[ABE-L] QUALIS

Francisco Cribari cribari em de.ufpe.br
Qui Jul 12 12:06:26 -03 2018


Caros:

Entendo que o ideal seria buscarmos alguns pontos básicos de concordância.
O documento da CAPES que detalha a classificação QUALIS em nossa área se
encontra em

http://capes.gov.br/images/documentos/Qualis_periodicos_2016/Qualis_Periodicos_Area_01__2016_08_08_MATEM%C3%81TICA.pdf

A primeira coisa que chama a atenção é a aguda disparidade de critérios
usados (i) pela Matemática, (ii) pela Matemática Aplicada e (iii) pela
Probabilidade/Estatística. Dado que o QUALIS final é único para as três
áreas, chegamos à primeira pergunta:

(PERGUNTA 1) Alguma divergência de critérios é inevitável, mas será que
divergência tão acentuada de critérios é desejável?

Sobre tal pergunta, notemos que o conceito de uma dada revista pode ser
muito diferente dependendo de se sua avaliação é feita no escopo da
Matemática Aplicada ou no escopo da Probabilidade e Estatística.
Suponhamos, por exemplo, que o pesquisador X publique na revista Y, que
ainda não está classificada. Se o pesquisador X fizer parte de um programa
de pós-graduação em Matemática ou Matemática Aplicada, a classificação da
revista Y pode ser uma; se tal pesquisador fizer parte de uma pós-graduação
em Estatística, por outro lado, a classificação da revista Y pode ser
outra.

As classificações das revistas em nossa área (Probabilidade e Estatística)
são muito determinadas por seus tempos medianos de citação ("cited
half-life", HL). Eu inclusive mostrei a dominância desse critério ao
representante de área anterior da CAPES, prof. Lorenzo Díaz, numa reunião
que tive com ele e com mais alguns membros convidados de nossa comunidade
no IME/USP em maio de 2016. Tal critério, contudo, parece ser mais
pertinente para contribuições feitas nas áreas de Probabilidade e
Estatística Matemática, onde se espera haver perenidade de resultados. Não
está claro por que tal critério é relevante para contribuições feitas, por
exemplo, nos domínios da Estatística Computacional e da Estatística
Aplicada. Chegamos, assim, à segunda pergunta:

(Pergunta 2) Faz sentido as classificações de nossas revistas serem tão
influenciada pelo critério HL?

Adicionalmente, não está claro como é feita a separação de revistas "core"
e "não-core". Mais uma pergunta:

(Pergunta 3) Faz sentido colocar revistas como o International Journal of
Forecasting e o Journal of Forecasting, que são revistas de séries
temporais, como "não core"?

Não está claro também se há alguma regra que determine que boas revistas de
outras áreas não podem integrar o estrato A do nosso QUALIS. Parece
inclusive haver divergência sobre como tratar boas revistas de outras áreas
entre a Probabilidade/Estatística e a Matemática Aplicada.

(Pergunta(s) 4) Revistas de elite de outras áreas podem integrar o estrato
A do nosso QUALIS de acordo com os critérios da Probabilidade/Estatística?
Há conformidade com o que é feito na Matemática Aplicada nesse quesito?

Retorno agora a um ponto que levantei em minha mensagem inicial: as
classificações de muitas revistas da Estatística parecem estar em
desvantagem relativa, com todos os ajustes e mutatis mutandis pertinentes,
relativamente ao que vemos na Matemática, na Matemática Aplicada e até
mesmo na Probabilidade. Peguemos, a título de exemplificação, duas
revistas, a saber: Journal of Statistical Physics (uma revista em
probabilistas publicam) e Journal of Econometrics (uma revista de
Econometria, portanto ligada à área de Estatística). Vejamos dois
indicadores relvantes dessas revistas, fator de impacto (FI) e article
influence (AI):

Journal of Statistical Physics: FI=1.78 e AI=0.85
Journal of Econometrics: FI=1.80 e AI=2.83

Poder-se-ia argumentar que o SJR é um indicador mais relevante, como feito
por outros membros de nossa lista. Vejamos então:

Journal of Statistical Physics: SJR=0.930
Journal of Econometrics: SJR=5.191

Ou seja, as duas revistas têm FI semelhantes, o AI do JE é mais de três
vezes superior ao do JSP e o SJR do JE é mais de cinco vezes e meia maior
do que o do JSP.

Quais são as classificações QUALIS dessas revistas na nossa área? O Journal
of Statistical Physics tem classificação A2 enquanto o Journal of
Econometrics tem classificação B2. (Sim, B2!). Aliás, como notei, o Journal
of Statistical Physics está classificado em 7 áreas do QUALIS e a única que
o coloca no estrato A é a nossa. Convém também notar que o JSP tem
classificação B2 na Física ao passo que o Journal of Econometrics tem
classificação A1 na Economia.

Peguemos agora uma revista da Matemática para dar seguimento ao exemplo:
Ergodic Theory & Dynamical Systems. Temos os seguintes indicadores:
FI=0.84, AI=1.03 e SJR=1.193. Sua classificação QUALIS: A1. Os indicadores
da revista são bem inferiores aos de várias (repito: várias) revistas da
Estatística que estão classificadas como B1 e até mesmo B2.

O exemplo acima se mantém com outras revistas além do Journal of
Econometrics. Ou seja, não se trata de um exemplo baseado num outlier.

(Pergunta 5) Disparidades como as apresentadas acima, que com maior
frequência ocorrem em desfavor da Estatística, são justificáveis?

Concluo reforçando que, em minha opinião, deveríamos nos unir em torno de
um ponto único: as correções de distorções que existem no seio do QUALIS
que agrega revistas da (i) Matemática, (ii) Matemática Aplicada e (iii)
Probabilidade/Estatística. Vencida essa etapa, poderíamos discutir agendas
mais amplas.

Saudações a todos.

FC

cc: Prof. Luis Renato G. Fontes, membro do CA-MA do CNPq (área:
Probabilidade e Estatística)
    Profa. Nancy Lopes Garcia, membro do CA-MA do CNPq (área: Probabilidade
e Estatística)


-- 
Francisco Cribari-Neto, email: cribari em de.ufpe.br - "All theory, my friend,
is gray, but green is life's glad golden tree." --Goethe (Faust)
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <https://lists.ime.usp.br/archives/abe/attachments/20180712/0bcb2063/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão abe