[ABE-L] RES: Uma reflexão

Gauss Cordeiro gauss em de.ufpe.br
Ter Jun 21 07:27:59 -03 2016


Apenas um de vários corolários de uma gestão inapta e desastrosa do Sr.
Cabral em


http://oglobo.globo.com/rio/uerj-trancada-em-protesto-contra-penuria-19548677


Quando fazia mestrado na UFRJ, em 1975, tinha alguns colegas de turma

que eram professores dessa importante instituição. Como se fosse hoje,

me recordo, como eles falavam com orgulho das excelentes condições

de trabalho. Bons tempos que parecem que não voltam mais.

Em 20 de junho de 2016 10:31, Andre Maia <andresantiagomaia em gmail.com>
escreveu:

> O problema é que, em alguns casos, fazer ciência não está atrelado a "*escolher
> as melhores tecnologias adaptadas às condições locais*". Como que num
> país em desenvolvimento como o Brasil, país com altas taxas de desemprego,
> se pesquisa metodologias que visam minimizar a mão de obra humana? Parece
> haver um contrassenso!
>
> O que dizer de Recife e o sucesso do Porto Digital instalado lá a partir
> de pesquisas desenvolvidas, sobretudo, na UFPE e no exitoso CESAR? Não
> precisamos ir tão longe para citar exemplo de sucesso de adaptação às
> condições locais.
>
> Em 20 de junho de 2016 09:54, Luiz Sergio Vaz <400373 em sarah.br> escreveu:
>
>> É isso aí. Será que o mesmo não aconteceu com o Ministério da Cultura?
>>
>>
>>
>> *De:* abe [mailto:abe-bounces em lists.ime.usp.br] *Em nome de *Francisco
>> Cribari
>> *Enviada em:* segunda-feira, 20 de junho de 2016 06:56
>> *Para:* ABE Lista
>> *Assunto:* [ABE-L] Uma reflexão
>>
>>
>>
>> O Estado de São Paulo, 20 de junho de 2016
>>
>> Pesquisa científica: luxo ou necessidade?
>>
>> Jose Goldemberg
>>
>> As discussões sobre a prioridade de investimentos em ciência e tecnologia
>> estão na ordem do dia não só no Brasil, como em outros países do mundo. Por
>> essa razão, a fusão do Ministério das Comunicações com o de Ciência,
>> Tecnologia e Inovação (MCTI), sob o comando de Gilberto Kassab, ex-prefeito
>> de São Paulo, provocou reações de cientistas e instituições que os
>> representam, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a
>> Academia Brasileira de Ciências.
>> Parte dessas reações tem um caráter corporativo, e elas devem ser
>> tratadas como tal. Há corporações em todos os setores da sociedade
>> brasileira e todas elas disputam a atenção do governo federal, acesso a
>> verbas e até privilégios. Por conseguinte, o que é preciso esclarecer, em
>> primeiro lugar, é se investimentos em ciência e tecnologia em países em
>> desenvolvimento como o Brasil são um luxo ou uma necessidade.
>> Nos países coloniais dos séculos 19 e 20, não fazia sentido investir em
>> ciência a não ser por razões culturais, como se fez com salas de concertos
>> e óperas. As necessidades locais eram atendidas importando produtos
>> industrializados dos países da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. As
>> grandes empresas multinacionais foram os veículos que desempenharam esse
>> papel.
>> À medida, porém, que as colônias começaram a crescer economicamente,
>> depender apenas de importações deixou de ser viável por razões políticas,
>> econômicas e técnicas.
>> Os movimentos de descolonização e libertação nacional se tornaram
>> irreversíveis após a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945), criando a necessidade
>> de industrialização não só para gerar empregos.
>> Do ponto de vista técnico, havia a necessidade de adaptar as tecnologias
>> às condições locais, o que envolvia muito mais que sua “tropicalização”.
>> Para isso, foi indispensável criar uma elite local que entendesse a ciência
>> e a tecnologia modernas - desenvolvidas nos países industrializados - e que
>> pudesse escolher as melhores tecnologias adaptadas às condições locais.
>> Daí a necessidade de investimentos em educação, ciência e tecnologia,
>> como fez a Coreia do Sul, que, partindo de uma base puramente agrícola e
>> atrasada em 1950, se tornou um grande exportador de produtos
>> industrializados.
>> O Brasil também fez progressos, apesar de não ter conseguido repetir o
>> sucesso da Coreia do Sul. A industrialização do Brasil que ocorreu após a
>> 2.ª Guerra Mundial trouxe para o País um parque industrial abrangente e
>> moderno, que permitiu torná-lo competitivo em várias áreas, como, por
>> exemplo, a de papel e celulose. Pesquisa científica e tecnologia locais
>> permitiram também o desenvolvimento do etanol da cana-de-açúcar, cuja
>> produtividade é excepcional por causa do clima local. Na área da saúde,
>> grandes progressos foram feitos.
>> O que conta mesmo são os recursos destinados ao desenvolvimento
>> científico e tecnológico, que envolvem grandes somas. É necessário investir
>> uma fração significativa do Produto Interno Bruto (PIB). Nos países da
>> União Europeia, aplica-se atualmente em média 1,84% do PIB, e a meta a
>> atingir é de 3% do PIB.
>> Já a Coreia do Sul investe hoje mais de 4% do PIB (cerca de US$ 50
>> bilhões por ano). Logo abaixo vêm Israel e Japão. Os Estados Unidos
>> investem menos (em torno de 2,5%), mas seu PIB é tão alto que essa fração
>> corresponde a quase US$ 500 bilhões, o que explica sua liderança
>> incontestável na área.
>> É por essa razão que o governo da França - que havia decidido reduzir
>> seus investimentos em ciência e tecnologia, em razão da difícil situação
>> econômica do país - desistiu desses cortes, reconhecendo que essa área é
>> prioritária em comparação com outras, que podem ter seus investimentos
>> adiados.
>> Sucede que o Brasil investe apenas em torno de 1,2% do seu PIB em
>> desenvolvimento científico e tecnológico, US$ 19 bilhões por ano. É
>> aproximadamente o mesmo que outros países emergentes, em alguns casos até
>> mais, como Índia (0,8%), Indonésia (0,2%), México (0,4%) e Argentina
>> (0,6%). Mas é muito pouco, se comparado ao que é investido nos países
>> líderes no mundo, como Estados Unidos e os da Europa, e menos do que alguns
>> nossos colegas do Brics, como China (1,9%) e Rússia (1,5%).
>> O apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico não é feito
>> necessariamente por ministérios. Nos Estados Unidos, cujo estabelecimento
>> científico-tecnológico é o mais robusto do mundo, não existe Ministério da
>> Ciência, Tecnologia e Inovação. O apoio às atividades nesta área é feito
>> pela Fundação Nacional de Ciências, pelo Departamento de Energia e outros
>> (departamento é o nome dado aos ministérios naquele país), além de inúmeras
>> fundações privadas. No Japão, é o Ministério da Indústria o principal
>> financiador de atividades de ciência e tecnologia.
>> Não é, pois, a existência de um órgão burocrático exclusivo para a
>> ciência e tecnologia, como o MCTI do governo federal, que garante apoio às
>> atividades desta área. Mesmo no Brasil, essas atividades já foram exercidas
>> adequadamente por uma Secretaria Especial de Ciência e Tecnologia, no
>> governo do presidente Collor, em 1990, a qual foi particularmente eficaz na
>> abertura ao acesso de computadores e à área de informática em geral.
>> Aumentar os dispêndios no Brasil não é fácil, a não ser que o PIB cresça.
>> O que não pode acontecer é interromper ou reduzir os recursos que se
>> destinam à ciência e tecnologia, porque são investimentos que só dão
>> resultados no longo prazo, como os investimentos em educação.
>> É por essa razão que eles precisam ser preservados mesmo em tempos de
>> crise. Discutir se eles serão canalizados via um Ministério da Ciência,
>> Tecnologia e Inovação ou outro formato burocrático não é o problema central.
>> * É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E PRESIDENTE DA FAPESP
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