[ABE-L] resultado do PISA

Basilio de Braganca Pereira basiliopereira em gmail.com
Sáb Dez 10 16:09:54 -03 2016


Caro Adriano
Nos EUA você tem razão sobre o ensino de graduação.
Entretanto não sei que paises da Europa voce esta se referindo, mas
certamente não era Inglaterra ( e talvez tambem Alemanha)
Na Inglaterra por exemplo em Oxford e Cambridge, algum tempo apos se formar
na graduaçao  eles recebem um MA.
Por exemplo, antigamente quem passava no Triplos de Cambridge era
equivalente ao doutorado (so nao recebiam o tiulo). Tanto que muitos deles
nunca fizeram doutorado (Sir Ronald Fisher , Karl Pearson , James Durbin ,
George Barnard etc)
Note que os titulos D.Sc que eles tem é um grau mais alto que PhD. No
imperial o D.Sc e dado a algum ex aluno ou professor ou ex professor apos
submeter 20 artigos importantes e uma banca escolhe 5 artigos para serem
analisados .
Lembre que IJ Good alem do PhD tinha o DSc de Cambridge e de Oxford ( numa
universidade ele estudou na outra  trabalhou),
CR Rao apos o PhD de Cambridge alguns anos apos recebeu o DSc
Abr
Basilio


Em 10 de dezembro de 2016 09:29, Adriano Polpo de Campos <apolpo em ime.usp.br>
escreveu:

> Car(a)os redistas,
>
> Desculpem minha longa mensagem e possíveis erros de português. Acredito
> que eu fujo um pouco do tema PISA, mas já li muitas discussões nesta lista
> sobre diversos assuntos do nosso cotidiano. Não consigo separá-los e por
> isso, resolvi escrever.
>
> Sobre o resultado do PISA, comparando com outros países: desculpem-me, mas
> não vejo a mesma desgraça dos colegas. Não que eu ache que o ensino está
> bem no Brasil, mas não está nenhuma maravilha na Europa ou Estados Unidos,
> que tem bolinhas azuis. Não digo sobre a Ásia pois não tenho informações
> sobre estas localidades.
>
> Eu morei nos Estados Unidos por 1 ano e conheço alguns professores
> universitários de lá. A realidade das universidades deles não é nem um
> pouco animadora. A qualidade dos alunos que entram são, a meu ver, piores
> do que os alunos que nós recebemos em nossas universidades. Claro, lá todos
> se formam na graduação, mas não podemos comparar as graduações, nós somos
> muito mais exigentes que eles (percepção minha). Tanto é que os programas
> de Doutorado (em estatística, ao menos) praticamente não tem americanos.
> São na maioria estrangeiros (chineses, indianos, leste europeu, ...), em
> geral, pessoas buscando melhores oportunidades.
>
> Já na Europa, conheço também alguns professores universitários. Um deles
> relatou que um aluno do 3 ano (último ano!) de um curso de exatas não sabia
> limite, o conceito matemático de limite. Ele ainda enfatizou: "não estou
> dizendo derivada, integral, se soubessem somente limite já seria muito
> bom". Detalhe, um professor inglês me disse que integral e derivada era
> conteúdo do "ensino médio" deles, que um aluno de universidade entrava
> sabendo isso! Será?
>
> Nós criticamos nossos alunos na universidade, sim, eu também o faço. Os
> próprios alunos o fazem. A frase mais comum é: "nossa, o que aconteceu, os
> alunos que estão entrando a cada ano estão piores". Agora, até onde eu sei,
> esta frase é dita desde os tempos de D.Pedro. A nossa percepção é sempre
> que o que estava antes era melhor e o que vem depois é pior. Minha bisavó,
> que era analfabeta, dizia isso sobre os netos dela (meus tios e pais). Que
> eles eram muito piores do que a geração dela. Só que os netos dela
> formaram-se em universidades. Quem tem razão? Para mim o fato é, existe
> diferença, no mínimo cultural, mas medir inteligência, não tento (claro, o
> objetivo do PISA não é medir inteligência e não é sobre isso que falo).
>
> Obviamente, o PISA é sobre "crianças" de 15 anos. Logo, a comparação entre
> os alunos dos diversos países no nível universitário é injusto. Afinal,
> quantas universidades temos no Brasil? Selecionamos somente os melhores
> entre o todo. Talvez estes nossos melhores são melhores que os alunos da
> Europa e Estados Unidos, em que por lá, quase todos vão para universidade.
>
> Neste caso, vou me referir aos Estados Unidos, que conheço um pouco mais.
> O nível de conhecimento do americano em geral, não é nenhuma maravilha. Eu
> não acredito que eles tenham um ensino excelente. O problema não é a
> escola, mas sim a pobreza. Eles tem sim uma condição de vida melhor que a
> nossa (como população). Consequentemente, as crianças conseguem ir para as
> escolas por mais tempo e bem alimentadas, em escolas com boas
> infraestruturas. Tudo é uma maravilha? Não, longe disso. Neste caso, talvez
> o resultado do PISA está refletindo outra coisa e não o ensino.
>
> Acho que nós (sociedade, eu incluído) focamos muito no lugar errado para
> buscar a solução do problema. Por isso, raramente conseguimos resolver (ou
> temos a sensação que não há solução para o problema).
>
> Para mim os problemas são:
> 1) Justiça. País sem um sistema de justiça descente não tem como melhorar.
> (por justiça descente entenda: o povo com medo de ser punido respeita as
> leis. No brasil o medo da punição é muito baixo ou, se preferir, a certeza
> da impunição é quase unanime).
>
> 2) Condição de vida: Comida na mesa! Teto! Criança que não precise
> trabalhar.
>
> 3) Segurança Pública: Não ter medo de ir e vir. Vivemos em nossas prisões,
> com cercas elétricas defendendo nossas casas. Alarmes, câmeras de
> segurança, carros blindados, rotinas e atos de segurança (não sair a noite
> sozinho, trancar tudo, não andar a pé, evitar aquela região mais violenta,
> ...).
>
> 4) Ensino: condição de trabalho para o professor. Diminuir o tempo dentro
> de sala de aula, permitido que este prepare sua aula e tenha tempo para
> capacitação contínua. Salários mais atraentes. Professores, do ensino
> básico, deveriam ser os mais importantes de todos, os mais valorizados, é
> ali que a criança começa sua vida (minha opinião, apenas).
>
> Sem 1, 2 e 3, é bem difícil conseguir o 4. Sem o 4, complicado será para
> termos 1 e 3. Sem 2, o 3 fica difícil de atingir... e por ai vai.
> Resumindo: não vejo como separar estas coisas. Notem que eu não incluí
> saúde em minha lista, não porque não acho importante, mas porque com os
> pontos acima funcionando, a saúde o povo reclama! Ok, pode ser simplista,
> inclua o item 5 saúde ou o inclua no item 2 (que não deixa de ser
> razoável). Mas todos os itens devem ser tratados e olhados ao mesmo tempo.
> Não podemos ser individualistas. Olhar nosso curral e dizer que o resto é
> problema dos outros.
>
> Não sei se concordam com minhas reflexões. Acredito que esta seja a minha
> primeira manifestação nesta lista (para este tipo de assunto). Não pretendo
> fazer muitas outras (se é que farei outra). Eu tento fazer minha parte.
> Como professor universitário, eu incentivo e muito os meus alunos. Eu os
> incentivo a melhorar, a não tornarem-se os políticos que tanto reclamamos,
> nem os empresários que temos. (Acredito que tenha ficado claro no cenário
> atual que a corrupção não está no governo, mas sim na sociedade. Um
> político não consegue desviar verba, se não tiver uma empresa que seja
> contratada e o ajude nesta tarefa).
>
> Se eu conseguir com que alunos sigam na honestidade, mesmo vendo a
> desgraça e o caminho "fácil" ao seu lado... Se eu conseguir que dois alunos
> o façam, já será muito bom. Se eu utilizar a ideia de marketing de pirâmide
> (que é terrível), se este dois conseguirem mais dois... já seremos 7.
> Agora, mesmo terrível o marketing de pirâmide, eu também preciso me
> enganar, para continuar acreditando que pode existir solução para o
> problema.
>
>
> Talvez o que doa mais não é isso tudo. Hoje, praticamente temos uma única
> voz no Brasil inteiro: todos contra a corrupção! Não é lindo isso? Mas a
> corrupção continua... então, alguém está mentindo! Quem? Nós! O povo
> brasileiro. Essa é a tristeza maior. Não reclame dos políticos (apenas),
> olhe a seu lado, você está fazendo correto? Quando se paga 10 reais para um
> segurança de casa noturna, para evitar a fila, não é corrupção? O que isso
> incentiva? Que o dinheiro ganha sobre os outros... Quem pode mais... Que
> tudo tem um jeitinho... A mensagem que fica é mais forte que o valor. Se
> são 10 reais ou se são 10 milhões... roubo é sim ou não... não é quantidade.
>
> Ai eu digo, que adianta uma escola boa se nós (sociedade brasileira)
> ensinamos o errado para nossas crianças todos os dias. A escola não vai
> resolver. O problema é nosso!
>
> Porque não me manifesto, nem pretendo fazê-lo muitas vezes (se é que farei
> de novo): porque todos nós temos ideias e sugestões para solução, mas ficar
> discutindo e não colocá-las em prática é o mesmo que nada (esse é minha
> opinião). Antes de mais nada, espero ser justo (e quando não o for, pois
> todos erram, que seja por ignorância e desconhecimento, mas não
> intencionalmente). Honesto, acredito que sou. Então, tento dedicar o meu
> tempo aos alunos, que são aqueles que poderão fazer algo no futuro para
> resolver este problema e eu (nós) sou (somos) quem tem a obrigação de fazer
> algo no presente para resolvê-lo! Não adianta transferir o problema para os
> outros.
>
> Resumindo: Não sei, mas os resultados do PISA não me convencem (do ponto
> de vista de ensino), no sentido comparativo entre países. Tão pouco não
> acho que o PISA não é útil (tenho plena certeza que é uma informação
> importante). Não que eu ache que aqui está uma maravilha, mas é para se
> pensar que a Europa e os Estados unidos estão sempre bem (não apenas no
> PISA, como em outros muitos indicadores). Quem faz a metodologia? quem tem
> o poder econômico? Isso tudo parece colocar a raposa para proteger os
> coelhos.
>
>
> Abraços,
>
> adriano.
>
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Clementino Fraga Filho.
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