[ABE-L] Deu na Folha de São Paulo

Francisco Cribari cribari em de.ufpe.br
Seg Set 14 05:56:32 -03 2015


Folha de São Paulo, 14 de setembro de 2015

Mesmo em crise, USP é o primeiro lugar no ranking universitário

Faculdades particulares ultrapassam escolas públicas em alguns cursos
SABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHAFÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO

A USP ampliou sua liderança no RUF (Ranking Universitário *Folha*), a mais
ampla avaliação de qualidade de instituições de ensino superior do país,
que chega em 2015 à quarta edição.

Primeira colocada no ranking geral, como nos anos anteriores, a instituição
aumentou o número de primeiras colocações nas 40 áreas de graduação
consideradas. Foi de 20 (em 2014) para 29.

A escola obteve o resultado mesmo após adotar medidas para diminuir o
deficit, como suspender contratações e aplicar programa de demissão
voluntária. O cenário de corte também afeta as instituições federais.

Ainda na graduação, faculdades privadas ultrapassaram grandes universidades
públicas em alguns cursos.

A FGV-SP obteve o segundo lugar em administração, à frente das federais de
Minas e do Rio. O Insper subiu da 36ª para a 8ª posição, na carreira com
mais calouros no país. A FGV-SP ficou ainda entre as cinco melhores escolas
de economia.

A ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)alcançou o segundo lugar
em propaganda; a São Leopoldo Mandic, o 4º em odontologia.

Esses e outros dados visam ajudar o estudante a escolher sua faculdade, e
facilitam o acompanhamento, pela sociedade, do ensino superior brasileiro.

As 192 universidades do país são avaliadas em cinco aspectos: pesquisa,
ensino, inserção no mercado, inovação e internacionalização.

Em outra frente, estão classificadas 2.391 instituições, considerando as 40
carreiras com mais calouros. Nesse grupo, a moda entrou no lugar dos cursos
de filosofia.

Pela primeira vez, os resultados podem ser comparados aos do ano anterior,
devido à manutenção da metodologia, que inclui dados oficiais e pesquisas
de opinião Datafolha. A inclusão de dados sobre formados e extensão
universitária está em estudo e pode ser incluída no forte.

NA INTERNET

*Veja a classificação das 192 universidades e dos 40 cursos com mais
demanda em* *ruf.folha.uol.com.br/2015* <http://ruf.folha.uol.com.br/2015>

Encontre informações mais detalhadas sobre as instituições de ensino
superior do país

*PARA VESTIBULANDOS*
Busque cursos e instituições avaliados pelo RUF que são oferecidos na sua
cidade

*PARA ALUNOS*
Compare a qualidade da sua faculdade com outras que oferecem o mesmo curso

*PARA ACADÊMICOS*
Entenda os indicadores usados na metodologia do RUF e seus respectivos
pesos na nota final

*PARA GESTORES*
Analise a posição de sua instituição em cada um dos quesitos avaliados no
ranking
Aprenda a usar os dados para escolher sua universidade

Nas tabelas, é preciso comparar as instituições de ensino por grupos
SABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se você se formou na faculdade recentemente, responda rápido: como você
elegeu a sua instituição de ensino? Caso sua escolha tenha sido feita às
cegas, não se assuste. É isso que acontece com a maioria das pessoas.

A escolha de uma profissão ou de uma instituição de ensino podem ser
decisivas para toda a carreira. Por isso, quanto mais embasamento, melhor.

Desde 2012, o RUF avalia as instituições brasileiras de ensino superior e
reúne informações que podem ajudar futuros universitários a escolher sua
universidade. Mas é preciso entender os dados.

Há dois tipo de classificações diferentes no RUF. O ranking de
universidades avalia em cinco quesitos as 192 instituições brasileiras que
fazem ensino, pesquisa e extensão –95 privadas e 97 públicas (veja
infográfico).

Há também os rankings de cursos, que listam universidades, centros
universitários e faculdades em cada uma das 40 carreiras de maior demanda
no país, como medicina, publicidade e direito.

Para analisar todas essas informações é preciso olhar as instituições em
grupos.

No ranking de universidades, por exemplo, vemos que a USP é a melhor do
país.

São igualmente boas as escolas que estiverem no mesmo "quadrante" da USP
–no grupo das 25 melhores.

Há quatro nordestinas "padrão USP": as federais de Pernambuco (10º lugar),
do Ceará (11º), da Bahia (15º) e do Rio Grande do Norte (25º).

Há, também, duas instituições privadas no grupo da USP: as pontifícias do
Rio de Janeiro (19º lugar) e do Rio Grande do Sul (20º lugar).

As 95 universidades privadas do país também podem ser analisadas em grupos.

No quadrante da melhor privada do país, a PUC-Rio, por exemplo, encontramos
uma série de universidades católicas, o Mackenzie (4ª melhor privada) e a
Universidade de Caxias do Sul (5ª).

Uma universidade melhora de um ano para outro no RUF quando ela muda de
quadrante. É o caso da Universidade Estadual da Paraíba, que saiu do 109º
lugar em 2014 (3º quadrante) e passou para 93º lugar (2º quadrante), junto
com escolas como a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (53º lugar).

*CURSO POR CURSO*

Se você já tem ideia da carreira que vai seguir, vale analisar o ranking do
seu curso. Algumas instituições podem ser referência em áreas específicas,
mas se diluem se comparadas como um "todo".

No RUF, vemos o exemplo da federal de Viçosa: é a melhor do país no curso
de agronomia, mas vai para 16º lugar no ranking de universidades.

Situação semelhante acontece na PUC-SP: a universidade tem o 3º melhor
curso de direito no RUF, só perdendo para a USP e para a federal de Minas
Gerais. Já no ranking geral de universidades, a PUC-SP vai para 53º lugar.

E se você tiver paciência, vá além: no site do RUF você consegue pesquisar
a cidade de cada instituição e pode conferir informações detalhadas, como o
número de alunos de cada universidade.

Essa informação é importante. Há estudos sobre evasão escolar que mostram
que há estudantes que não se dão bem em universidades muito grandes; outros
não conseguem se manter estudando muito longe de casa.
Verba curta prejudica até as melhores escolas do país

Saem construções e contratações, entram congelamentos e greves
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

Até 2013, as universidades brasileiras falavam em construir e contratar. Em
2015, os termos desapareceram do ensino superior e foram substituídos por
corte e greves.

O desaquecimento da economia fez com que as melhores universidades do país
segundo RUF recebessem menos recursos do que o esperado. Por serem
públicas, elas dependem do repasse dos Estados ou da União.

Nas escolas paulistas (USP, Unesp e Unicamp), a verba transferida pelo
governo estadual ficou 10% menor do que o previsto (até junho).

Contratações de professores estão suspensas e há corte na verba para
manutenção.

Na USP, um plano de demissão voluntária de técnicos no começo deste ano
levou a redução de cerca de 5% na folha de pagamento.

Nas instituições federais, decreto presidencial de junho congelou 10% da
verba de manutenção e 47% da de investimento (construções e modernizações
da estrutura).

As federais de Minas e do Rio tiveram dificuldades até de pagar a conta de
luz.

Greve iniciada há três meses atinge as 41 universidades federais que
responderam à reportagem (em algumas, docentes estão parados; em outras,
técnicos). Em 17 escolas, o primeiro semestre letivo ainda não acabou.

Há reivindicação de reajuste salarial, via revisão da carreira, mas também
por melhoria nas condição de trabalho.

*QUAL O EFEITO?*

Dirigentes universitários e pesquisadores entrevistados pela Folha dizem
que a situação orçamentária atrapalha a vida das instituições no curto
prazo, mas ainda não têm potencial para causar queda na qualidade do ensino
e da pesquisa no médio prazo.

Essa queda só ocorrerá se as restrições se prolongarem por alguns anos,
afirmam.

"Recursos humanos são a base para qualquer ambiente de ensino e pesquisa. E
nosso pessoal segue bem qualificado, com doutorado", diz o
secretário-executivo da Andifes (entidade que representa os reitores das
federais), Gustavo Balduíno.

Ex-presidente do CNPq (órgão federal de fomento à pesquisa), Glaucius Oliva
lembra que, antes do corte orçamentário, as universidades viveram fase de
compra de equipamentos e reforma de laboratórios. "Precisamos nos adaptar e
otimizar esses recursos nos próximos anos."

O reitor da USP, Marco Antonio Zago, afirma que as medidas de contenção de
despesas foram escolhidas "para não comprometerem as atividades-fim da
universidade".

Os cortes na escola começaram ano passado, antes das demais, devido ao
crescimento do gasto com folha de pagamento. À época, chegou a consumir
106% do que a escola recebe do governo.

"Tomamos medidas que tomaríamos em casa", afirmou a vice-reitora da Unesp,
Marilza Vieira Cunha Rudge. "Estamos apagando a luz, reduzindo o uso de
água. No prédio da reitoria, colocamos borrachinha nas torneiras [para
economizar água]."

Para a representante da Unesp, "é no momento de crise que as pessoas têm
mais ideias interessantes".

Ela cita como exemplo a diminuição de gastos com viagens. Videoconferências
passaram as ser usadas em reuniões e até em bancas de doutorados. *(SABINE
RIGHETTI, FÁBIO TAKAHASHI, CLÁUDIO GOLDBERG RABIN E WALTER PORTO)*

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EXEMPLOS DA CRISE

*UFRJ*
Universidade Federal do Rio de Janeiro Paralisação durou três meses, teve
participação de alunos e terminou em agosto. O 1º semestre não acabou em
alguns cursos

*UFERSA*
Universidade Federal Rural do Semiárido Greve teve início em maio e atinge
100% dos cursos de graduação. As aulas do 1º semestre ainda não foram
concluídas

*USP*
Universidade de São PauloPrograma de demissão voluntária para técnicos
cortou 1.400 funcionários no começo deste ano; grandes obras estão suspensas

*UFSC*
Universidade Federal de Santa CatarinaFuncionários parados desde junho.
Aulas foram mantidas, mas biblioteca e restaurante universitário estão
prejudicados

*UFG*
Universidade Federal de Goiás Greve começou com paralisação dos
funcionários, em maio; docentes aderiram ao movimento em agosto
Unifesp tem pior queda entre primeiras da lista

Em fase de expansão, universidade perde 12 posições e informa que
prioridade, agora, é consolidar cursos novos
DHIEGO MAIADE SÃO PAULO

A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) foi a instituição que mais
perdeu posições entre as 25 melhores nesta edição do RUF.

Do 12º lugar, em 2014, caiu para 22º no ranking deste ano (com 192
universidades).

A maior queda ocorreu na avaliação do mercado de trabalho, que é baseada em
pesquisa com empregadores. A escola foi da 52ª para a 102ª colocação, o que
mostra que a Unifesp não tem sido lembrada pelo mercado.

Mas há uma ponderação: a universidade é a única entre as melhores com menos
de 10 mil alunos. Nesse indicador, o tamanho importa, pois quanto mais
pessoas forma, maior é a relevância da instituição para as empresas.

A universidade também sofreu retração em outros dois aspectos: pesquisa (um
posto) e inovação (nove). Em ensino (14ª) e internacionalização (10ª), ela
se manteve.

Nos últimos quatro anos, a Unifesp, até então conhecida por cursos da área
da saúde, fez a maior expansão de sua história. Criou seis campi e o número
de cursos saltou de 20 para 51, incluindo administração e engenharia.

Se, por um lado, a escola passou a atender mais estudantes, por outro
enfrenta problemas estruturais. As greves de alunos pedindo melhores
condições de ensino são uma evidência disso.

"Ela pagou preço por ter crescido sem planejamento", afirma Antonio Carlos
Lopes, ex-diretor da Escola Paulista de Medicina, unidade mais tradicional
da Unifesp.

Lopes cita como exemplos os campi de Osasco e Guarulhos, que funcionam em
prédios alugados e ainda não tiveram suas obras concluídas.

Mayra Guanaes, 25, cursa letras, em Guarulhos. Ela reclama que a biblioteca
da unidade tem número insuficiente de livros. "Demoro muito para fazer as
pesquisas."

Uma aluna de 23 anos que está no último ano de medicina (e pede anonimato)
afirma que há professores que preferem pesquisar e colocam pós-graduandos e
técnicos para darem aulas.

A pró-reitora de graduação da Unifesp, Maria Angélica Pedra Minhoto,
reconhece os problemas provocados "pela rápida expansão". Mas, segundo ela,
a universidade se planejou para dar conta desse crescimento, ao contratar
mais professores.

"Cerca de 95% dos docentes têm doutorado, quadro difícil de ser visto nas
demais federais", afirma.

Minhoto diz ainda que a prioridade, agora, é "fortalecer os cursos
existentes, colocando em operação as obras dos novos campi."
Escolas temem que o novo teto salarial provoque êxodo de cérebros

Decisão do Supremo obriga corte em salário de professores experientes
REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SÃO CARLOS (SP)

USP, Unesp e Unicamp vivem momentos de tensão. O salário de parte dos
professores deve ser cortado nos próximos meses, depois de o Supremo
Tribunal Federal deixar clara a aplicação do teto salarial para o
funcionalismo.

Até então, havia dúvidas do que considerar no salário do servidor para o
cálculo desse limite salarial.

A remuneração de um funcionário estadual não pode ultrapassar vencimentos
do governador: Geraldo Alckmin (PSDB) ganha R$ 21,6 mil.

No entendimento das universidades, os benefícios conquistados antes de 2003
não deveriam ser considerados nos salários dos servidores para o cálculo do
teto. O Supremo, porém, contrariou esse entendimento. Disse que tudo deve
ser computado.

Assim, só na USP, cerca de 7% dos servidores devem passar a ganhar menos
devido à decisão. Em geral, são os mais experientes da escola.

As universidades, que aguardam os últimos trâmites legais para iniciar os
cortes na folha de pagamento, dizem que podem perder parte dos melhores
professores.

Em artigo publicado mês passado na *Folha*, chamado "O Começo do Fim", o
reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, disse que há grande risco de haver
migração de docentes para as federais, onde o teto é maior (R$ 34 mil).

Para os servidores federais, o limite considera o salário de ministro do
Supremo.

*DÚVIDA*

Dados levantados pela reportagem, porém, relativizaram a possibilidade de
migração docente para federais.

A *Folha* analisou o caso emblemático dos campi em São Carlos (interior de
SP), um da USP e outro de uma federal, a UFSCar.

Usando dados públicos do governo federal e da USP, a reportagem comparou os
salários brutos de todos os professores do Instituto de Física de São
Carlos, da USP, e dos docentes do departamento de física da UFSCar.

Não há grande diferença entre as médias salariais. A maioria recebe entre
R$ 11 mil e R$ 15 mil mensais.

Nenhum dos 48 membros do departamento da federal chega a receber o teto do
funcionalismo paulista.

Comparando dois pesquisadores com tempo parecido de carreira, categoria
similar (professor associado) e a mesma área geral de pesquisa
(nanotecnologia) das duas instituições, a USP se sai melhor novamente: paga
R$ 17 mil ao seu docente, contra R$ 15 mil no caso da UFSCar.

Entre os docentes titulares (máximo da categoria), na UFSCar os salários
variam entre R$ 17 mil e R$ 19 mil. Na USP, entre R$ 14 mil e R$ 30 mil
(esses últimos são os que serão afetados pelo corte).

O físico Fernando Fernandes Paiva, professor do instituto da USP desde
2012, diz que a discussão sobre as possíveis vantagens das instituições
federais é controversa.

"Pouca gente vai priorizar um número lá no fim da carreira para decidir se
vai prestar concurso numa federal."

Um ponto importante, para Paiva, é a infraestrutura oferecida e o ambiente
de pesquisa em cada instituição.

"Quando você se estabelece, ganha seu espaço e cria infraestrutura para
fazer suas pesquisas, é quase loucura abrir mão disso por conta de um teto
que pode ou não vir no fim da carreira", afirmou.
Estudante típico das 10 melhores está distante da média brasileira

Maioria dos alunos é branca e oriunda de escolas particulares
WALTER PORTOCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O aluno típico das melhores universidades é branco, de classe média e fez o
ensino médio na rede privada.

A informação vem da compilação dos dados socioeconômicos dos calouros de 7
das 10 universidades mais bem colocadas no RUF 2015.

Todas foram procuradas pela *Folha*. Apenas as federais do Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Pernambuco não repassaram as informações sobre os
estudantes.

O perfil dos alunos nessas instituições de ponta destoa do perfil da
população brasileira. Nas melhores universidades, 27% dos alunos são pretos
ou pardos. A média da população é de 51%, segundo o Censo do IBGE (2010).

Pouco mais de 40% dos estudantes vieram do ensino médio público, rede que
atende a 87% dos alunos do país.

Apenas na Universidade Federal do Paraná há predominância de calouros
vindos da rede pública: são 58% do total. A escola reserva 40% dos postos
para esse público, por sistema de cotas.

O recorte econômico mostra que a renda familiar mais frequente entre os
estudantes é de dois a dez salários mínimos, faixa o que os coloca, segundo
critérios do Centro de Políticas Sociais da FGV-SP, próximos à classe C.

Pesquisa Datafolha de 2013 mostrou que 66% das famílias brasileiras ganham
até três salários mínimos. A taxa de alunos na faixa de renda mais baixa
das dez melhores universidades alcança 15%.

Coordenador do grupo de estudos sobre ensino superior na Unicamp, o
professor Renato Pedrosa afirma que a desigualdade no sistema de ensino
começa ainda na educação básica. "Terminar o ensino médio já é um filtro. O
ensino superior acumula essa exclusão."

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AS PRIMEIRAS DO RANKING DE UNIVERSIDADES

1 USP
2 UFRJ
3 UFMG
4 Unicamp
5 UFRGS
6Unesp
7 UFSC
8 UFPR
9 UnB
10UFPE

*É BRANCO*
Maioria declara ser da cor branca em todas as universidades, exceto na
UFMG, em que são 47%; só na UnB a taxa de pretos alcança 10%

*CLASSE C*
Todas as universidades têm maioria de estudantes na faixa de renda de 2 a
10 salários mínimos; a UnB tem 20% de alunos com mais de 20 salários
mínimos, e a USP tem 13%.

*ESTUDOU EM ESCOLA PAGA*
Egressos de escola particular predominam em todas as instituições, menos na
federal do Paraná; na USP e na Unicamp, são 66%

*É HOMEM*
Dentro das dez melhores, os homens são 54%, contra 49% na média nacional
Instituições estão investindo em professores com doutorado

Escolas em Santarém (PA) e no Cariri (CE) são as que mais avançaram na
formação do seu corpo docente
CLÁUDIO GOLDBERG RABINGIULIANA MIRANDADE SÃO PAULO

Universidades de todo o país têm contratado mais professores com doutorado:
desde a primeira edição do RUF, em 2012, até esta, a participação de
doutores no total aumentou de 43% para 48%.

O percentual de professores com doutorado e mestrado no quadro docente da
instituição é um dos indicadores contabilizados no ranking.

Nesta edição de 2015, universidades que melhoraram significativamente a
formação de seus professores também avançaram na classificação geral do
ranking.

A Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), em Santarém, foi uma das
que mais subiu no quesito sobre formação de professores, saltando 54
posições. No ranking geral, a escola subiu da 167ª para a 134ª posição.

A reitora da Ufopa, Raimunda Monteiro, diz que tem sido fundamental a
parceria com outras instituições, como a Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), por exemplo, para a formação de seus professores.

No critério do perfil de professores, a Universidade Regional do Cariri, no
Ceará, foi a segunda que mais avançou. O reitor, José Patrício Pereira
Melo, afirma que os concursos públicos realizados buscam filtrar pelos
títulos os futuros docentes.

*FISCALIZAÇÃO*

Lácio César, que comanda a Universidade Santa Úrsula, no Rio, lembra que
uma causa da melhoria na qualificação de professores é o aumento da
fiscalização, pelo Ministério da Educação, da lei que obriga a universidade
a ter um terço do corpo docente com mestrado ou doutorado.

O maior rigor começou em 2006. "Professores que não tinham o título
passaram a exercer outras funções na universidade", diz César. Ao mesmo
tempo, novos docentes já chegam bem formados.

A Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), de Presidente Prudente, informa
que oferece subsídios para cursos e horário de trabalho flexível aos
professores que decidem investir na sua formação.

Já na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o plano de carreira docente
é atrelado à titulação do profissional, e não apenas ao seu tempo de
trabalho.
Artigo científico 'blockbuster' catapulta notas de universidades

Trabalho com mais de 900 autores fez escolas mineiras subirem no ranking
SABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHAFÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO

Um único artigo científico catapultou as universidades federais mineiras de
São João del Rei e de Juiz de Fora para primeiras posições em quesitos do
RUF que avaliam a qualidade da pesquisa acadêmica nas instituições de
ensino.

Em expediente controverso na ciência mundial, o trabalho –um estudo na área
de física publicado no periódico "Physics Letters B" em 2012– foi assinado
por mais de 900 pesquisadores, de vários países –incluindo o Brasil.

O trabalho foi um dos que retratou a observação da partícula bóson Higgs,
considerada uma das descobertas do século e que ajuda a entender formação
do universo.

Para se ter uma ideia do que significam 900 autores, o "Physics Letters B"
teve uma média de três autores por artigo em 2012. Há estudos recentes com
a assinatura de mais de 5 mil nomes.

Dentre as mais de 900 assinaturas no estudo, onze são de pesquisadores
brasileiros, da USP, UFRJ (federal do Rio) e das duas federais mineiras.

A experiência ocorreu no maior acelerador de partículas do mundo, na Suíça.

A controvérsia ocorre porque há pesquisadores num trabalho assim que têm
papel lateral na descoberta, mas recebem praticamente o mesmo crédito que
os líderes.

Um desses louros é a citação do artigo em outros trabalhos acadêmicos, uma
das principais formas de medir o impacto de uma pesquisa.

A quantidade de citações é considerada no RUF para avaliar as
universidades. No quesito que mede especificamente o número de citações por
docente, por exemplo, a federal de São João del Rei subiu do 32º lugar em
2014 para o 1º lugar no país.

Já a de Juiz de Fora foi de 44º lugar para o 4º posto no mesmo quesito.

Isso aconteceu porque o artigo sobre o bóson de Higgs é uma espécie de
"blockbuster": foi citado 1.039 vezes somente em novos estudos publicados
somente em 2013.

Em universidades como a USP ou a UFRJ, que publicam muitos estudos por ano,
as citações recebidas em cada artigo ficam diluídas.

Já em São João del Rei, de menor porte (que tem quase um quarto do tamanho
da USP), o estudo foi suficiente para, sozinho, dobrar a quantidade de
citações recebidas pela escola em 2013.

O levantamento dos dados de impacto foi feito pelo pesquisador em ciência
da informação Estêvão Gamba, consultor do RUF.

*ALTA ENERGIA*

A física Maria Aline Barros do Vale está entre os brasileiros que assinam o
estudo –figura sozinha na federal de São João del Rei.

Com doutorado pela UFRJ, ela inaugurou, em 2002, a área de estudos em
física de altas energias na escola mineira. Hoje, coordena a pós-graduação
em física na universidade de Minas.

Do Vale conta que já esteve no acelerado de partículas na Suíça algumas
vezes –nos tempos em que o dinheiro para viagens internacionais científicas
era mais farto.

A participação dela no estudo publicado foi mais focada em física teórica
–do Vale pesquisa outra partícula, ainda não observada, o bóson de gauge.

"Cada pesquisador presta um serviço diferente", diz. "Há cientista, por
exemplo, que ajuda a desenvolver um software que analisa os dados coletados
pelo acelerador."

Para George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Unesp, investimentos
bilionários como do acelerador de partículas gigante exigem milhares de
pessoas.

"Mas estamos surfando em onda que não é nossa. Esses estudos não são
liderados por brasileiros", diz Matsas.

O físico Leandro Tessler, da Unicamp, concorda: "Uma coisa é colaborar como
uma via de duas mãos, em que há interesse mútuo na cooperação. Outra é o
que vem ocorrendo com muitas instituições brasileiras, em que você manda
especialistas, paga a conta e acha que avançou."

"A distorção [no impacto das universidades por causa desse artigo] não deve
ser usada para desvalorizar participação de cientistas do Brasil", afirma
Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp (agência
paulista de fomento à ciência).

Dados de impacto, no entanto, devem ser analisados com cautela para
"filtrar efeitos espúrios", diz Cruz.

Para do Vale, o trabalho tem rendido frutos. Segundo ela, graças à sua
participação no estudo, um dos seus ex-alunos de mestrado conseguiu uma
oportunidade para desenvolver parte da sua pesquisa de doutorado no
acelerador da Suíça.

ANÁLISE
Universidade Precisa ser livre para poder abrir mão da pesquisaHÉLIO
SCHWARTSMANCOLUNISTA DA FOLHA

"Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", diz a sabedoria
popular. E, frequentemente, quando tentamos transformar o um em outro sem
que as condições estejam dadas, acabamos produzindo confusões, quando não
criamos quimeras.

Com o ensino superior não é diferente. O artigo 207 da Constituição reza:
"As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e
de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". Temos aqui várias
ficções constitucionais, mas é na última delas que eu gostaria de me
concentrar. O que quer dizer indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão?

Para simplificar um pouco, tiremos a extensão dessa equação –é forçoso
reconhecer que essa é uma atividade lateral na universidade.

Isso nos deixa com ensino e pesquisa. Eles devem ser mesmo tratados como
indissociáveis? O consenso dizia que as duas atividades são tão
complementares e sinérgicas que é justamente sua confluência num único
espaço o que diferencia universidades de outras instituições educacionais
ou científicas.

Professores que pesquisam, diz o raciocínio, tendem a estar na vanguarda de
suas áreas e conseguem passar antes e com muito mais entusiasmo o resultado
de suas experiências aos estudantes.

Parece bom mesmo. Mas esse efeito é real? Herbert W. Marsh (hoje em Oxford)
e John Hattie (Universidade de Melbourne), em artigo de 2002, mostram que
as coisas podem ser complicadas.

As tentativas de medir o fenômeno resultaram num quadro ambíguo, com
algumas revisões sistemáticas.

Em geral, o vínculo virtuoso entre pesquisa e ensino não apareceu de forma
robusta. Apareceu um pouco mais forte nas humanidades e nas ciências
sociais, mas não nas ciências naturais.

Marsh e Hattie levantam uma série de argumentos racionais que já apareceram
na literatura para sustentar que a relação entre pesquisa e ensino é neutra
ou mesmo antagônica (a personalidade ideal do bom professor é diferente da
do bom pesquisador).

Embora a questão ainda não esteja decidida, parece relativamente seguro
afirmar que a indissociabilidade entre pesquisa e ensino não é o Santo
Graal da vida universitária como se pensava.

Assim, a exigência constitucional soa mais como extemporaneidade. À época
que a Carta foi aprovada, não havia razão para duvidar de que o mantra da
inseparabilidade não estivesse certo.

Hoje, porém, o marco legal funciona mais como uma trava do que como
incentivo.

Instituições com muita vocação para o ensino e nenhuma para a ciência
básica precisam fingir que fazem pesquisa para se adequarem às regras. E
não fingem muito bem. Os dados brutos do RUF mostram que apenas 10% das
universidades brasileiras publicam mais de um trabalho por docente a cada
dois anos.

A engambelação tem custo. Ela desvia recursos, pessoal e energias para algo
que não está no seu DNA.

Parece mais racional desburocratizar exigências, deixando que cada
instituição encontre o caminho que mais lhe convém. O Brasil precisa
melhorar tanto seu ensino superior como sua pesquisa.
Sudeste perde participação no total investido em pesquisa

Sul foi a região que mais aumentou os gastos em ciência de 2012 a 2015
SABINE RIGHETTICOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A fatia da região Sudeste no bolo de dinheiro investido em ciência no país
diminui desde a primeira edição do RUF, publicada em 2012.

A participação do Sudeste no total arrecadado para atividades científicas
caiu de 65% (na edição de 2012 do RUF, com dados de 2010) para 59% (nesta
edição de 2015, dados de 2013).

A quantidade de dinheiro que cada universidade consegue para suas pesquisas
é um dos indicadores do RUF que medem a atividade acadêmica das
instituições.

Esses dados são coletados nas agências de fomento federais à ciência –como
a Capes (com foco na pós-graduação) e CNPq (que prioriza a pesquisa)– e nas
fundações estaduais de amparo à pesquisa.

O maior crescimento proporcional de recursos para pesquisa foi na região
Sul.

No RUF 2012, as 46 universidades da região tinham 14% do bolo financeiro.
Nesta edição de 2015, a fatia aumentou para 18% do total.

Juntos, Norte, Nordeste e Centro-Oeste subiram de 21% do total arrecadado
pelas universidades para 23%.

Para a economista Maria Beatriz Bonacelli, do departamento de política
científica e tecnológica da Unicamp, a mudança na distribuição dos recursos
para ciência pode estar relacionada à criação e a consolidação de
universidades federais pelo país.

Fato: dez das 14 universidades federais criadas nos últimos dez anos estão
no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Isso pode explicar a queda de recursos
do Sudeste."

Glaucius Oliva, que presidiu o CNPq de 2011 a 2015, afirma que a mudança na
distribuição do dinheiro pode, também, ser resultado de uma política antiga
que estabeleceu cota mínima de recursos para universidades de regiões em
desenvolvimento.

Desde 2001, Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem obrigatoriamente 30% dos
recursos federais para ciência.

"No começo, era preciso fazer um certo esforço para atingir a meta, porque
alguns projetos das regiões em desenvolvimento não eram tão competitivos",
afirma.

Com mais dinheiro, os grupos de pesquisa dessas regiões se fortaleceram.

"Mais recentemente, alguns editais [chamadas de financiamento para projetos
de pesquisa] chegaram a ter mais de 30% para as regiões em
desenvolvimento", diz.

Hoje, de acordo com Oliva, há grupos de pesquisa nordestinos que competem
em igualdade com as universidades paulistas –caso da área de física da
Universidade Federal de Pernambuco.

"Agora, é importante dar um passo além, e analisar também as desigualdades
inter-regionais", afirma ele.
Moda derruba filosofia entre as graduações mais procuradas

Carreira entra na avaliação do ranking, que considera os 40 com mais
calouros
PEDRO DINIZENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Entre a primeira citação em aula de desenho industrial na hoje Uerj
(estadual do Rio), em 1962, até a marca atual de quase 150 cursos
cadastrados pelo MEC (Ministério da Educação), a moda conseguiu romper
preconceitos e a carência de profissionais.

Essa trajetória fez com que a área fosse, pela primeira vez, analisada no
RUF.

O ranking analisa 40 áreas com mais ingressantes em cada ano. Em 2013,
referência para esta edição, moda passou filosofia nesse quesito.

A demanda por profissionais de moda é o principal fator, segundo os
professores ouvidos pela reportagem, para a procura por graduações e cursos
tecnológicos da área. A indústria do vestuário no Brasil já representa
cerca de 10% do PIB industrial.

Coordenador do bacharelado em filosofia da USP, Homero Santiago entende que
a entrada de moda e a saída de filosofia do grupo de mais procuradas ocorre
mais pela consolidação da primeira.

Segundo ele, o ápice da procura por filosofia ocorreu há alguns anos,
quando a matéria passou a ser obrigatória no ensino médio. "Já moda, como
carreira relativamente nova, está se firmando."

*AS MELHORES*

A lista das escolas mais bem colocadas em moda inclui nomes tradicionais do
ensino da costura, como a paulistana Faculdade Santa Marcelina (4ª), e
surpresas, como Uniasselvi (15ª), em Brusque (SC), e a Universidade Federal
do Ceará (2ª).

Elas estão situadas em importantes polos têxteis e, em geral, inauguraram
cursos a pedido do empresariado.

É o caso do curso da Universidade Estadual de Londrina (PR), implantado em
1997 e terceiro colocado no RUF. "Reconhecemos as demandas locais para
adaptar o currículo", diz a professora Patrícia de Mello Souza.

Ela integrou a comissão do MEC que avaliava cursos com foco no vestuário.
Em 2006, a pasta definiu que a espinha dorsal dessas graduações fosse o
design.

*POLÊMICA*

A decisão causa controvérsia. Ao incluir moda no escopo do design –e não
separados– grades curriculares e cargas horárias de cada disciplina ficaram
muito heterogêneas entre as escolas.

"Moda é design, é um produto e deve ser tratado como tal na academia",
defende Souza, ex-membro da comissão do MEC.

Para Eloize Navalon, coordenadora do curso de design de moda da
Universidade Anhembi Morumbi (primeiro no RUF), a inexistência de
denominação clara impossibilita a "criação de diretrizes claras para a
grade do curso".

"Há cursos que combinam marketing com design. Isso causa confusão nos
alunos e desvia o bacharelado da função de aprofundar o conhecimento em
cada área", diz.

Hoje, mestrandos e doutorandos têm de guiar suas linhas de pesquisa em moda
dentro de outras áreas, como design e comunicação.

Para a diretora da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda,
Katia Castilho, o interesse pela produção científica de moda no país tem
crescido, mas ainda enfrenta resistências.

"Há muita procura por cursos técnicos de vestuário. Os alunos deixam de
pensar moda, porque para muitos é mais bacana fazer desfile do que
pesquisa", diz.
Curso para estilista no Ceará vai de 'puxadinho' a vice-campeão(PD)ENVIADO
ESPECIAL A FORTALEZA

Sentados no laboratório de desenho da Universidade Federal do Ceará (UFC),
em Fortaleza, os alunos do bacharelado em design de moda da instituição,
com idades entre 18 e 24 anos, falavam à *Folha* sobe as agruras de estudar
no segundo melhor curso de moda do país, segundo o RUF.

"Muitos alunos de outros departamentos acham que é um curso de patricinha.
Ainda há preconceito", diz a estudante Jennifer Mello, 19. "Temos sempre de
mostrar às pessoas que não vivemos numa bolha", afirma Deyvison Freitas, 20.

Apesar dos desabafos, já houve tempos piores. A graduação começou em 1993
com uma estrutura de puxadinho no departamento de economia doméstica.

Agora, com 305 alunos matriculados, abocanhou boa parte dos R$ 15 milhões
destinados a nova reforma do Instituto de Cultura e Arte da UFC, onde está
instalado.

"Hoje somos protagonistas do ensino de moda no Ceará, mas no começo nenhum
departamento queria abrir as portas para o curso. Foi um processo de
identificar as demandas de alunos e adaptá-las à estrutura disponível", diz
o vice-reitor da universidade, Custódio de Almeida. "Agora o curso tem um
dos corpos docentes mais estabilizados", afirma.

Quase todos os professores são ex-alunos do curso, o primeiro de moda do
Estado, que fizeram mestrado e doutorado fora do país.

O curso de design de moda da universidade, enviou neste ano 16 bolsistas
para o exterior através do programa Ciência Sem Fronteiras.

Apoiados por uma indústria confeccionista pujante, os alunos, como na
maioria dos cursos de moda no país, sonham em ser estilistas.

"Percebemos que é importante olhar para fora. O mercado é enorme aqui,
ainda que existam muitas confecções de fundo de quintal, e no curso você
vai descobrindo que o campo de atuação não se resume à criação de roupas",
diz a bolsista Kaline Pereira, 23. Modelista e designer de estampas estão
entre as carreiras possíveis para quem estuda moda.

ANÁLISE
A escola particular se fortalece, mas pública agonizaROGÉRIO MENEGHINIESTÊVÃO
GAMBAESPECIAL PARA A FOLHA

A atual crise universitária nos faz considerar o que, dos resultados do
RUF, podemos prever para o futuro próximo.

O RUF deste ano ranqueou 192 universidades: 95 privadas e 97 públicas. A
primeira consideração tem a ver com os recursos captados para pesquisa
junto a agências de fomento federais (CNPq e Capes) e fundações de amparo à
pesquisa estaduais (FAPs).

No ranking deste ano, que tem como base os dados de 2013, vimos que as
universidades arrecadaram mais de R$ 4 bilhões para pesquisa.

Desse total, 8,1% couberam às particulares. Parece pouco, mas é importante
destacar que, desde a primeira edição do RUF, em 2012, com dados de 2010, o
total arrecadado para pesquisa por essas universidades cresceu 92%, ante
42% nas públicas.

Do total de publicações científicas, 8,3% cabem às universidades privadas,
sendo que 30 delas são responsáveis por 71% dos trabalhos acadêmicos
contabilizados nesta edição do RUF (ou 7.466 artigos científicos). Não
resta dúvida de que tem havido aumento significativo na performance das
particulares.

Já o prestígio das instituições públicas não pode ser generalizado: apenas
uma elite de cerca de 20 delas se destaca com ao menos uma publicação por
docente no período de dois anos.

Grande parte das demais são universidades criadas nos anos mais recentes e
atuam de forma precária, do ponto de vista de condições materiais e de
qualificação do corpo docente.

Nos tempos mais recentes a qualificação das públicas tende a se deteriorar,
com greves prolongadas e fragilidade financeira.

É muito provável que estejamos caminhando para situação similar àquela que
nos anos 1960-1970 ocorreu com os colégios públicos, que passaram de
escolas de elite a instituições pobres estruturalmente e desprovidas de
corpo docente qualificado.

Nos próximos anos, é provável que as famílias de classe média e alta
procurem universidades ou outras instituições de curso superior com corpo
docente bem qualificados e bem pago e infraestruturas de qualidade. É ainda
provável que a maioria destas instituições seja privada.

A partir dos resultados do ranking é de se esperar que algumas destas
instituições procurem ter parte do corpo docente que se dedica à pesquisa
(os recursos são públicos e essa atividade pode trazer prestígio à
instituição).

Outras vão se dedicar apenas ao ensino, buscando um corpo docente de
qualidade.

Universidade sem pesquisa científica seria criação brasileira, já que não
existe em nenhum outro lugar. O MEC, por sua vez, teria que
desqualificá-las como tais ou criar nova nomenclatura, como a de
"universidade de ensino".
-------------- Próxima Parte ----------
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