[ABE-L] UnB cassa diploma de doutora por plágio

Florencia Leonardi leonardi em ime.usp.br
Sex Set 11 07:05:28 -03 2015


Caros,

assim como os políticos, também os mestres e doutores somos um reflexo  
da sociedade,
o sucesso a qualquer preço chegou também na universidade. A diferença  
é que antes
éramos nós e a nossa consciência, mas hoje existe internet!

Saudações,
Florencia


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FONTE:
http://www.metropoles.com/distrito-federal/educacao-df/unb-cassa-diploma-de-doutora-por-plagio

UnB cassa diploma de doutora por plágio
A professora Ana Zuleide é servidora da Universidade Federal de  
Roraima e perdeu título e gratificação

Vergonha para o mundo acadêmico, o plágio chegou às teses de cursos de  
pós-graduação em instituições conceituadas como a Universidade de  
Brasília (UnB). O assunto é tratado com cautela para evitar escândalos  
e macular o círculo fechado frequentado por doutores e mestres. Mas o  
silêncio começa a ser rompido pelas denúncias dos autores que tiveram  
seus trabalhos copiados. Este ano, a UnB cassou o diploma de doutora  
de uma ex-aluna e analisa mais dois casos de suspeita de clonagem em  
dissertações de mestrado.

O diploma cassado foi o de Ana Zuleide Barroso da Silva, professora da  
Universidade Federal de Roraima (UFRR). Segundo consta nos processos  
referentes ao caso, ela teria copiado trechos de um trabalho da  
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para defender a própria  
tese com o título: “Construção da Governança nos Espaços Protegidos  
Fronteiriços Brasil – Venezuela”. A professora recorreu da anulação do  
título de doutora no Tribunal Regional Federal da Primeira Região  
(TRF-1), mas perdeu.

Em setembro de 2011, a professora Ana Zuleide chegou a receber  
publicamente os parabéns do então reitor da UFRR, Roberto Ramos, junto  
com outros dois professores. Eles foram homenageados por fazerem as  
primeiras defesas públicas de teses de doutorado do Estado de Roraima.  
Ana Zuleide defendeu a tese no Programa de Pós-Graduação em Relações  
Internacionais naquele ano, mas somente em 2013 a instituição de  
ensino superior brasiliense constatou a fraude.

A denúncia partiu de integrantes da UFRJ. A Câmara de Pesquisa e  
Pós-Graduação da UnB abriu um procedimento administrativo para apurar  
o caso e concluiu pelo plágio. A professora de Roraima pediu na  
Justiça que permanecesse com o diploma até o julgamento final da  
demanda. A principal alegação foi o cerceamento ao direito de defesa.

No entanto, a UnB alegou ter seguido todos os procedimentos legais e o  
juiz federal substituto Bruno Anderson Santos negou provimento à  
docente: “O agravante teve acesso aos autos do processo administrativo  
com amplo conhecimento dos fatos investigados, produziu as provas  
pertinentes e ofereceu defesa escrita….o que afasta qualquer alegação  
relativa à ofensa ao devido processo legal e à ampla defesa.”

Sem gratificação
Mesmo diante da decisão da Justiça, Ana Zuleide continuou a receber a  
gratificação por titulação de doutor e a ocupar o cargo de Diretora do  
Centro de Ciências Administrativas e Jurídicas da Universidade Federal  
de Roraima.

Em 5 de março deste ano foi exonerada. Em 7 de maio, foi publicado  
acórdão dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU)  
determinando que a UFRR suspendesse cautelarmente os pagamentos da  
professora relativos à titulação de doutorado e de quaisquer rubricas  
decorrentes do título.

A professora é servidora pública federal efetiva da UFRR e recebeu  
gratificação pelo título. No Portal da Transparência da  
Controladoria-Geral da União, o salário bruto da servidora até março  
deste ano era de R$ 13.912,17. Depois da decisão do TCU, a remuneração  
básica bruta passou a ser R$ 7.336,14.

Em nota publicada no site da UFRR sobre o caso, a reitoria reconhece a  
“dedicação ao trabalho e a eficiência como gestora da professora Ana  
Zuleide”. No entanto, ressalta que “infelizmente, esses méritos não  
permitem o descumprimento de uma decisão do TCU”. Afirma que o diploma  
foi cassado pela UnB e a UFRR não pode julgar o mérito da cassação.

“A professora não praticou nenhum ilícito no exercício da gestão como  
diretora. O problema é de outra índole, a UFRR não tem nada a  
investigar num PAD (Processo Administrativo Disciplinar). Trata-se de  
mero cumprimento de decisão de instância legalmente instituída. Os  
acórdãos do TCU são títulos executivos cujo cumprimento é irrecorrível  
para quem não tenha competência para fazê-lo, como no caso específico  
a Reitoria não tem”, diz o comunicado.

Providências
Preocupada com os prejuízos que o plágio de dissertações e teses pode  
trazer à instituição, a Universidade de Brasília adotou medidas mais  
rigorosas para descobrir e combater a clonagem. No momento, mais dois  
casos estão em investigação. Se as denúncias forem comprovadas, dois  
mestres vão perder seus títulos. Os processos correm em segredo de  
Justiça e até que sejam apurados não podem ser divulgados. De acordo  
com o decano de Pesquisa e Pós-graduação da UnB, Jaime Martins de  
Santana, a universidade é cautelosa, porém criteriosa em qualquer caso  
de plágio.

Outra medida: será criado na biblioteca um sistema para informar à  
comunidade científica sobre como proceder para identificar  
corretamente a literatura. “Se a pessoa faz a devida citação, não é  
plágio. Vamos informar o que pode e o que não pode. A intenção é  
informar, educar”, completa o decano.

Além disso, um aplicativo fará o rastreamento para identificar  
possíveis cópias. “Com o software, poderemos fazer as comparações com  
teses de outros países, até da Rússia, por exemplo. O sistema vai  
pegar 90% das fraudes”, afirma.

Praga mundial
Para o decano, o plágio virou uma praga mundial. “O orientador é um  
especialista na área de atuação. Mesmo que ele leia muito não vai  
decorar detalhes, citações”, analisa. O professor Célio Cunha, do  
Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Católica de  
Brasília (UCB), concorda. “Se um aluno decide, por exemplo, copiar um  
trabalho em um centro pouco conhecido da Ásia e traduzir, é muito  
difícil pegar”, afirma. No entanto, a ressalva do especialista é para  
que a análise comece desde a aprovação para o programa de pós-graduação.

De acordo com a Portaria 174, da Coordenação de Aperfeiçoamento de  
Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, cada  
orientador fica condicionado a acompanhar, no máximo, oito alunos. Mas  
esse número é ultrapassado em algumas universidades. Célio da Cunha  
acredita que a pressão para se formar cada dia mais doutores vai  
aumentar os casos de plágio nos próximos anos.

Não é fácil fazer um doutorado. É difícil ser original. O que as  
pessoas precisam ter em mente é que devem ser honestas, fazer as  
citações."
Célio Cunha, professor
Segundo Cunha, os meios de burlar as regras são inúmeros. Por isso,  
cabe também aos orientadores ficarem atentos aos assuntos estudados.  
“Existem professores que conferem todas as citações de uma  
dissertação, de uma tese, mas é impossível fazer isso com todos os  
trabalhos”, completa.

A reportagem do Metrópoles tentou contato com a professora que teve a  
tese clonada, na UFRJ, e com a professora Ana Zuleide, mas não obteve  
sucesso. O advogado de Ana Zuleide nos processos, Bernardino Dias,  
também não atendeu as ligações para o celular e para o escritório dele.

Outros casos de plágio
Onze estudantes da especialização em Relações Internacionais da UnB  
perderam todo o dinheiro investido no curso, em 2001, por plágio em  
trabalhos de uma disciplina. Os alunos entraram com recursos na  
Justiça, mas perderam em todas as instâncias.

·       Por conta de uma denúncia de plágio feita por uma professora  
da Bahia, um estudante teve de voltar à Universidade de Brasília  
(UnB), em dezembro de 2005, para reapresentar uma dissertação de  
mestrado defendida em 2001. A comissão responsável por avaliar o caso  
optou pela reorganização do estudo.
·
·
·       Em 2008, a Universidade Federal Fluminense (UFF) cassou o  
diploma de um doutor que defendeu a tese pelo Programa de  
Pós-Graduação em História. Ele havia apresentado o trabalho em 2003,  
mas cinco anos depois um amigo do autor plagiado percebeu a fraude. Na  
ocasião, identificou-se a cópia de 120 páginas da tese, além de  
tabelas e gráficos.
·
·       Em 2011, a reitoria da Universidade de São Paulo (USP) demitiu  
um professor com mais de 15 anos de atuação por entender que o docente  
havia liderado pesquisas com trechos plagiados de outros  
pesquisadores. O caso também levou à cassação do título de doutora de  
outra professora.
·
·       Em fevereiro de 2011, o promotor de Justiça Paulo José Leite  
Farias, do Ministério Público do DF, admitiu ter usado trechos de um  
documento defendido por uma aluna da Faculdade de Direito da  
Universidade de São Paulo (USP) em um concurso de dissertações. Ele  
devolveu o prêmio de R$ 1,5 mil que havia ganhado.
·
·       Em 2013, a ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan,  
renunciou ao cargo após ter perdido o título de doutora pela  
Universidade Heinrich Heine, de Dusseldorf, sob a acusação de plágio.  
A instituição cancelou o título após uma investigação interna que  
comprovou a cópia.


Florencia Leonardi
http://www.ime.usp.br/~leonardi




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