[ABE-L] Usos e abusos dos números

Vermelho vermelho2 em gmail.com
Qua Dez 27 13:51:12 -03 2017


O IBGE tem um aplicativo para celular com muitas informações básicas,
bastante interessante.
Basta baixar na Play Store. O nome é bem original: IBGE.

Vermelho
F.: (21) 2501 2332 - casa
           2142 0473 - IBGE

Em 27 de dezembro de 2017 08:34, Maria Eulalia Vares <eulalia em im.ufrj.br>
escreveu:

>
> Parabéns a Hedibert e Tatiana pelo artigo! Agradeço também a Denise pelos
> dados.
> Eles estavam aí disponíveis, mas a gente nem sempre sabe one buscar e às
> vezes fica
> tendo que argumentar sem a clareza que estes dados conferem.
>
> Feliz 2018 para todos.
>
> Eulalia
>
> *---------- Original Message -----------*
> From: Denise Britz do Nascimento Silva <denisebritz em gmail.com>
> To: Alexandre Patriota <patriota.alexandre em gmail.com>
> Cc: abe-Lista <abe-l em ime.usp.br>
> Sent: Fri, 22 Dec 2017 16:23:29 -0200
> Subject: Re: [ABE-L] Usos e abusos dos números
>
> > Alexandre  e Hedibert
> >
> > é verdade que podemos diminuir a desigualdade sem reduzir a pobreza, ou
> podemos manter a desigualdade mesmo ficando todos em pior situação
> econômica.
> >
> > Para contribuir no debate, peço que vejam o gráfico 4.8 da publicação
> Síntese de Indicadores Sociais do IBGE 2016 - que compara o acesso dos
> estudantes mais pobres ao ensino público superior ( que reproduzo abaixo).
> >
> > https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf
> >
> > O gráfico indica que, ao considerar a distribuição do rendimento
> domiciliar per capita de estudantes da rede pública de ensino superior,   a
> parcela proveniente das famílias mais pobres aumentou ao longo de 10 anos,
> fornecendo evidência de que a população de estudantes do ensino público
> superior  é composta proporcionalmente de mais jovens de famílias com menos
> recursos financeiros (que estão conseguindo alcançar o ensino superior
> público) .
> >
> > Ao mesmo tempo, o gráfico 6.3 indica uma leve tendência da renda
> domiciliar per capita mediana (todos os valores corrigidos pela inflação
> para base 2015). Deve-se também reconhecer a queda de 2014 para 2015.
> Adicionalmente,  o gráfico 6.4 indica que a parcela da população com
> rendimento domiciliar per capita mais baixo diminui, se deslocando para
> estratos de rendimento superiores adjacentes (mas também houve leve queda
> nos estrato superior).
> >
> > Acredito que, unindo as evidências, ainda  é possível concluir que, de
> 2005 a 2015, as famílias brasileiras não ficaram mais pobres, houve aumento
> real de rendimento. Acho então que as famílias dos estudantes não ficaram
> mais pobres, entretanto mais estudantes de famílias pobres alcançaram o
> ensino superior, indicando  mudança de composição da população de
> estudantes do ensino superior público.
> >
> > Lembro que os dados referem-se à década 2005-2015.
> >
> > Abraços e seguem os gráficos.
> > Denise
> >
> >
> > Em 22 de dezembro de 2017 14:05, Alexandre Galvão Patriota <
> patriota.alexandre em gmail.com> escreveu:
> >
>>
>>
>> >
>> > Parabéns ao Hedibert e a Tatiana pelo artigo.
>> >
>> > Sobre o último parágrafo:
>> >
>> > ``Se o objetivo é corrigir as desigualdades do ensino superior público,
>> já temos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o percentual de
>> estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 27%, ao
>> passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de cotas
>> ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só poderão ser
>> medidos em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é expandir e
>> aprimorar essa política que, em virtude do comprovado aumento salarial dos
>> formados, provoca uma efetiva e duradoura redução das desigualdades.´´
>> >
>> > Corrijam-me se eu estiver errado, mas: se o percentual de estudantes
>> com renda familiar entre [0,3] aumentou 27% e o percentual de estudantes
>> com renda familiar entre [7,inf) diminuiu 37%, então podemos afirmar que em
>> um certo sentido as famílias dos estudantes estão *mais* pobres. Não
>> quero entrar nos detalhes filosóficos das teorias econômicas, mas me parece
>> claro que diminuir a desigualdade financeira não é o mesmo que diminuir a
>> pobreza.
>> >
>> > 2017-12-22 9:22 GMT-02:00 Hedibert Lopes <hedibert em gmail.com>:
>> >
>>>
>>>
>>> >
>>> > Usos e abusos dos números
>>> > Por Hedibert Lopes e Tatiana Roque
>>> >
>>> > http://www.valor.com.br/opiniao/5235489/usos-e-abusos-dos-numeros
>>> >
>>> > A regressividade dos gastos com ensino superior público é apontada
>>> frequentemente como justificativa para a cobrança de mensalidades. O
>>> relatório recente do Banco Mundial afirma, por exemplo, que 65% dos
>>> estudantes das universidades federais estão entre os 40% mais ricos. Quem
>>> são esses "mais ricos"?
>>> >
>>> > Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015
>>> mostram que nesse grupo de 40% "mais ricos" estão pessoas com renda per
>>> capita média de R$ 960,00. O Banco Mundial não define a partir de que renda
>>> se pode designar um grupo como o dos mais ricos, nem justifica o foco nos
>>> 40%. Poderíamos selecionar os 30% mais ricos, que ganham acima de R$
>>> 1.200,00; ou os 20%, que ganham acima de R$ 1.700,00. A renda média desses
>>> grupos difere pouco. De fato, a distância só aumenta quando selecionamos os
>>> 10% mais ricos.
>>> >
>>> > Suponhamos que fossem cobradas mensalidades dos estudantes que
>>> realmente têm condições de pagar, escalonadas de acordo com a renda. Usando
>>> os dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de
>>> Ensino Superior (Andifes), verificamos que 81% dos estudantes vêm de
>>> famílias com renda bruta familiar inferior a R$ 6.500,00, logo não poderiam
>>> pagar. Na faixa de renda familiar bruta entre R$ 6.500,00 e R$ 9.300,00
>>> estão 9% dos estudantes (de um total de aproximadamente 1 milhão,
>>> somando-se todas as universidades federais do país). Superestimando a
>>> capacidade de desembolso em 15%, essas famílias pagariam uma mensalidade de
>>> R$ 1.200,00, perfazendo R$ 1,3 bilhão no total. Já a faixa com renda
>>> familiar bruta acima de R$ 9.300,00 compreende 10% dos estudantes, mas é
>>> preciso analisar detalhadamente a distribuição de renda nessa faixa.
>>> >
>>> > O estudo da desigualdade feito pela Oxfam mostra que, no topo da
>>> população, reproduz-se a aberrante desigualdade brasileira: as famílias 10%
>>> mais ricas têm rendimentos médios de R$ 18.000,00, sendo o rendimento médio
>>> das famílias 1% mais ricas de R$ 160 mil. Logo, mantendo nossa estimativa
>>> do valor da mensalidade em 15% da renda familiar, obtemos que 9% dos
>>> estudantes pagariam R$ 2.700. Já os 1% mais ricos pagariam R$ 4 mil - o
>>> valor da mensalidade nas melhores universidades privadas. Somando-se, ao
>>> fim, todas as mensalidades possíveis, chegamos a um total de R$ 4,7
>>> bilhões, ou seja, em torno de 11% do orçamento anual das universidades
>>> federais (de R$ 41 bilhões). Devemos lembrar, contudo, que é necessário
>>> subtrair desse percentual o custo de se verificar quem pode ou não pagar
>>> (uma operação complexa), além do custo de administrar a cobrança. Na
>>> verdade, implementar medidas para melhorar a administração da universidade
>>> - o que não contradiz seu caráter público - poderia ser bem mais efetivo.
>>> >
>>> > Resumindo, cobrar mensalidades ajudaria pouco a enxugar o orçamento
>>> público e o Banco Mundial parece ter forçado os números para nos convencer
>>> do contrário. O cerne da disputa está nas faixas intermediárias, que nem
>>> podem realmente pagar nem entram na categoria de pobres (para fazer jus a
>>> bolsas). A solução ventilada para esse grupo de renda média é o crédito,
>>> que já mostrou efeitos perversos nos EUA e na Inglaterra, levando a um
>>> grave endividamento de estudantes - comprometendo o futuro de jovens que
>>> sequer ingressaram no mercado de trabalho.
>>> >
>>> > Do ponto de vista matemático, o problema é que a curva de distribuição
>>> de renda no Brasil é extremamente assimétrica (quase linear até o decil
>>> mais alto), em nada semelhante a uma curva normal.
>>> >
>>> > Dito de modo menos técnico, as faixas de renda intermediárias dos
>>> brasileiros são muito similares - e excessivamente baixas. Isso torna pouco
>>> rigorosa a separação entre "mais ricos" e "mais pobres", sob o risco de
>>> distinguir quem ganha R$ 960 por mês de quem ganha R$ 800. Só um critério
>>> qualitativo pode estabelecer a partir de que renda alguém pode ser
>>> considerado "não pobre".
>>> >
>>> > É positiva a tendência de analisar políticas públicas usando
>>> estatísticas. Deve-se tomar cuidado, todavia, com a dissociação entre
>>> informações quantitativas e qualitativas. A postura científica aconselha o
>>> uso de estatísticas para confirmar ou refutar perguntas em aberto. Mas as
>>> definições dos termos do problema, com impactos sociais significativos,
>>> precisam levar em conta o ideal de sociedade que se quer construir.
>>> >
>>> > Se o objetivo é corrigir as desigualdades do ensino superior público,
>>> já temos uma política de sucesso: as cotas. De 2010 a 2014, o percentual de
>>> estudantes com renda familiar de até 3 salários mínimos aumentou 27%, ao
>>> passo que a faixa acima de 7 salários diminuiu 37%. A política de cotas
>>> ainda está em fase de implementação e seus efeitos plenos só poderão ser
>>> medidos em 2018. Tudo leva a crer que o melhor caminho é expandir e
>>> aprimorar essa política que, em virtude do comprovado aumento salarial dos
>>> formados, provoca uma efetiva e duradoura redução das desigualdades.
>>> >
>>> > Hedibert Lopes é professor titular de Estatística e Econometria do
>>> Insper e foi Professor da Booth School of Business da Universidade de
>>> Chicago
>>> >
>>> > Tatiana Roque é professora do Instituto de Matemática da UFRJ e foi
>>> presidente da Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ)
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>> > Prof. Dr. Alexandre G. Patriota,
>> > Department of Statistics,
>> > Institute of Mathematics and Statistics,
>> > University of São Paulo, Brazil.
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