[ABE-L] IBGE

João Daniel Duarte jdanielnd em gmail.com
Qui Set 4 16:42:15 -03 2014


Tinha publicado este texto em meu blog:

O editorial do Estadão de hoje evidencia um boicote que vem acontecendo
debaixo do nosso nariz, sem que tomemos conhecimento.

Grande parte dos dados que são utilizados na formulação e no acompanhamento
de políticas públicas vem de pesquisas realizadas pelo IBGE. Na 2ª feira,
este orgão informou que sofreu mais um corte em seu orçamento, o que vai
afetar diretamente a contagem da população de 2016e o censo agropecuário de
2015.

Não quero entrar no mérito da política, onde pode ser conveniente para uns
ou outros atrasar a divulgação ou ofuscar os dados que revelam a atual
condição de um país. Mas, na chamada Era da Informação, onde as decisões
são cada vez menos baseadas em "achismos", e sim direcionadas por análises
científicas de dados, faz sentido esses cortes orçamentários?

Acho que cada vez mais, iniciativas independentes e colaborativas para o
levantamento e análise de dados públicos ganham importância, pois não sendo
adequado que essa tarefa intimamente relacionada com a avaliação do governo
fique sobre a tutela do mesmo, precisamos ter para onde recorrer quando
dados atuais e coerentes sobre nosso país sejam demandados com o intuito de
tomar decisões consistentes.



Em 4 de setembro de 2014 13:54, sandra Brignol <sandrabrignol em hotmail.com>
escreveu:

> Nossa... a ABE pode fazer denúncia junto ao Ministério Público?
> Sandra
>
> ------------------------------
> Date: Thu, 4 Sep 2014 09:28:43 -0300
> From: cribari em de.ufpe.br
> To: abe-l em ime.usp.br
> Subject: [ABE-L] IBGE
>
>
> O ESTADO DE SÃO PAULO, 4 de setembro de 2014 - Editorial
>
> IBGE à míngua
>
> O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é a principal
> instituição de pesquisa do País, responsável pela coleta dos dados que
> ajudam na formulação de políticas públicas, de estratégias da iniciativa
> privada e do planejamento orçamentário dos cidadãos. Por essa razão, é
> inadmissível a decisão do governo federal de privar o IBGE das verbas
> necessárias a seu pleno funcionamento. O corte para o ano que vem chegará a
> 73% do orçamento da entidade.
> Já não é de hoje que esse instituto, cuja independência é essencial para
> sua credibilidade, tem sofrido toda sorte de constrangimentos por parte do
> governo petista - sempre preocupado em dissimular ou desmoralizar
> estatísticas que possam desmentir o edulcorado discurso oficial.
> Um exemplo desse esforço para minar o IBGE ocorreu em abril, quando a
> direção do instituto anunciou a inopinada suspensão da divulgação dos
> resultados trimestrais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
> Contínua (Pnad Contínua), que mostra a situação do mercado de trabalho no
> País. A publicação dos números deveria ocorrer no mês seguinte, maio, mas
> foi adiada para janeiro de 2015 - portanto, depois das eleições
> presidenciais.
> Alegava a diretoria do IBGE que havia a necessidade de eliminar dúvidas
> sobre alguns dados, por exigências legais. Essa desculpa foi considerada
> inaceitável pelo corpo técnico da Diretoria de Pesquisa do IBGE - cuja
> responsável, Marcia Quintslr, demitiu-se, recebendo a solidariedade de
> gerentes e coordenadores da área.
> A polêmica se explica quando se observa que a Pnad Contínua havia apontado
> um desemprego médio de 7,1% em 2013 - bem acima do índice medido pela
> Pesquisa Mensal de Emprego, que tem ficado em torno de 5% e é o número
> usado na propaganda da presidente Dilma Rousseff em sua campanha à
> reeleição.
> A ingerência política é apenas parte de um processo de enfraquecimento do
> IBGE - deixando o instituto à mercê dos interesses do governo. Os seguidos
> cortes orçamentários já resultaram em diminuição de escopo e mesmo de
> cancelamento de diversas pesquisas do instituto.
> No começo deste ano, o governo já havia reduzido de R$ 214 milhões para R$
> 193 milhões as verbas do IBGE para pesquisas. Agora, o Ministério do
> Planejamento decidiu que o orçamento do instituto para 2015, fixado em R$
> 766 milhões, será de apenas R$ 204 milhões. Com isso, serão adiados o Censo
> Agropecuário e a Contagem da População, que custariam R$ 562 milhões e
> seriam feitos nos dois próximos anos. Os prejuízos causados por essa
> decisão são imensos.
> O Censo Agropecuário pesquisa todas as propriedades rurais do País e
> levanta a situação tanto de seus proprietários como dos empregados, além da
> produção. Trata-se, portanto, de um instrumento essencial para o
> planejamento do agronegócio e para o levantamento das necessidades do
> setor, que tem liderado a economia do País nos últimos anos.
> Já a Contagem da População, além de estimar o total de habitantes, mensura
> movimentos migratórios e pesquisa os detalhes necessários para balizar o
> cálculo da distribuição dos fundos de participação de Estados e municípios
> em tributos federais. A possibilidade de distorção nos cálculos graças ao
> contingenciamento é evidente.
> A asfixia financeira do IBGE compromete profundamente a qualidade de seu
> trabalho. Graças à crise, o quadro de funcionários do instituto é hoje
> composto por mais de 40% de contratados por tempo determinado, que ganham
> salários muito inferiores aos dos servidores efetivos. Essa situação levou
> os funcionários do instituto a uma greve que durou mais de dois meses. Com
> a paralisação, o levantamento dos dados para a Pesquisa Mensal de Emprego
> ocorreu de forma apenas parcial, resultando em indicadores de consistência
> duvidosa.
> O enfraquecimento do IBGE interessa a autoridades que se empenham em negar
> a realidade. Portanto, é imperativo impedir que esse importante órgão do
> Estado se transforme em mera linha auxiliar de um partido ou de um governo.
>
>
> --
> Francisco Cribari-Neto, email: cribari em de.ufpe.br - "All theory, my
> friend, is grey, but green is life's glad golden tree." --Goethe (Faust)
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