[ABE-L] para refletir - erros honestos - nada é só bom e nada é só ruim

Basilisk De Braganca Pereira basilio em hucff.ufrj.br
Dom Jan 10 23:36:39 -03 2016



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> Assunto: para refletir - erros honestos - nada é só bom e nada é só ruim
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> Esse texto é  muito bom para pensar direito na nossa visão do mundo atual
> Erros honestos
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> A dúvida, a hesitação saudável de quem se sabe diante de fenômenos complexos, parece não encontrar mais o necessário espaço
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> por https://uerjleco.academia.edu/AntonioEngelke
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> 08/01/2016 0:00
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> Um dos aspectos mais marcantes dos atuais debates na esfera pública brasileira é a incrível frequência com que os diagnósticos acerca dos nossos dilemas políticos e econômicos apresentam-se como verdades autoevidentes. Não há opiniões sugerindo hipóteses, mas vozes absolutamente convictas de estarem pontificando sobre fatos tão óbvios que apenas os acometidos por incurável cegueira ideológica se recusam a enxergar. É sintomático que nosso vocabulário político seja cada vez mais atravessado por estereótipos cuja função não é oferecer categorias que nos ajudem a observar a realidade com mais clareza, mas sim desferir golpes retóricos no intuito de negar inteligibilidade à posição adversária. À direita e à esquerda, o mesmo narcisismo cognitivo, apenas com sinal invertido: os pressupostos de um são as conclusões escandalosas do outro, e vice-versa. A dúvida, a hesitação saudável de quem se sabe diante de fenômenos complexos, parece não encontrar mais o necessário espaço.
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> Nada mais ideologicamente ilusório do que a suposta obviedade. Os escândalos de corrupção do PT conformariam um fenômeno qualitativamente novo na nossa história política, ou não passam da atualização em escala aumentada de práticas já bastante arraigadas? Qual fator teria mais peso na explicação da crise brasileira, o derretimento global dos preços das commodities ou as más escolhas políticas do governo Dilma? Qual o melhor caminho para superar a crise, estimular a demanda agregada ou seguir a receita da austeridade? O pedido de impeachment que ora tramita seria justo e merecido, mais um golpe antidemocrático, ou tentativa desesperada do sistema político de mitigar a Lava-Jato?
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> Tais indagações admitem diversas respostas, com bons argumentos a embasá-las, seja de que lado for. Mas nenhuma dessas respostas é evidente por si mesma. Não é trivial, por exemplo, pensar a relação entre a conjuntura política desde os anos Lula e as raízes estruturais ibéricas de nossa indistinção entre público e privado. Do mesmo modo, nada há de autoevidente na investigação do complexo de variáveis macroeconômicas que interagem num ambiente globalizado. São questões cuja amplitude deveria nos obrigar a desconfiar de explicações avançadas, por meio de certezas que se pretendem inquestionáveis e slogans simplistas.
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> O recrudescimento da polarização política implicou não apenas o empobrecimento geral do debate, mas também a erosão de um solo mínimo comum de compreensão dos termos que o compõem. Cavado o abismo, restam o desprezo e as agressões mútuas. Implícita em ambas as perspectivas, a convicção de que as informações relevantes estão à disposição de todos, os fatos são bem conhecidos e irrefutáveis, e que somente uma perversão moral explicaria a falha em reconhecê-los. Como argumentou certa vez o filósofo Richard Rorty, a moralização do debate político assinala o esgarçamento da própria política, na medida em que não deixa espaço para a possibilidade de erros honestos. Se meu adversário se nega a ver a verdade que a mim é revelada de forma inequívoca, então ele não é apenas alguém que defende uma opinião legítima, ainda que diferente da minha: é um canalha que deve ser eliminado em prol do bom funcionamento do sistema. Não ocorre ao sujeito moral da política que as informações disponíveis sejam partes de um quebra-cabeça cuja imagem completa não pode ser deduzida, somente inventada, e que os assim chamados fatos sociais frequentemente admitem interpretações variadas, cada qual com a sua validade interna.
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> Colocado em termos exclusivamente morais, o debate político tende a transcorrer por sobre um maniqueísmo cujas partes em disputa, dogmaticamente orgulhosas de seu próprio fechamento, lançam-se em pretensas cruzadas de purificação. Não é exatamente boa notícia para a  democracia.
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> Antonio Engelke é sociólogo
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> 
> Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/erros-honestos-18431557#ixzz3wsJul0ap 
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> RESUMO
> 1) para  donos da verdade absoluta como petralhas e coxinhas só resta mesmo agredir o outro , pois não tem capacidade  para analisar sistemas complexos 
> 2) NADA É SO BOM E NADA É SÓ RUIM
> -- 
> Basilio de Bragança Pereira, DIC and PhD(Imperial College), DL(COPPE) 
> UFRJ-Federal University of Rio de Janeiro 
> *Titular Professor of  Bioestatistics and of Applied Statistics 
> *FM-School of Medicine and COPPE-Posgraduate School of Engineering and 
> HUCFF-University Hospital Clementino Fraga Filho.
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