[ABE-L] Fwd: exercício ilegal da profissão

Julio Trecenti julio.trecenti em gmail.com
Sex Jul 17 01:58:59 -03 2020


Caro Luis,

Eu adicionaria comentando que a profissão do estatístico tinha um papel
mais claro antes do advento da Ciência de Dados. No entanto, mais
recentemente a estatística passou a ser utilizada de forma mais variada,
criativa e por diversos profissionais. O conhecimento da estatística se
tornou democrático, com cursos de altíssimo nível disponibilizados
gratuitamente em plataformas online como o Coursera, Stanford, EdX e outras.

Atualmente, o sistema CONFE/CONRE não desempenha suas funções de forma
ideal. No entanto, para que o conselho - e, com isso, a profissão do
estatístico - possa deixar de existir com segurança, no mínimo duas frentes
precisariam de atenção urgente:

1. As pesquisas eleitorais devem ser fiscalizadas. Por exemplo, através de
uma comissão especial dentro do TSE ou outra alternativa similar.
2. A divulgação da estatísticos / cientista de dados deve ser prioridade da
ABE, para que seja feita de forma responsável e com excelência acadêmica.
Atualmente, a entidade que mais trabalha na frente de divulgação é o
CONRE3, seguida por influenciadores digitais (alguns: Adriana Silva, Teo
Calvo, Thiago Marques, e a própria Curso-R).

Empiricamente, é fácil de verificar as duas necessidades.

1. Ao analisar o repositório de pesquisas eleitorais (pesqEle) do TSE,
observamos uma grande concentração de pesquisas em alguns nomes que não são
ligados a grandes institutos de pesquisa, além de registros falsos de
estatísticos. Para facilitar a consulta, eu montei em 2018 um pacote em R
que faz a raspagem desses dados (web scraping). O pacote não está
funcionando 100%, mas envio a base de dados mais recente que tenho em anexo
(baixada em 19/06/2020) se quiserem analisar. Na época também fizemos um
dashboard em shiny para acessar as informações (não está atualizado).

- Link do pesqEle:
http://www.tse.jus.br/eleicoes/pesquisa-eleitorais/consulta-as-pesquisas-registradas
- Link do pacote em R: https://github.com/conre3/pesqEle
- Link do app: https://rseis.shinyapps.io/pesqEle/

2. Basta comparar o número de formandos em estatística nos EUA e no Brasil
(imagem em anexo). Esse crescimento está acontecendo no mundo todo. No
Brasil, a demanda por estatísticos aumentou muito nos últimos anos, mas a
oferta não.

Para aprimorar o ponto (2) é preciso

i) Criar e desenvolver mais cursos como o de Estatística e Ciência de Dados
/ Bacharelado em Ciência de Dados do ICMC-USP, incorporando termos
relacionados ao Aprendizado Estatístico no vocabulário base da estatística.
ii) Através da sociedade civil, incluindo institutos e associações como a
ABE, divulgar mais a importância e seriedade do trabalho do estatístico,
para que fique mais popular nas escolas.

Dessa forma, é possível fazer a área crescer com responsabilidade e
excelência acadêmica, reduzindo a probabilidade de se tornar apenas um hype
vazio.

Claro que é só minha opinião :) o que acham?

Atenciosamente,

--Julio


On Thu, Jul 16, 2020 at 8:45 PM Luis Paulo Braga <lpbraga em geologia.ufrj.br>
wrote:

> Áreas como matemática e computação não exigem registro profissional, se
> for ensinar, dependendo do nível pode ser necessário ter licenciatura, ou
> mestrado, ou doutorado. O motivo básico para isto é que ambas as áreas
> interagem com todos os ramos do conhecimento humano, então exigir que
> qualquer atividade que envolvesse matemática ou computação fosse realizada
> por um profissional registrado exigiria super conselhos federais
> movimentando um montante de anuidades fabuloso.  O caso da estatística não
> é diferente, daí a dificuldade de operacionalizar a regulamentação da
> profissão fora daquilo que era o seu cerne há 50 anos atrás. Os conselhos
> profissionais no Brasil arrecadam no total quase 2 bilhões de reais por
> ano!* No entanto, a todo momento somos brindados com casos rumorosos de
> imperícia profissional - por exemplo, as tradicionais pesquisas eleitorais.
> Acho que seria mais produtivo os conselhos se concentrarem em alguns campos
> mais específicos cujos impactos sociais, econômicos e ambientais fossem
> mais prejudicados por uma atuação inadequada. Alguém falou em controle de
> qualidade, por exemplo. Por outro lado, insistir em formalizar tudo,
> chegando ao absurdo de se sobrepor à governança das universidades quanto a
> repercussão de uma atividade interna a elas, como a oferta de uma
> disciplina, só vai aumentar a cobrança da sociedade da efetividade desse e
> de outros conselhos regionais e federais. * Os Conselhos Profissionais
> estão cumprindo o seu papel?
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