[ABE-L] Uma reflexão

Gauss Cordeiro gauss em de.ufpe.br
Seg Jun 20 10:27:46 -03 2016


My two cents:

Eu estou fugindo de discussões sobre qualquer tema, mas eu realmente
entendo que o MCTI é deveras muito mais importante do que vários
daqueles 39 iniciais do segundo mandato da Sra. Dilma como,
por exemplo:

Assuntos Estratégicos, Comunicação Social (já tem o de Comunicações),
Cultura, Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Esportes,
Igualdade Social, Política para as mulheres, Pesca e Turismo.

Esses poderiam funcionar como meros órgãos de outros ministérios mais
importantes para alavancar nosso PIB.  Os EUA têm apenas
15 minsitérios e sua máquina administrativa funciona muito
bem.



Em 20 de junho de 2016 06:56, Francisco Cribari <cribari em de.ufpe.br>
escreveu:

> O Estado de São Paulo, 20 de junho de 2016
>
> Pesquisa científica: luxo ou necessidade?
>
> Jose Goldemberg
>
> As discussões sobre a prioridade de investimentos em ciência e tecnologia
> estão na ordem do dia não só no Brasil, como em outros países do mundo. Por
> essa razão, a fusão do Ministério das Comunicações com o de Ciência,
> Tecnologia e Inovação (MCTI), sob o comando de Gilberto Kassab, ex-prefeito
> de São Paulo, provocou reações de cientistas e instituições que os
> representam, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a
> Academia Brasileira de Ciências.
> Parte dessas reações tem um caráter corporativo, e elas devem ser tratadas
> como tal. Há corporações em todos os setores da sociedade brasileira e
> todas elas disputam a atenção do governo federal, acesso a verbas e até
> privilégios. Por conseguinte, o que é preciso esclarecer, em primeiro
> lugar, é se investimentos em ciência e tecnologia em países em
> desenvolvimento como o Brasil são um luxo ou uma necessidade.
> Nos países coloniais dos séculos 19 e 20, não fazia sentido investir em
> ciência a não ser por razões culturais, como se fez com salas de concertos
> e óperas. As necessidades locais eram atendidas importando produtos
> industrializados dos países da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. As
> grandes empresas multinacionais foram os veículos que desempenharam esse
> papel.
> À medida, porém, que as colônias começaram a crescer economicamente,
> depender apenas de importações deixou de ser viável por razões políticas,
> econômicas e técnicas.
> Os movimentos de descolonização e libertação nacional se tornaram
> irreversíveis após a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945), criando a necessidade
> de industrialização não só para gerar empregos.
> Do ponto de vista técnico, havia a necessidade de adaptar as tecnologias
> às condições locais, o que envolvia muito mais que sua “tropicalização”.
> Para isso, foi indispensável criar uma elite local que entendesse a ciência
> e a tecnologia modernas - desenvolvidas nos países industrializados - e que
> pudesse escolher as melhores tecnologias adaptadas às condições locais.
> Daí a necessidade de investimentos em educação, ciência e tecnologia, como
> fez a Coreia do Sul, que, partindo de uma base puramente agrícola e
> atrasada em 1950, se tornou um grande exportador de produtos
> industrializados.
> O Brasil também fez progressos, apesar de não ter conseguido repetir o
> sucesso da Coreia do Sul. A industrialização do Brasil que ocorreu após a
> 2.ª Guerra Mundial trouxe para o País um parque industrial abrangente e
> moderno, que permitiu torná-lo competitivo em várias áreas, como, por
> exemplo, a de papel e celulose. Pesquisa científica e tecnologia locais
> permitiram também o desenvolvimento do etanol da cana-de-açúcar, cuja
> produtividade é excepcional por causa do clima local. Na área da saúde,
> grandes progressos foram feitos.
> O que conta mesmo são os recursos destinados ao desenvolvimento científico
> e tecnológico, que envolvem grandes somas. É necessário investir uma fração
> significativa do Produto Interno Bruto (PIB). Nos países da União Europeia,
> aplica-se atualmente em média 1,84% do PIB, e a meta a atingir é de 3% do
> PIB.
> Já a Coreia do Sul investe hoje mais de 4% do PIB (cerca de US$ 50 bilhões
> por ano). Logo abaixo vêm Israel e Japão. Os Estados Unidos investem menos
> (em torno de 2,5%), mas seu PIB é tão alto que essa fração corresponde a
> quase US$ 500 bilhões, o que explica sua liderança incontestável na área.
> É por essa razão que o governo da França - que havia decidido reduzir seus
> investimentos em ciência e tecnologia, em razão da difícil situação
> econômica do país - desistiu desses cortes, reconhecendo que essa área é
> prioritária em comparação com outras, que podem ter seus investimentos
> adiados.
> Sucede que o Brasil investe apenas em torno de 1,2% do seu PIB em
> desenvolvimento científico e tecnológico, US$ 19 bilhões por ano. É
> aproximadamente o mesmo que outros países emergentes, em alguns casos até
> mais, como Índia (0,8%), Indonésia (0,2%), México (0,4%) e Argentina
> (0,6%). Mas é muito pouco, se comparado ao que é investido nos países
> líderes no mundo, como Estados Unidos e os da Europa, e menos do que alguns
> nossos colegas do Brics, como China (1,9%) e Rússia (1,5%).
> O apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico não é feito
> necessariamente por ministérios. Nos Estados Unidos, cujo estabelecimento
> científico-tecnológico é o mais robusto do mundo, não existe Ministério da
> Ciência, Tecnologia e Inovação. O apoio às atividades nesta área é feito
> pela Fundação Nacional de Ciências, pelo Departamento de Energia e outros
> (departamento é o nome dado aos ministérios naquele país), além de inúmeras
> fundações privadas. No Japão, é o Ministério da Indústria o principal
> financiador de atividades de ciência e tecnologia.
> Não é, pois, a existência de um órgão burocrático exclusivo para a ciência
> e tecnologia, como o MCTI do governo federal, que garante apoio às
> atividades desta área. Mesmo no Brasil, essas atividades já foram exercidas
> adequadamente por uma Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia, no
> governo do presidente Collor, em 1990, a qual foi particularmente eficaz na
> abertura ao acesso de computadores e à área de informática em geral.
> Aumentar os dispêndios no Brasil não é fácil, a não ser que o PIB cresça.
> O que não pode acontecer é interromper ou reduzir os recursos que se
> destinam à ciência e tecnologia, porque são investimentos que só dão
> resultados no longo prazo, como os investimentos em educação.
> É por essa razão que eles precisam ser preservados mesmo em tempos de
> crise. Discutir se eles serão canalizados via um Ministério da Ciência,
> Tecnologia e Inovação ou outro formato burocrático não é o problema central.
> * É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E PRESIDENTE DA FAPESP
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