[ABE-L] Cotas, quotas,...

Pedro Luis do Nascimento Silva pedronsilva em gmail.com
Sáb Out 25 20:43:53 -03 2014


Colegas,

Primeiro as postagens trataram da admissão pública pelo IBOPE de que não se
justificam as margens de erro de estimativas que divulgam.

Na sequencia a postagem do Luis Paulo aponta para possíveis problemas com
as estimativas das proporções.

O Raphael corretamente aponta para a existência de alternativas de
modelagem que poderiam ser usadas tanto para obter estimativas pontuais
melhores como também estimativas de margens de erro. Infelizmente as
abordagens sugeridas dependeriam de dados coletados 'com altos padrões de
qualidade', ou ao menos, com 'padrões de qualidade' que sejam bem
conhecidos e replicáveis.

Um dos Princípios Fundamentais das Estatísticas Oficiais adotados pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (tradução disponível na
página do IBGE -
http://www.ibge.gov.br/home/disseminacao/eventos/missao/principios_fundamentais_estatisticas.shtm,
e original disponível em:
http://unstats.un.org/unsd/methods/statorg/default.htm) diz que:

*"Princípio 3* Responsabilidade e transparência

Para facilitar uma interpretação correta dos dados, os órgãos de
estatística devem apresentar informações de acordo com normas científicas
sobre fontes, métodos e procedimentos estatísticos."

É verdade que os tais princípios foram formulados pensando na produção das
estatísticas oficiais. Mas em minha visão devem aplicar-se igualmente às
estatísticas públicas, sejam elas produzidas por fontes oficiais ou não. E
as pesquisas eleitorais, claramente, deveriam ser submetidas a este
conjunto de princípios, pela relevância que têm na vida dos países.

Nós assistimos esse debate sobre os métodos empregados pelos institutos de
pesquisa a cada eleição, e pela primeira vez, esse 'pequeno detalhe' é
revelado pelo IBOPE. Infelizmente, a falta de transparência por não
divulgar os microdados, as ponderações, etc. impedem que análises
alternativas sejam tentadas e se possa avaliar o viés potencial das
estimativas de intenções de votos produzidas pelas pesquisas eleitorais.

A afirmação da diretora do IBOPE, citada no Blog da Miriam Leitão, de que
pesquisas eleitorais por amostragem probabilística levariam 3 meses para
fazer é equivocada. A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, por exemplo, com
uma amostra de 40 mil domicílios, é feita todos os meses pelo IBGE. Seria
perfeitamente viável fazer uma amostra probabilística domiciliar com coleta
de amostras de 1000 a 2000 eleitores em tempo idêntico às amostras por
cotas. Claro que para que isto seja possível, será necessário fazer
planejamento e preparar o trabalho, mas não há qualquer impedimento técnico
a coletar uma amostra deste tamanho (ou até maior) em apenas 1 dia. Basta
usar equipe de coleta dimensionada adequadamente.

Na verdade, o IBGE vem agora realizando a PNAD contínua com cerca de 211
mil domicílios selecionados e entrevistados a cada trimestre. Dividindo
pelo número de dias do trimestre (aprox. 91, dá mais de 2.300 domicílios
por dia, ou seja, o IBGE que não é privado coleta dados de mais 6.000
brasileiros todos os dias sem sacrificar os métodos considerados mais
adequados para amostrar de populações).

Saudações a todos, e bons votos amanhã.

Pedro.






Em 25 de outubro de 2014 20:03, Raphael Nishimura <
raphael_nishimura em yahoo.com.br> escreveu:

> Neale: como já venho te dizendo, me parece que infelizmente os institutos
> de pesquisa eleitorais no Brasil não se utilizam dos mesmos argumentos que
> você vem defendendo para justificar amostras por cotas. Por isso que
> acredito que eles também não as implementam com o mesmo rigor que você (e
> outros, inclusive eu) gostaria. Além disso, como outros nessa lista, acho
> que eles poderiam se utilizar de uma abordagem de inferência baseada em
> modelos, ao invés de inferência baseada em planejamentos, para calcular a
> margem de erro.
>
> A Márcia Cavallari fala sobre a impossibilidade de incorporar
> características do plano amostral antes da coleta de dados no cálculo da
> margem de erro, mas nesse texto que escrevi com um colega nós mostramos uma
> forma bastante simples de se fazer isso usando dados de eleições (ou turno,
> nesse caso) anteriores para considerar o efeito de conglomerização:
> http://www.brasilpost.com.br/andre-barrence/pesquisas-e-margens-de-erro_b_6037564.html.
> O mesmo poderia ser feito para efeitos de estratificação (mas que não
> fizemos porque os institutos não divulgam a alocação da amostra nos
> estratos). Como disse, é um modelo bastante simplificado, mas é pelo menos
> um pouquinho melhor do que os institutos vem utilizando (no texto há um
> link em que disponibilizamos os programas e dados utilizados para esses
> cálculos). Certamente, podem ser utilizados modelos bem mais sofisticados
> para melhorar essas análises. Lembrando que seria importante os institutos
> fazerem isso com bastante transparência, divulgando os modelos e suposições
> por trás desses cálculos, e, porque não também, os programas e bases de
> dados (procurando-se respeitar a
>
> A matéria enviada pelo Luis Paulo, em que as pesquisas de 2o turno do
> IBOPE e Datafolha são questionadas por apresentarem um proporção de pessoas
> que votaram na Dilma no 1o turno bem diferente da dos resultados oficiais,
> me leva a uma pergunta que venho me fazendo há algum tempo: porque os
> institutos não calibram suas pesquisas de 2o turno com base nos resultados
> do 1o turno? Dado que a correlação entre os votos do 1o e do 2o turno é
> altissíma, fazer essa de calibração deveria melhorar muito a qualidade de
> suas estimativas, potencialmente eliminando viéses não-amostrais a até
> mesmo decorrentes de possíveis problemas de seleção da amostra por cotas.
> Talvez haja receio de erro de mensuração para a declaração de voto no 1o
> turno (principalmente associado a "social desirability", dado que as
> estimativas de abstenção do 1o turno nessas pesquisas estão muito abaixo
> dos resultados oficiais), mas existem algumas formas de se minimizar isso
> que seriam interessante de serem utilizadas, dado a importância de um
> ajuste como esse.
>
> Um abraço,
> Raphael
>
>
>
>   Em Sábado, 25 de Outubro de 2014 17:08, Luis Paulo Braga <
> lpbraga em geologia.ufrj.br> escreveu:
>
>
>
> http://www.diariodopoder.com.br/noticias/distorcao-na-amostragem-alterou-resultados-das-pesquisas-ibope-e-datafolha/
>
> Em 25 de outubro de 2014 16:47, Neale El-Dash <neale.eldash em gmail.com>
> escreveu:
>
> Eu vou pedir emprego la no Ibope. Po, nem eles sabem o que estao fazendo,
> como e' denominada a metodologia que usam e nem quais sao as suposicoes
> (plausiveis) que tem que ser feitas pra calcular as margens de
> erro....rsrsrsrsrs
>
>
> Abraco
>
> Em 25 de outubro de 2014 16:08, Jose Carvalho <carvalho em statistika.com.br>
> escreveu:
>
> Alertado pelo Carlinhos, soube da entrevista de Márcia Cavallari
> (IBOPE) no Globo News, no programa de Myrian Leitão, em que foi
> declarado que não há como se calcular margens de erros em amostragens
> por quotas. Passei a buscar e achei. A jornalista Myrian Leitão postou
> um sumário no site da Globo. Eis um excerto:
>
> "Na Globo News
> Ibope admite que margem de erro pode ser maior
>
> No meu programa na Globo News, Márcia Cavallari, diretora do Ibope
> Inteligência, contou que a margem de erro de uma pesquisa eleitoral
> pode ser maior do que a divulgada. Isso porque ela não existe no tipo
> de levantamento realizado durante a campanha.
>
> – A gente não pode falar de margem de erro. As pesquisas que fazemos
> não são probabilísticas e margem de erro só se calcula com pesquisas
> probabilísticas. Todos os institutos no Brasil trabalham com
> amostragem por cotas. Por cotas não há literatura que se permita
> calcular margem de erro. Temos que falar de margem de erro porque tem
> uma legislação eleitoral (que) escreve que para regular as pesquisas
> tem que falar qual a margem de erro. A gente registra a margem de erro
> antes de realizar a pesquisa. Isso não existe. Margem de erro só se
> calcula depois da pesquisa realizada."
>
> Venho dizendo isso há mais de 10 anos. Até mesmo estive em um debate
> com Márcia, no CONRE 3, sobre esse mesmo assunto.
>
> A declaração de Márcia é clara e definitiva. Para mim, o assunto está
> encerrado, do ponto de vista técnico, uma vez que o praticante da
> amostragem por quota finalmente admite que não há como se calcular a
> margem de erro.
>
> Mas essa declaração em faz voltar muitos anos. No calor da discussão,
> nesta lista, eu disse que o tribunal eleitoral estava sendo enganado.
> Disse que, meramente registrando as pesquisas sem verificar a
> fidedignidade das informações, o sistema estava coonestando com
> pesquisas mal feitas. Por essa (e algumas outras) fui até processado
> pelo CONFE. Felizmente, processei de volta e ganhei a causa, se não
> teria sido mais um caso de ofensa às liberdades individuais).
>
> Agora, que foi dito que a margem declarada é falsa e assim tem sido,
> como fica esse sistema todo? Que ação vai tomar a Justiça Eleitoral?
> Como ficam os apresentadores de TV, que declaram, naquela maravilhosa
> voz, que a "pesquisa foi registrada sob número XPTO e tem margem de
> erro de 2% para mais ou para menos, com confiança de 95%"????
>
> Abraços a todos. Este é um bom sábado. Com um pouco de sorte, amanhã
> será ainda melhor!!!
>
> Agora, sim, como se diz em tribunais americanos (que vejo em filmes,
> claro): I rest my case! Não tenho mais o que dizer.
>
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