[ABE-L] e começa 2015...

Márcio Augusto Diniz dnz.marcio em gmail.com
Seg Jan 12 17:06:33 -03 2015


Um ponto de vista de um professor de outro país em desenvolvimento que pode
agregar a discussão:

http://www.theguardian.com/higher-education-network/blog/2014/may/26/confessions-of-an-academic-the-developing-world

Descobri a série Academics Anonymous do The Guardian recentemente. Há
textos que valem a pena.

Abraços.


-- 
Márcio Augusto Diniz

2015-01-12 15:42 GMT-02:00 Richard Santos <jamesrichardsantos em gmail.com>:

> Uma parte do que o Gauss falou penso está relacionado com o objetivo das
> universidades, que é o de melhorar o seu ranking, e os indicadores do
> ranking são percentual de docentes com doutorado, número de publicações,
> etc, indicadores mais de quantidade do que de qualidade. Ou seja, o
> interesse é mais em ter mais verbas para sim, e não educar ou gerar
> conhecimento. Mas, o ranking é uma coisa implementada pelo governo. Então,
> boa parte do erro não vem do governo?
> Muitos acadêmicos estão mais preocupados em publicar em maior número,
> independente da qualidade, só para ficar entre os que mais publicam para
> ganhar a verba. Tudo que vira comercial acaba (o futebol brasileiro, a
> educação, a saúde, etc).
> Assim, imagino como os estatísticos pesquisadores (mais teóricos, mas não
> só teóricos, claro, mas que tem o papel mais de criar métodos, de testar e
> comparar métodos já existentes - sinto falta disso, às vezes -, etc)
> passam, só imagino porque sou estatístico aplicado (menos crio ou testo
> teorias, mas que preocupa mais em aplicar os métodos existentes já nos
> problemas práticos e em bases grandes). Acho que toda área tem essa
> separação, de pesquisador e prático, não é? E ambos são essenciais, ninguém
> consegue ser os dois com a mesma profundidade (em matemática, física,
> estatística, engenharia). Para o estatístico aplicado, e não o pesquisador,
> há outros problemas, do mercado, e de novo do governo, mas são problemas
> diferentes.
> Abçs.
> Richard
>
> Em 12 de janeiro de 2015 12:39, Fabio Machado <faprama em gmail.com>
> escreveu:
>
> Um ponto adicional é o acesso prematuro de jovens professores
>> às demandas burocráticas, administrativas e políticas de seus
>> departamentos e institutos. Isto somado a também prematura estabilidade
>> é uma combinação explosiva.
>>
>> Ouço histórias de jovens colegas que perdem preciosas horas em comissões
>> e cargos sendo isto entendido como um acesso ao círculo de decisões quando
>> na verdade são armadilhas que atrasam e na maioria das vezes inviabilizam
>> o desenvolvimento de suas carreiras acadêmicas.
>>
>> Saudações
>>
>>
>>
>>
>>
>>
>> 2015-01-12 11:46 GMT-02:00 Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>:
>> > Caríssimos.
>> >
>> >
>> >
>> > Meus últimos comentários sobre o tema discutido que constam
>> >
>> > de um texto que publiquei (em co-autoria com o Prof. Renato Cintra,
>> UFPE)
>> >
>> > no Jornal do Commercio de Recife há  uns 2 anos.
>> >
>> >
>> >
>> > Infelizmente, ao longo dos últimos anos, uma série
>> >
>> > de eventos se combinam para desmantelar qualquer
>> >
>> > ambiente acadêmico que pretenda esboçar excelência.
>> >
>> >
>> >
>> > Nominalmente, temos abaixo 10 pontos de uma lista
>> >
>> > que poderia conter pelo menos 50 itens.
>> >
>> >
>> >
>> > 1. excesso de burocracia que engessa as universidades;
>> >
>> >
>> >
>> > 2. introdução de legislações, pareceres e recomendações jurídicas
>> >
>> > que corroem o mérito e as tradições universitárias (por exemplo, na
>> >
>> > UFPE, não se pode solicitar uma simples carta de recomendação
>> >
>> > no processo de seleção de alunos da pós-graduação);
>> >
>> >
>> >
>> > 3. indefesa dos valores acadêmicos baseado em mérito e
>> >
>> > desmotivação dos professores mais destacados;
>> >
>> >
>> >
>> > 4. dificuldades do nosso sistema na contratação de professores
>> estrangeiros;
>> >
>> >
>> >
>> > 5. infra-estrutura extremamente precária;
>> >
>> >
>> >
>> > 6. nivelamento por baixo e imposição de sistema de quotas para alunos
>> > iméritos;
>> >
>> >
>> >
>> > 7. vestibular com fraquíssimo crivo de seleção. Um exemplo: a
>> trigonometria
>> >
>> > do ENEM se resume ao triângulo retângulo.
>> >
>> >
>> >
>> > 8. excessiva preocupações com evasão ou reprovação,
>> >
>> > mas pouca preocupação em melhorar o ensino;
>> >
>> >
>> >
>> > 9. priorização em criar novos cursos e diplomar alunos
>> >
>> > em grande quantidade sem necessariamente zelo pela qualidade;
>> >
>> >
>> >
>> > 10. baixa qualidade do ensino médio que reflete
>> >
>> > em uma baixa qualidade do ensino superior.
>> >
>> >
>> >
>> > Efetivamente, vem-se introduzindo dispositivos anti-meritocráticos e
>> >
>> > assistencialistas que exaltam a mediocridade.
>> >
>> >
>> >
>> > O estímulo ao esforço e/ou a busca pela excelência está sendo
>> relativizado.
>> >
>> >
>> >
>> > Sds,
>> >
>> >
>> > Gauss Cordeiro
>> >
>> >
>> > Em 11 de janeiro de 2015 09:15, Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>
>> escreveu:
>> >
>> >> Caro Jaime,
>> >>
>> >> Bom dia!
>> >>
>> >> Permita-me uma pequena sugestão em alterar o seu último parágrafo:
>> >>
>> >> "está destruindo"  deve ser substituído por "destruiu" a carreira
>> docente
>> >> das IFES.
>> >>
>> >> Esse fato já ocorreu (portanto é passado) para encerrar a última greve.
>> >>
>> >> Nos últimos 3 meses fui convocado para 8 bancas de progressão
>> >> de professor associado 4 para titular nas duas federais do meu
>> >> Estado e, em 5 delas, não aceitei  pois os candidatos dos
>> >> departamentos não tinham (para mim) perfil de professor titular.
>> >> Todos são agora titulares!
>> >>
>> >> Estou numa idade que não almejo mais alterar o rumo da
>> >> irresponsabilidade acadêmica.
>> >>
>> >> Sds,
>> >>
>> >> Gauss
>> >>
>> >>
>> >> Em 10 de janeiro de 2015 23:41, Jaime Rivera <rivera em im.ufrj.br>
>> escreveu:
>> >>
>> >>> Caros Colegas,
>> >>>
>> >>> A análise feita pelo Prof. Rogerio Leite não é completa pois existem
>> >>> algumas
>> >>> particularidades com Chile que devem ser consideradas antes de fazer a
>> >>> análise
>> >>> dos gastos.
>> >>>
>> >>> 1) As universidades chilenas não são gratuitas. Existem as estatais e
>> >>> privadas
>> >>> mais a diferença dos preços cobrados não varia muito.
>> >>>
>> >>> 2) Não existe estabilidade laboral. O professor que é mal avaliado o
>> não
>> >>> atinge os objetivos mínimos pode ser demitido.
>> >>>
>> >>> 3) Professores chilenos que saem para fazer um doutorado no exterior
>> com
>> >>> Bolsa
>> >>> chilena, se não conseguem o doutorado, tem que devolver ao estado
>> todo o
>> >>> dinheiro que recebeu como bolsa.
>> >>>
>> >>> Isso aqui no Brasil sería impensável. Mais aí temos uma grande
>> diferença
>> >>> que
>> >>> de por si implica numa economia gigantesca de recursos públicos.
>> >>>
>> >>> No Brasil o quadro docente é muito inestável. O perfil de professor
>> >>> titular
>> >>> muda de universidade em universidade, existem ainda professores
>> titulares
>> >>> com
>> >>> apenas com mestrado ou graduação.
>> >>>
>> >>> Outra ponto importante é que não existe cobrança nas bolsas de
>> Doutorado
>> >>> nem
>> >>> Pós Doutorado. Isto é candidato a doutor pode ser reprovado e mesmo
>> assim
>> >>> não
>> >>> tem que devolver nada ao estado. No caso de Pós Doutorado é pior
>> ainda.
>> >>> Isto a
>> >>> maneira de anedota, porem real: Uma vez eu perguntei a um
>> beneficiário de
>> >>> Bolsa de Pos Doc do CNPq  que passou um ano em USA, se ele tinha
>> >>> publicado
>> >>> bem. Ele respondeu: "Jaime lá em USA é outro ritmo, meu orientador me
>> >>> mandou
>> >>> fazer cursos de graduação e quase reprovei"
>> >>>
>> >>> Mais ainda,  o Programa ciências sem fronteira  leva alunos de
>> graduação
>> >>> para
>> >>> centros de excelência. Muitos deles despois  de alguns anos recebendo
>> >>> bolsa
>> >>> voltaram porque não sabiam o idioma local.  Todo esse dinheiro ficou
>> em
>> >>> nada.
>> >>> Some  esses valores todos e veja quanto dá!
>> >>> Não é pouco não!
>> >>>
>> >>> Para ser breve, este governo, esta destruindo a carreira docente. Na
>> nova
>> >>> lei
>> >>> do magistério assinada pelo Dr. Aloizio Mercadante (Tese de Economia:
>> As
>> >>> bases
>> >>> do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula
>> >>> (2003-2010),
>> >>> 17/12/2010) assinou a lei 12.863 onde todo professor deve iniciar a
>> >>> carreira
>> >>> universitária como auxiliar, não importando sua qualificação. Poder
>> ser
>> >>> doutor, pós doutor, ter ganhado o Premio Novel o a medalha Field.
>> Começa
>> >>> o
>> >>> magistério como auxiliar. Isso é mandar a meritocracia para aquele
>> lugar.
>> >>> Fora os pontos acima estou de acordo com a opinião do Prof. Leite.
>> >>>
>> >>> Um abraço
>> >>> Jaime.
>> >>>
>> >>>
>> >>>
>> >>> --
>> >>> Jaime E. Munoz Rivera
>> >>>
>> >>>
>> >>> ---------- Original Message -----------
>> >>> From: "Hedibert Freitas Lopes" <hedibert em im.ufrj.br>
>> >>> To: Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>,Dani Gamerman <dani em im.ufrj.br>
>> >>> Cc: im em im.ufrj.br,Lista da ABE <abe-l em ime.usp.br>
>> >>> Sent: Fri, 9 Jan 2015 18:22:02 -0300
>> >>> Subject: Re: [ABE-L] e começa 2015...
>> >>>
>> >>> > Aproveitando a deixa do Gauss, vou repetir aqui tambem minha
>> >>> > colocacao do facebook sobre esse artigo:
>> >>> >
>> >>> > Brasil: 670 artigos & 30 bilhões
>> >>> > Chile: 717 artigos & 2 bilhões
>> >>> > Brasil nos top jornals: 1%
>> >>> > Brasil nas revistas indexadas: 2.5%
>> >>> >
>> >>> > Distributivismo demagogo, regime de trabalho obsoleto e burocracia:
>> >>> > lixo acadêmico em abundância.  Retornei ao Brasil a pouco mais de um
>> >>> > ano e navegando nos currículos Lattes de vários estatísticos,
>> >>> >  economistas e biólogos (áreas que me interessam) o que me assusta é
>> >>> > que não somente professores/pesquisadores mais velhos/estabelecidos,
>> >>> > mas também os mais jovem produzem essa montanha crescente de
>> >>> > excremento acadêmico. A mediocridade paira no ar."
>> >>> >
>> >>> > Complemento aqui mais especificamente para a estatistica brasileira:
>> >>> >
>> >>> > Alguns dos professores/pesquisadores de 65 anos ou mais (e alguns
>> >>> > mais novos) que fazem parte do pequeno grupo de admiro no Brasil ja'
>> >>> > fizeram muito para nossa estatistica cientifica e estruturalmente e
>> >>> > seria, na minha opiniao, injusto julga-los sem fazer um desconto
>> >>> > temporal.  Agora, convenhamos, vejo varios professores associados na
>> >>> > nossa area
>> >>> > (a um passo do "paraiso") com curriculos mediocres e que produzem
>> >>> > esse lixo academico a que a Nature se refere.  No's
>> >>> > professores/pesquisadores entre 40 e 60 anos (\pm 5 anos) devemos
>> >>> > dar o exemplo para o pessoal que esta' ai comecando e isso nao esta'
>> >>> > acontecendo.  Temos que fazer logo, o mais rapido possivel, a
>> >>> > mudanca de uma quantidade alta de artigos irrelevantes para um
>> >>> > numero baixo de trabalhos relevantes.  This is my 2 cents.
>> >>> >
>> >>> > Abs,
>> >>> > Hedibert
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>> Fábio Prates Machado - Professor
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