[ABE-L] e começa 2015...

Nathália Demétrio natydemi em gmail.com
Seg Jan 12 22:13:53 -03 2015


Nos comentários me incomoda um pouco a impressão de que a universidade deve
zelar exclusivamente pela pesquisa. Quando, ao meu ver, como tudo na vida,
é necessário equilíbrio.

Minha graduação foi na Universidade Federal de Pernambuco, no ano que
entrei os cursos de estatística, química e matemática tinham um método
diferenciado, denominado Terceira Fase. Em linhas gerais, os alunos faziam
apenas a redação na 2ª fase do vestibular, e um número, três vezes maior
que o número de vagas, era admitido. Após um semestre cursando duas
disciplinas (matemática básica e introdução à estatística ou química ou não
lembro) os primeiros colocados, segundo o número de vagas, eram admitidos.
Apesar desta iniciativa (infelizmente já extinta) ter o objetivo de
aumentar o número de formados, o fato é que prestava um serviço social
muito grande. Na minha turma a opinião sobre os ganhos é quase unanime.
Diversos alunos que desistiram da estatística, algo normal em qualquer
curso, seguiram carreira em outras áreas de exatas. Pessoalmente, tenho
plena consciência que só me formei em 4 anos, seguindo o figurino, graças
às disciplinas introdutórias da 3ª fase. Uma vez que concluí o meu ensino
médio em escola pública noturna, ou seja, sequer tive aula de algumas
disciplinas durante o ano.

Esse falatório todo é para dizer que seria perfeito se o nosso país tivesse
educação de "1º mundo", mas não é a realidade, e não será tão cedo. Então
ok temos problemas, mas o que se faz?
1- Deixa claro o problema e reclama com as autoridades de todas as formas
possíveis.
2- ... ?
Iniciativas à lá 3ª fase, que encara as coisas como elas são e procura
melhorar o cenário, são uma forma de ajudar tanto a realidade das
universidades quanto a do nosso país. E é nesse tipo de universidade que eu
acredito. Uma instituição que encara ensino, pesquisa e extensão com a
mesma importância.


2015-01-12 20:06 GMT+01:00 Márcio Augusto Diniz <dnz.marcio em gmail.com>:

> Um ponto de vista de um professor de outro país em desenvolvimento que
> pode agregar a discussão:
>
>
> http://www.theguardian.com/higher-education-network/blog/2014/may/26/confessions-of-an-academic-the-developing-world
>
> Descobri a série Academics Anonymous do The Guardian recentemente. Há
> textos que valem a pena.
>
> Abraços.
>
>
> --
> Márcio Augusto Diniz
>
> 2015-01-12 15:42 GMT-02:00 Richard Santos <jamesrichardsantos em gmail.com>:
>
> Uma parte do que o Gauss falou penso está relacionado com o objetivo das
>> universidades, que é o de melhorar o seu ranking, e os indicadores do
>> ranking são percentual de docentes com doutorado, número de publicações,
>> etc, indicadores mais de quantidade do que de qualidade. Ou seja, o
>> interesse é mais em ter mais verbas para sim, e não educar ou gerar
>> conhecimento. Mas, o ranking é uma coisa implementada pelo governo. Então,
>> boa parte do erro não vem do governo?
>> Muitos acadêmicos estão mais preocupados em publicar em maior número,
>> independente da qualidade, só para ficar entre os que mais publicam para
>> ganhar a verba. Tudo que vira comercial acaba (o futebol brasileiro, a
>> educação, a saúde, etc).
>> Assim, imagino como os estatísticos pesquisadores (mais teóricos, mas não
>> só teóricos, claro, mas que tem o papel mais de criar métodos, de testar e
>> comparar métodos já existentes - sinto falta disso, às vezes -, etc)
>> passam, só imagino porque sou estatístico aplicado (menos crio ou testo
>> teorias, mas que preocupa mais em aplicar os métodos existentes já nos
>> problemas práticos e em bases grandes). Acho que toda área tem essa
>> separação, de pesquisador e prático, não é? E ambos são essenciais, ninguém
>> consegue ser os dois com a mesma profundidade (em matemática, física,
>> estatística, engenharia). Para o estatístico aplicado, e não o pesquisador,
>> há outros problemas, do mercado, e de novo do governo, mas são problemas
>> diferentes.
>> Abçs.
>> Richard
>>
>> Em 12 de janeiro de 2015 12:39, Fabio Machado <faprama em gmail.com>
>> escreveu:
>>
>> Um ponto adicional é o acesso prematuro de jovens professores
>>> às demandas burocráticas, administrativas e políticas de seus
>>> departamentos e institutos. Isto somado a também prematura estabilidade
>>> é uma combinação explosiva.
>>>
>>> Ouço histórias de jovens colegas que perdem preciosas horas em comissões
>>> e cargos sendo isto entendido como um acesso ao círculo de decisões
>>> quando
>>> na verdade são armadilhas que atrasam e na maioria das vezes inviabilizam
>>> o desenvolvimento de suas carreiras acadêmicas.
>>>
>>> Saudações
>>>
>>>
>>>
>>>
>>>
>>>
>>> 2015-01-12 11:46 GMT-02:00 Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>:
>>> > Caríssimos.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > Meus últimos comentários sobre o tema discutido que constam
>>> >
>>> > de um texto que publiquei (em co-autoria com o Prof. Renato Cintra,
>>> UFPE)
>>> >
>>> > no Jornal do Commercio de Recife há  uns 2 anos.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > Infelizmente, ao longo dos últimos anos, uma série
>>> >
>>> > de eventos se combinam para desmantelar qualquer
>>> >
>>> > ambiente acadêmico que pretenda esboçar excelência.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > Nominalmente, temos abaixo 10 pontos de uma lista
>>> >
>>> > que poderia conter pelo menos 50 itens.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 1. excesso de burocracia que engessa as universidades;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 2. introdução de legislações, pareceres e recomendações jurídicas
>>> >
>>> > que corroem o mérito e as tradições universitárias (por exemplo, na
>>> >
>>> > UFPE, não se pode solicitar uma simples carta de recomendação
>>> >
>>> > no processo de seleção de alunos da pós-graduação);
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 3. indefesa dos valores acadêmicos baseado em mérito e
>>> >
>>> > desmotivação dos professores mais destacados;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 4. dificuldades do nosso sistema na contratação de professores
>>> estrangeiros;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 5. infra-estrutura extremamente precária;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 6. nivelamento por baixo e imposição de sistema de quotas para alunos
>>> > iméritos;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 7. vestibular com fraquíssimo crivo de seleção. Um exemplo: a
>>> trigonometria
>>> >
>>> > do ENEM se resume ao triângulo retângulo.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 8. excessiva preocupações com evasão ou reprovação,
>>> >
>>> > mas pouca preocupação em melhorar o ensino;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 9. priorização em criar novos cursos e diplomar alunos
>>> >
>>> > em grande quantidade sem necessariamente zelo pela qualidade;
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > 10. baixa qualidade do ensino médio que reflete
>>> >
>>> > em uma baixa qualidade do ensino superior.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > Efetivamente, vem-se introduzindo dispositivos anti-meritocráticos e
>>> >
>>> > assistencialistas que exaltam a mediocridade.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > O estímulo ao esforço e/ou a busca pela excelência está sendo
>>> relativizado.
>>> >
>>> >
>>> >
>>> > Sds,
>>> >
>>> >
>>> > Gauss Cordeiro
>>> >
>>> >
>>> > Em 11 de janeiro de 2015 09:15, Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>
>>> escreveu:
>>> >
>>> >> Caro Jaime,
>>> >>
>>> >> Bom dia!
>>> >>
>>> >> Permita-me uma pequena sugestão em alterar o seu último parágrafo:
>>> >>
>>> >> "está destruindo"  deve ser substituído por "destruiu" a carreira
>>> docente
>>> >> das IFES.
>>> >>
>>> >> Esse fato já ocorreu (portanto é passado) para encerrar a última
>>> greve.
>>> >>
>>> >> Nos últimos 3 meses fui convocado para 8 bancas de progressão
>>> >> de professor associado 4 para titular nas duas federais do meu
>>> >> Estado e, em 5 delas, não aceitei  pois os candidatos dos
>>> >> departamentos não tinham (para mim) perfil de professor titular.
>>> >> Todos são agora titulares!
>>> >>
>>> >> Estou numa idade que não almejo mais alterar o rumo da
>>> >> irresponsabilidade acadêmica.
>>> >>
>>> >> Sds,
>>> >>
>>> >> Gauss
>>> >>
>>> >>
>>> >> Em 10 de janeiro de 2015 23:41, Jaime Rivera <rivera em im.ufrj.br>
>>> escreveu:
>>> >>
>>> >>> Caros Colegas,
>>> >>>
>>> >>> A análise feita pelo Prof. Rogerio Leite não é completa pois existem
>>> >>> algumas
>>> >>> particularidades com Chile que devem ser consideradas antes de fazer
>>> a
>>> >>> análise
>>> >>> dos gastos.
>>> >>>
>>> >>> 1) As universidades chilenas não são gratuitas. Existem as estatais e
>>> >>> privadas
>>> >>> mais a diferença dos preços cobrados não varia muito.
>>> >>>
>>> >>> 2) Não existe estabilidade laboral. O professor que é mal avaliado o
>>> não
>>> >>> atinge os objetivos mínimos pode ser demitido.
>>> >>>
>>> >>> 3) Professores chilenos que saem para fazer um doutorado no exterior
>>> com
>>> >>> Bolsa
>>> >>> chilena, se não conseguem o doutorado, tem que devolver ao estado
>>> todo o
>>> >>> dinheiro que recebeu como bolsa.
>>> >>>
>>> >>> Isso aqui no Brasil sería impensável. Mais aí temos uma grande
>>> diferença
>>> >>> que
>>> >>> de por si implica numa economia gigantesca de recursos públicos.
>>> >>>
>>> >>> No Brasil o quadro docente é muito inestável. O perfil de professor
>>> >>> titular
>>> >>> muda de universidade em universidade, existem ainda professores
>>> titulares
>>> >>> com
>>> >>> apenas com mestrado ou graduação.
>>> >>>
>>> >>> Outra ponto importante é que não existe cobrança nas bolsas de
>>> Doutorado
>>> >>> nem
>>> >>> Pós Doutorado. Isto é candidato a doutor pode ser reprovado e mesmo
>>> assim
>>> >>> não
>>> >>> tem que devolver nada ao estado. No caso de Pós Doutorado é pior
>>> ainda.
>>> >>> Isto a
>>> >>> maneira de anedota, porem real: Uma vez eu perguntei a um
>>> beneficiário de
>>> >>> Bolsa de Pos Doc do CNPq  que passou um ano em USA, se ele tinha
>>> >>> publicado
>>> >>> bem. Ele respondeu: "Jaime lá em USA é outro ritmo, meu orientador me
>>> >>> mandou
>>> >>> fazer cursos de graduação e quase reprovei"
>>> >>>
>>> >>> Mais ainda,  o Programa ciências sem fronteira  leva alunos de
>>> graduação
>>> >>> para
>>> >>> centros de excelência. Muitos deles despois  de alguns anos recebendo
>>> >>> bolsa
>>> >>> voltaram porque não sabiam o idioma local.  Todo esse dinheiro ficou
>>> em
>>> >>> nada.
>>> >>> Some  esses valores todos e veja quanto dá!
>>> >>> Não é pouco não!
>>> >>>
>>> >>> Para ser breve, este governo, esta destruindo a carreira docente. Na
>>> nova
>>> >>> lei
>>> >>> do magistério assinada pelo Dr. Aloizio Mercadante (Tese de
>>> Economia: As
>>> >>> bases
>>> >>> do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula
>>> >>> (2003-2010),
>>> >>> 17/12/2010) assinou a lei 12.863 onde todo professor deve iniciar a
>>> >>> carreira
>>> >>> universitária como auxiliar, não importando sua qualificação. Poder
>>> ser
>>> >>> doutor, pós doutor, ter ganhado o Premio Novel o a medalha Field.
>>> Começa
>>> >>> o
>>> >>> magistério como auxiliar. Isso é mandar a meritocracia para aquele
>>> lugar.
>>> >>> Fora os pontos acima estou de acordo com a opinião do Prof. Leite.
>>> >>>
>>> >>> Um abraço
>>> >>> Jaime.
>>> >>>
>>> >>>
>>> >>>
>>> >>> --
>>> >>> Jaime E. Munoz Rivera
>>> >>>
>>> >>>
>>> >>> ---------- Original Message -----------
>>> >>> From: "Hedibert Freitas Lopes" <hedibert em im.ufrj.br>
>>> >>> To: Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>,Dani Gamerman <dani em im.ufrj.br
>>> >
>>> >>> Cc: im em im.ufrj.br,Lista da ABE <abe-l em ime.usp.br>
>>> >>> Sent: Fri, 9 Jan 2015 18:22:02 -0300
>>> >>> Subject: Re: [ABE-L] e começa 2015...
>>> >>>
>>> >>> > Aproveitando a deixa do Gauss, vou repetir aqui tambem minha
>>> >>> > colocacao do facebook sobre esse artigo:
>>> >>> >
>>> >>> > Brasil: 670 artigos & 30 bilhões
>>> >>> > Chile: 717 artigos & 2 bilhões
>>> >>> > Brasil nos top jornals: 1%
>>> >>> > Brasil nas revistas indexadas: 2.5%
>>> >>> >
>>> >>> > Distributivismo demagogo, regime de trabalho obsoleto e burocracia:
>>> >>> > lixo acadêmico em abundância.  Retornei ao Brasil a pouco mais de
>>> um
>>> >>> > ano e navegando nos currículos Lattes de vários estatísticos,
>>> >>> >  economistas e biólogos (áreas que me interessam) o que me assusta
>>> é
>>> >>> > que não somente professores/pesquisadores mais
>>> velhos/estabelecidos,
>>> >>> > mas também os mais jovem produzem essa montanha crescente de
>>> >>> > excremento acadêmico. A mediocridade paira no ar."
>>> >>> >
>>> >>> > Complemento aqui mais especificamente para a estatistica
>>> brasileira:
>>> >>> >
>>> >>> > Alguns dos professores/pesquisadores de 65 anos ou mais (e alguns
>>> >>> > mais novos) que fazem parte do pequeno grupo de admiro no Brasil
>>> ja'
>>> >>> > fizeram muito para nossa estatistica cientifica e estruturalmente e
>>> >>> > seria, na minha opiniao, injusto julga-los sem fazer um desconto
>>> >>> > temporal.  Agora, convenhamos, vejo varios professores associados
>>> na
>>> >>> > nossa area
>>> >>> > (a um passo do "paraiso") com curriculos mediocres e que produzem
>>> >>> > esse lixo academico a que a Nature se refere.  No's
>>> >>> > professores/pesquisadores entre 40 e 60 anos (\pm 5 anos) devemos
>>> >>> > dar o exemplo para o pessoal que esta' ai comecando e isso nao
>>> esta'
>>> >>> > acontecendo.  Temos que fazer logo, o mais rapido possivel, a
>>> >>> > mudanca de uma quantidade alta de artigos irrelevantes para um
>>> >>> > numero baixo de trabalhos relevantes.  This is my 2 cents.
>>> >>> >
>>> >>> > Abs,
>>> >>> > Hedibert
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