[ABE-L] Polêmica sobre pesquisa estatística da FEE

Julio Stern jmstern em hotmail.com
Qua Maio 13 19:57:44 -03 2015


Caro  Jose Carvalho:   Sendo voce o pioneiro de uso de SAS no Brasil, sabia que cedo ou tarde ouviriamos de voce :-)  Ja estamos meio kilometrados nos dois, e ja vimos muita coisa neste mundo.  Minha visao sobre software livre mudaram com o tempo, a medida que fui levando uma lambadas. 
Como voce, que foi pioneiro no uso de SAS no Brasil, eu fui dos primeiros a utilizar Matlab, no final da decada de 80.   Quando voltei ao Brasil (1991) trouxe na bagagem meu Matlab 3.5. Continuei renovando a licenca, ate o dia em que apareceu um representante no Brasil.  A partir de entao, tive que comprar o software no Brasil  (a) por um preco exorbitante e (b) com um Hardlock que me limitava a uma maquina, condicao esta imposta apenas a alguns paises do 3o mundo. Discriminacao pura e simples, embora perfeitamente legal!   Fui tambem usuario do Watcom C Compiler, e de alguns softwares de bancos de dados muito bons, ate o dia que foram comprados por companias concorrentes, e terminados sem a menor cerimonia. Foi um parto portar tudo para outra plataforma... 
Aprendi minha licao (gato escaldado tem medo de agua fria): 
O investimento de aprendizado e desenvolvimento que se faz ao utilizar uma linguagem de programacao eh enorme. Hoje, eu so faco algo importante em uma linguagem ou ambiente do qual eu tenha livre acesso  ao codigo fonte, licenca GNU.   A proposito: Eu nao uso R, mas sim Octave, que eh a versao publica do Matlab.   Isto tambem resolve o problema de legal liability (razao pela qual grandes bancos so utilizam software comercial).  O desenvolvedor pode fazer tudo em Octave, e rodar nos clientes em Matlab.  Ha tambem "fornecedores comerciais"  para R, e alguns bancos aceitam esta solucao. 
Isto dito,  Legal liability eh conversa para boi dormir...  Algum banco ou empresa ja processou a Microsoft por algum de seus inumeros bugs? Alguem ja leu o fine print do contrato de licenciamento? 

Abraco ao Ze Carvalho, e a todos os demais redistas. ---Julio Stern     


> Date: Wed, 13 May 2015 18:36:08 -0300
> From: carvalho em statistika.com.br
> To: abe em lists.ime.usp.br
> Subject: Re: [ABE-L] Polêmica sobre pesquisa estatística da FEE
> 
> -----BEGIN PGP SIGNED MESSAGE-----
> Hash: SHA256
> 
> Essa discussão começou sobre o seríssimo assunto de censura a um
> artigo científico. Certo, errado, mais ou menos rigoroso, seja o que
> for, sabemos que, ao atentar contra um modismo (desigualdade de
> gêneros no mercado de trabalho), causou reações contra os autores e
> suas instituições de trabalho. A reação, como se deu, é
> antidemocrática e foge, ela sim, ao procedimento digno de
> intelectuais, cujas ideias se confrontam-se, limitando-se as pessoas
> ao debate. O manifesto que se seguiu é mais do que justificado. Não
> fosse eu tão insignificante, tê-lo-ia assinado.
> 
> E a discussão descambou para comparação de softwares, por um único
> mail do Júlio Stern, que, apaixonado e provocativo como sempre, fez a
> elegia do R. Mudou a discussão. E seguiu-se um monte de mails, sobre
> um assunto sério.
> 
> Em parêntensis: gosto de latim, que estudei no ginasial e mais um
> pouco depois, mas não posso ler sem dicionário. Pensei quando vi a
> enorme citação em latim que, diabos, teria de tratar de entender
> latim. Mas fui ver uns alfarrabios e encontrei a citação em um artigo
> de Wolfgang Lenzen: Leibniz Logic, um capítulo do livro The Rise of
> Modern Logic (editado por Dov Gabbay e John Woods; Elsevier, 2004)
> onde a citação e tradução ao inglês estão na página 1. Ufa, não
> preciso mais ler o Leibniz no original.
> 
> O que tenho a dizer é simples: o trabalho com SAS e SPSS, para quem
> lida com muitas análises, de grandes e pequenos problemas, que tem de
> ser feitos com rapidez, nada tem a ver com o trabalho que eu fazia,
> enquanto estava na Unicamp. Eu ajudava médicos, engenheiros e
> pesquisadores de outras áreas, da Unicamp e de muitos outros centros.
> Quase sempre os problemas envolviam uma só tabela de dados, quando
> muito um banco de dados pequeno. Em geral, os dados eram mal formados
> (como até hoje, também na indústria), mas eram quase sempre pequenos.
> E as análises poderiam ser elaboradas, poderiam demorar,se eu
> precisasse. Naqueles tempos, Minitab, BMDP serviam bem. Claro, desde
> sempre usei o SAS, o que me deu um enorme conforto e me fez crescer
> muito. É assim: para trabalhar para valer, em geral usamos o SAS. É
> mais rápido, a preparação de dados é muito mais rápida. Uso o R
> também, claro. Agora mesmo, um cliente me obriga a usar GAMLSS, onde
> eu proponho usar regressão quantílica. Sou obrigado a fazer ambos.
> Embora seja "produção", o trabalho envolve cientistas e podemos
> discutir métodos e gastar tempo com isso (mas não muito). Pois bem, os
> cálculos do GAMLSS eu os fiz com R. Naturalmente, as tabelas de dados
> foram preparadas com o SAS. O banco de dados original veio em SAS. Tem
> dezenas de tabelas, está devidamente normalizado. Mas a tabela que eu
> queria, simples, com alguns x's e y's teve de ser preparada. Com a
> tabela desnormalizada, retangular, invocar uma rotina é muito fácil.
> 
> Tenho de afirmar que sempre gostei de computação, o que é ocioso dizer
> aos que me conhecem. Sou portanto alfabetizado em Fortran, C (e mais
> umas velharias que não ouso lembrar, inclusive Assembler do /360); mas
> vale incluir Perl, Python e... R.
> 
> Sobre software livre: sou o maior fã! Brasileiro que sou, trato de
> evitar Micro$oft, Apple e cia até onde possível. Toco uma firmazinha
> de consultoria, em que há dois servidores, vários desktops e um outro
> número de notebooks. Todos - todos! - rodam Linux. No momento, é o
> Fedora 21. Usamos o LibreOffice quase exclusivamente. (Há alguns
> brincando com Calligra, do KDE). Todos os softwares são LIVRES. Exceto
> o SAS, que roda alegremente em Linux. E isso é assim há quase 15 anos.
> Brasileiro, comecei com Conectiva (de Curitiba); acompanhando a
> Conectiva, fui para o Mandrake, depois Mandriva. Finalmente, este
> acabou (virou Mageia e Rosa).
> 
> Muitos meus amigos, amigos que respeito e quero muito, altamente
> competentes em computação, pugnam pelo R e o usam sob... Windows (nem
> todos, felizmente). Alguns alegam que é difícil fugir do Windows no
> notebook (como se este fosse diferente de um desktop). Vários fazem
> seus relatórios em MS Office. Nossas sociedade profissionais exigem
> que artigos submetidos a suas publicações ou congressos sejam
> apresentadas em MS Office. Ora, não posso resistir a considerar isso
> hipocrisia. Acho que no passado, a turma não usava o SAS, por que era
> caro. Hoje, ele é praticamente de graça para o ensino. Existe uma VM
> (Linux) que pode ser rodada sob VMWare ou VirtualBox (até sob Windows
> como hospedeira), que é gratuita. Basta baixar de
> http://www.sas.com/en_us/software/university-edition.html. Está
> disponível a professores e  alunos.
> 
> Se somar tudo que economizei em divisas, por usar Linux e todo o
> software livre, paguei de longe o custo do SAS. Se somar o tempo e a
> qualidade do trabalho que meus colegas tem feito ao longo de anos,
> então a conta cresce desmesuradamente.
> 
> Finalmente: acho R e as bibliotecas matemáticas e estatísticas do
> Python, muito bacanas. O pessoal que trabalha comigo deve ser
> proficiente em pelo menos um destes. (A gente nuncasabe o futuro -
> inclusive deles, que podem ter de ir trabalhar em outro lugar - ainda
> mais com o estado de coisas deste país).
> 
> PS meu super notebook tem 32GB, um processador de 8 cores super
> rápido, dois discos, 1 SSD de 512 GB e um outro comum de 1TB, tela de
> alta resolução (o driver nõa da NVidia :-)), etc, etc. O sistema
> operacional é FEDORA 21 (será 22 logo). Escrevo-lhes usando o
> Thunderbird como cliente de mail. Quer mais FOSS que isso?
> PPS pago a Free Software Foundation com o mesmo prazer que pago a ABE.
> 
> Abraços a todos, em especial ao Júlio Stern, cujas mensagens sempre me
> dão prazer de ler. E apoiemos o manifesto, causa original deste "thread"
> .
> 
> 
> 
> On 05/13/2015 03:39 PM, Julio Stern wrote:
> > ``...quando orientur controversiae, non magis disputatione opus 
> > erit inter duos philosophos, quam inter duos computistas. Sufficiet
> > enim calamos in manus sumere sedereque ad abacos, et sibi mutuo 
> > (accito si placet amico) dicere: calculemus.''
> 
> - -- 
> Jose Carvalho, PhD
> Statistika
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