[ABE-L] Cotas, quotas,...

Raphael Nishimura raphael_nishimura em yahoo.com.br
Sáb Out 25 20:03:37 -03 2014


Neale: como já venho te dizendo, me parece que infelizmente os institutos de pesquisa eleitorais no Brasil não se utilizam dos mesmos argumentos que você vem defendendo para justificar amostras por cotas. Por isso que acredito que eles também não as implementam com o mesmo rigor que você (e outros, inclusive eu) gostaria. Além disso, como outros nessa lista, acho que eles poderiam se utilizar de uma abordagem de inferência baseada em modelos, ao invés de inferência baseada em planejamentos, para calcular a margem de erro. 
A Márcia Cavallari fala sobre a impossibilidade de incorporar características do plano amostral antes da coleta de dados no cálculo da margem de erro, mas nesse texto que escrevi com um colega nós mostramos uma forma bastante simples de se fazer isso usando dados de eleições (ou turno, nesse caso) anteriores para considerar o efeito de conglomerização: http://www.brasilpost.com.br/andre-barrence/pesquisas-e-margens-de-erro_b_6037564.html. O mesmo poderia ser feito para efeitos de estratificação (mas que não fizemos porque os institutos não divulgam a alocação da amostra nos estratos). Como disse, é um modelo bastante simplificado, mas é pelo menos um pouquinho melhor do que os institutos vem utilizando (no texto há um link em que disponibilizamos os programas e dados utilizados para esses cálculos). Certamente, podem ser utilizados modelos bem mais sofisticados para melhorar essas análises. Lembrando que seria importante os institutos fazerem isso com bastante transparência, divulgando os modelos e suposições por trás desses cálculos, e, porque não também, os programas e bases de dados (procurando-se respeitar a 
A matéria enviada pelo Luis Paulo, em que as pesquisas de 2o turno do IBOPE e Datafolha são questionadas por apresentarem um proporção de pessoas que votaram na Dilma no 1o turno bem diferente da dos resultados oficiais, me leva a uma pergunta que venho me fazendo há algum tempo: porque os institutos não calibram suas pesquisas de 2o turno com base nos resultados do 1o turno? Dado que a correlação entre os votos do 1o e do 2o turno é altissíma, fazer essa de calibração deveria melhorar muito a qualidade de suas estimativas, potencialmente eliminando viéses não-amostrais a até mesmo decorrentes de possíveis problemas de seleção da amostra por cotas. Talvez haja receio de erro de mensuração para a declaração de voto no 1o turno (principalmente associado a "social desirability", dado que as estimativas de abstenção do 1o turno nessas pesquisas estão muito abaixo dos resultados oficiais), mas existem algumas formas de se minimizar isso que seriam interessante de serem utilizadas, dado a importância de um ajuste como esse.
Um abraço,Raphael
 

     Em Sábado, 25 de Outubro de 2014 17:08, Luis Paulo Braga <lpbraga em geologia.ufrj.br> escreveu:
   

 http://www.diariodopoder.com.br/noticias/distorcao-na-amostragem-alterou-resultados-das-pesquisas-ibope-e-datafolha/

Em 25 de outubro de 2014 16:47, Neale El-Dash <neale.eldash em gmail.com> escreveu:

Eu vou pedir emprego la no Ibope. Po, nem eles sabem o que estao fazendo, como e' denominada a metodologia que usam e nem quais sao as suposicoes (plausiveis) que tem que ser feitas pra calcular as margens de erro....rsrsrsrsrs

Abraco
Em 25 de outubro de 2014 16:08, Jose Carvalho <carvalho em statistika.com.br> escreveu:

Alertado pelo Carlinhos, soube da entrevista de Márcia Cavallari
(IBOPE) no Globo News, no programa de Myrian Leitão, em que foi
declarado que não há como se calcular margens de erros em amostragens
por quotas. Passei a buscar e achei. A jornalista Myrian Leitão postou
um sumário no site da Globo. Eis um excerto:

"Na Globo News
Ibope admite que margem de erro pode ser maior

No meu programa na Globo News, Márcia Cavallari, diretora do Ibope
Inteligência, contou que a margem de erro de uma pesquisa eleitoral
pode ser maior do que a divulgada. Isso porque ela não existe no tipo
de levantamento realizado durante a campanha.

– A gente não pode falar de margem de erro. As pesquisas que fazemos
não são probabilísticas e margem de erro só se calcula com pesquisas
probabilísticas. Todos os institutos no Brasil trabalham com
amostragem por cotas. Por cotas não há literatura que se permita
calcular margem de erro. Temos que falar de margem de erro porque tem
uma legislação eleitoral (que) escreve que para regular as pesquisas
tem que falar qual a margem de erro. A gente registra a margem de erro
antes de realizar a pesquisa. Isso não existe. Margem de erro só se
calcula depois da pesquisa realizada."

Venho dizendo isso há mais de 10 anos. Até mesmo estive em um debate
com Márcia, no CONRE 3, sobre esse mesmo assunto.

A declaração de Márcia é clara e definitiva. Para mim, o assunto está
encerrado, do ponto de vista técnico, uma vez que o praticante da
amostragem por quota finalmente admite que não há como se calcular a
margem de erro.

Mas essa declaração em faz voltar muitos anos. No calor da discussão,
nesta lista, eu disse que o tribunal eleitoral estava sendo enganado.
Disse que, meramente registrando as pesquisas sem verificar a
fidedignidade das informações, o sistema estava coonestando com
pesquisas mal feitas. Por essa (e algumas outras) fui até processado
pelo CONFE. Felizmente, processei de volta e ganhei a causa, se não
teria sido mais um caso de ofensa às liberdades individuais).

Agora, que foi dito que a margem declarada é falsa e assim tem sido,
como fica esse sistema todo? Que ação vai tomar a Justiça Eleitoral?
Como ficam os apresentadores de TV, que declaram, naquela maravilhosa
voz, que a "pesquisa foi registrada sob número XPTO e tem margem de
erro de 2% para mais ou para menos, com confiança de 95%"????

Abraços a todos. Este é um bom sábado. Com um pouco de sorte, amanhã
será ainda melhor!!!

Agora, sim, como se diz em tribunais americanos (que vejo em filmes,
claro): I rest my case! Não tenho mais o que dizer.


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