ponto de vista de ensino), no sentido comparativo entre países. Tão
> pouco não acho que o PISA não é útil (tenho plena certeza que é uma
> informação importante). Não que eu ache que aqui está uma maravilha,
> mas é para se pensar que a Europa e os Estados unidos estão sempre
> bem (não apenas no PISA, como em outros muitos indicadores). Quem
> faz a metodologia? quem tem o poder econômico? Isso tudo parece
> colocar a raposa para proteger os coelhos.
>
>
> Abraços,
>
> adriano.
>
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