[ABE-L] Dia do Professor

Hugo Carvalho hugocarvalho5 em gmail.com
Ter Out 17 12:08:28 -03 2017


Olá a todos. O que me leva a escrever essa mensagem foi o segundo parágrafo
da mensagem do Prof. Carlos Alberto, que muito me entristece, e gostaria de
compartilhar com vocês minha visão sobre o tema.

Mesmo estando em um departamento de Estatística (a saber, da UFRJ, da qual
foi recém contratado), completei meu Doutorado no início de 2017 em
Engenharia Elétrica, tendo trabalhado com métodos Bayesianos em restauração
de áudio. Portanto, é natural que as minhas publicações relativas ao meu
Doutorado sejam feitas em revistas de Engenharia, em particular, da série
IEEE e especialmente na revista IEEE/ACM Transactions Audio, Speech and
Language Processing
<http://ieeexplore.ieee.org/xpl/RecentIssue.jsp?punumber=6570655>. Porém,
tal revista sequer é mencionada no Qualis para Matemática/Probabilidade e
Estatística, sendo que contém diversos trabalhos que aplicam técnicas
não-triviais de Estatística a problemas reais (por exemplo, esse
<http://ieeexplore.ieee.org/document/7331633/> e esse
<http://ieeexplore.ieee.org/document/7410006/>, após uma rápida busca no
periódico, para não citar uma lista imensa), enquanto que no Qualis de
Matemática/Probabilidade e Estatística consta a revista, por exemplo, ACTA
ORTOPÉDICA BRASILEIRA (B4), que tem muito menos interseção com a nossa área
do que o periódico que citei, por exemplo.

Outro exemplo é o fato da revista IEEE Transactions on Information Theory
<http://ieeexplore.ieee.org/xpl/RecentIssue.jsp?punumber=18>, que recebe um
injusto A2, porém contendo periodicamente publicações relevantes em
Estatística por pessoas de renome (alguns exemplos, aqui
<http://ieeexplore.ieee.org/document/1580791/> e aqui
<http://ieeexplore.ieee.org/document/1614066/>), sem falar de outras
publicações de altíssimo nível matemático, recorrentes em todos os seus
volumes. Me parece um contrassenso dar A2 para uma revista que tem
publicações de pessoas desse porte (valendo ressaltar que o Terence Tao
ganhou
<http://www.claymath.org/library/annual_report/ar2006/06report_tao.pdf> em
2006 a tão famigerada Medalha Fields).

Isso não fica só na Estatística: no Qualis também sequer consta o Journal
of Symplectic Geometry
<http://intlpress.com/site/pub/pages/journals/items/jsg/_home/_main/>,
periódico extremamente importante para quem trabalha nessa área, árdua e
tecnicamente muito sofisticada. Vale ressaltar também que lá constam
publicações de brasileiros, em particular o Prof. Humerto Hryniewicz aqui
da UFRJ, premiado
<https://www.sbm.org.br/noticias/umberto-hryniewicz-e-premiado-no-congresso-das-americas>
no
Congresso das Américas.

Meu objetivo aqui não é, nem de perto, difamar um periódico em prol de
outro, mas só citar alguns exemplos, claramente enviesado para a minha
formação mas que certamente poderiam ter outros vieses, de um certo grau de
"injustiça" cometido pela avaliação dos periódicos através do Qualis.
Portanto, a frase citada pelo Prof. Carlos Alberto, a saber,
*“multidisciplinaridade
é o futuro da ciência”*, parece ser extremamente utópica, pois qualquer
tentativa de multidisciplinaridade efetiva é rejeitada (ou pelo menos
dificultada) pelos métodos de avaliação correntes, em particular para
jovens pesquisadores, que têm poucas publicações e necessitam delas para
prosseguir na sua carreira.

Pergunto-me então: o que fazer para mudar isso? Como que nós, docentes que
na sua maioria não fazem parte do comitê de avaliação da Capes, podemos
agir para que isso seja alterado? Acredito que esses métodos de avaliação
devam ser completamente revistos, em prol do progresso da Ciência no
Brasil, que já passa por maus momentos, e em prol de uma real
interdisciplinaridade entre os diversos ramos do conhecimento.

Finalizo ressaltando que o lema da COPPE <http://www.coppe.ufrj.br/>,
centro de pesquisas em Engenharia da UFRJ, *é "50 anos antecipando o
futuro"*, e meus dois centavos é que esses métodos de avaliação vigentes
vão completamente contra esse lema.

Abraços,

Hugo T. de Carvalho

2017-10-16 2:33 GMT-02:00 Carlos Alberto de Bragança Pereira <
cpereira em ime.usp.br>:

>
> Lilian pela manhã me perguntou se eu havia recebido alguma mensagem sobre
> o dia de hoje (ontem pelo horário de agora), dia do professor.  O não de
> minha resposta foi um pouco triste.  No entanto a noite, tendo ficado muito
> feliz, recebi mensagens de colegas e ex-alunos.  A gente fica emocionada
> com o que recebe nessas ocasiões.  Ser lembrado depois de aposentado é
> sempre uma grande alegria.  Algumas mensagens foram muito boas para meu
> EGO.  Aliás  o afago ao EGO é atualmente o único ganho que um professor ou
> cientista tem nesse nosso pais.  Nós professores universitários temos como
> ganho real apenas a liberdade de trabalho e as vezes o reconhecimento por
> nosso trabalho.  Liberdade essa que vem sendo diminuída pelas regras
> malucas que nos estão impondo  os nossos colegas  de comitês de CAPES/CNPq.
>
> O discurso de que “multidisciplinaridade é o futuro da ciência” não entra
> na cabeça de colegas que dão muito mais valor ao trabalho restrito às
> pequenas áreas e ou disciplinas.  ENTROPY, IEE ou PlosOne receberem baixo
> QUALIS é realmente inaceitável.  Revistas de baixo Fator de Impacto recebem
> alto QUALIS enquanto algumas de BOM impacto como essas três citadas recebem
> Baixo QUALIS.  Isso é inaceitável considerando que são nossos próprios
> colegas que definem as regras.  O objetivo de um jovem pesquisador deveria
> ser produzir boa pesquisa e não o de publicar em revistas de alto QUALIS.
> Publicar um artigo deveria ser consequência de um bom trabalho de pesquisa
> e não deveria ser o objetivo principal de um cientista.  “O objetivo
> deveria ser sim a produção de um bom trabalho de pesquisa: Publicação
> deveria ser apenas a consequência.” De que adianta uma publicação que quase
> ninguém lê mesmo publicada em revistas de alto QUALIS?  Prefiro valorizar
> uma publicação com muitas citações mesmo aparecendo em revista de baixo
> QUALIS.  Por exemplo, nosso artigo estatístico mais citado (incluindo no
> JASA) foi publicado no volume 1 da ENTROPY em 1999.  Hoje essa revista tem
> um bom fator de impacto considerando que é uma revista da área de exatas.
> Contudo, tem um baixo QUALIS – QUALIS inferior a revistas com fator de
> impacto menor do que 1 –.
>
> Voltando ao dia do professor, o meu amigo e colega Kolev me enviou o
> seguinte: “Quem compartilha o que sabe muda a história de quem aprende.
> FELIZ DIA DO PROFESSOR”. Vejam que não foi usado a palavra ensinar. Penso
> que o sentido que se dá palavra ensinar é equivocado.  Ao compartilhar
> nosso conhecimento não garantimos que um aluno aprende.  O aluno aprender é
> sim uma possibilidade e não uma garantia.  Se o aluno não aprende então não
> foi ensinado.  Essa é uma perspectiva muito pessoal, pois sempre me
> preocupo se o aluno realmente aprendeu.
>
> Termino essa longa conversa dizendo que fiquei muito honrado em ter sido a
> pessoa que fechou a reunião XV MGEST que homenageou os colegas DANI e
> ENRICO.  Homenagem muito merecida aos 60 anos desses colegas.  Minha
> palestra como sempre foi sobre trivialidades em contraste com os trabalhos
> mais profundos desses colegas.  Creio que o convite para falar nesta
> reunião foi pela minha profunda admiração pelo trabalho desses dois
> professores.  No inicio de minha fala lembrei que eles já tiveram a metade
> de minha idade e que hoje já não é assim Isto é, a série das razões de
> nossas idades vai convergir para um se fossemos imortais.  No entanto, se a
> razão fosse calculada com um índice de competência certamente seria
> inferior à unidade.  Talvez a imortalidade faria a razão convergir para
> zero.
>
> Também no inicio de minha fala comentei sobre o patrimônio que um setentão
> carrega; Dores, Surdez, Próteses, mas primcipalmente e com muito valor as
> lembranças e as saudades.  Ao comentarmos sobre nosso passado, lembramos,
> eu e Dani, que fiz parte da banca de mestrado dele.  Imediatamente nos
> transferimos para aquele tempo como se fosse ontem.  Lembramos do Professor
> Bustos e de minhas onversas com ele e o Dani quando este estava escrevendo
> a dissertação.  Saudade de quando tinhamos vontade de construir um futuro
> produtivo.  Certo autor disse que nossas lembranças muitas vezes são de
> fatos que gostaríamos de ter vivido não apenas os que realmente foram
> vividos.  Temos a capacidade de eliminar de nossas mentes as dificuldades
> que na verdade poderíamos ter vivido.  Lembremos que ao ter uma dor de
> dente sofremos muito, no entanto assim que retiramos a dor com um
> tratamento, aquela dor fica esquecida pois não conseguimos lembrar
> exatamente como era.  Não conseguimos mostrar aos amigos como a dor era
> sofrida.  Assim são todas as nossa lembranças e saudades.
> Vida longa meus caros ENRICO e DANI.
>
> --
> Carlos Alberto de Bragança Pereira
> http://www.ime.usp.br/~cpereira
> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> Stat Department - Professor & Head
> University of São Paulo
>
>
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