[ABE-L] Sobre lixo acadêmico

Mel Oliveira oliveira.mel em gmail.com
Sáb Jan 10 04:18:14 -03 2015


Sábias palavras que emocionam e inspiram....

Grandes mestres!

Obrigada !

Em 10 de janeiro de 2015 00:58, Julio Stern <jmstern em hotmail.com> escreveu:

>
> Caro Carlinhos:
>
> Frotta-Pessoa..., que dizia que no mundo
> >>> Ha os Genuinos e os Cretinos...
> Nelson Rodrigues..., que te ensinou a seguir
> teu  proprio coração e tua propria mente.
> Debabrata Basu..., que te ensinou a procurar
> o que importante no fundo do teu coracao.
>
> Voce teve o privilegio de ter grandes mestres,
> privilegio que fizeste por merecer pelo teu trabalho,
> autentico e original, ao longo de tua vida.
>
> So assim, como te ensinaram teus mestres,
> vale a pena fazer ciencia (ao menos na academia).
> Para resolver probleminhas tecnicos e implementar
> modeloes para os outros, eu trabalharia no mercado
> financeiro, pois isto so me vale fazer pelo vil metal.
>
> Boa noite a todos,
> ---Julio Stern
>
>
> > Date: Fri, 9 Jan 2015 23:49:54 -0200
> > From: cpereira em ime.usp.br
> > To: ABE-L em ime.usp.br
> > Subject: [ABE-L] Sobre lixo acadêmico
>
> >
> >
> > Meus caros redistas:
> > O primeiro artigo publicado na VEJA já foi uma agressão a nossa vida
> > acadêmica. Lutamos muito para chegar ao nível que hoje temos, já foi
> > muito difícil e muito árduo. O comentário pejorativo de muitos de
> > nossos colegas é a justificativa que usam para a falta de
> > produtividade própria. Sobre o artigo da folha de São Paulo, chamar
> > de lixo acadêmico o que se produz no Brasil me da sim um arrepio
> > grande, pois a pessoa para definir algo tem de ter lido tudo, o que
> > não é o caso com certeza! Alguns artigos que meu irmão colocou na
> > rede mostram que a maioria dos artigos publicados no mundo é inútil e
> > talvez até lixo. Não é propriedade brasileira a produção de lixo. Em
> > nossa área, por exemplo, a quantidade de artigos com poucas citações
> > ou autoexcitações é grande.
> >
> > Vou evidentemente desconsiderar esses comentários terríveis que tenho
> > visto por ai. Gostaria de me dirigir aos pobres jovens acadêmicos que
> > estão tentando fazer carreira acadêmica digna em nosso contexto.
> >
> > Meu autor preferido é o Nelson Rodrigues e em um dos seus textos ele
> > comenta sobre o inicio de sua carreira teatral. Manuel Bandeira,
> > crítico de um jornal, era um grande nome da intelectualidade
> > brasileira. Bandeira fez um elogio grande a uma das obras de Nelson
> > que evidentemente ficou lisonjeado. Claro que na próxima peça quis
> > ouvir a avaliação do mestre maior e não teve a mesma recepção. Depois
> > de alguns trabalhos verificou que ele estava produzindo coisas
> > dirigidas para aquele intelectual. Tinha esquecido que o que deveria
> > produzir devia refletir o que pensava para mostrar ao público o que
> > havia em seu coração e em sua mente. Hoje vejo que os nossos queridos
> > pesquisadores escrevem objetivando as revistas famosas - que também
> > publicam muito lixo – esquecendo o que na verdade pensam e fazem no
> > dia-a-dia. Percebi que também estávamos sofrendo disso no primeiro
> > artigo que escrevi com o Josa depois de nossa volta do exterior.
> >
> > Enviamos um artigo para o ISR – na época uma revista de prestígio –
> > cujo editor era um grande cara, Bardorff-Nielsen. Um ano depois
> > escrevi para ele cobrando o resultado da avaliação de nosso trabalho.
> > Pediu-me desculpas, pois tinha recebido um referato de um dos
> > avaliadores dizendo que todos já sabiam daquilo. Ele então questionou
> > o avaliador e enviou para outros dois avaliadores. Nosso artigo foi
> > publicado com dois anos de atraso e recentemente verifiquei que na
> > mesma época orientador e aluno de uma importante escola americana
> > haviam publicado um artigo na mesma época com toda a notação igual a
> > nossa e a maior parte de nosso material estava ali. Tanto orientador
> > como aluno são hoje as pessoas de mais destaque na área de amostragem.
> > Não fosse pelo editor, quem iria acreditar que os tupiniquins haviam
> > feito primeiro. Assim decidi que tudo que tivermos de novidade, e
> > creio que tive MUITAS, devemos tentar sim numa boa revista e se vier
> > com elogio, mas dizendo que não é para aquele fórum, publique rápido
> > mesmo que seja no arxive. O problema do arxive é que não possui
> > avaliadores e assim apenas pessoas muito interessadas fuçam ali, mesmo
> > com nomes de tupiniquins. Mas por favor, publiquem em revista de
> > impacto razoável mesmo não sendo as de ponta.
> >
> > Andei pelo mundo da ciência e conheci grandes brasileiros –
> > Frotta-Pessoa para mim foi um dos grandes que mesmo VELHINHO me
> > ensinou muito – pesquisadores de primeiro mundo. Posso afirmar a
> > vocês meus caros que escrever tudo que pensam e acreditam são o que
> > faz de vocês verdadeiros cientistas. Se for ruim alguém vai te
> > questionar. Se for bom, não espere de colegas elogios, pois não
> > virão. Mas escrevam, pois o trabalho mais árduo de um acadêmico é a
> > escrita. Acho ruim é ficarmos atrelados apenas à moda e ser
> > participante apenas por resolver pequenos problemas técnicos. Frotta
> > me ensinou que as pessoas são divididas em dois grupos, os genuínos e
> > os cretinos! Faça sua escolha meu filho, o pedia para nós.
> >
> > A academia americana hoje sofre muito com o fato de um tenure track
> > estar com um longo prazo de 10 anos. O indivíduo vira um escravo dos
> > grandes nomes e quando chega ao final se não fez novidade não continua
> > naquele departamento considerado de alto nível, mesmo quando possui
> > muitas publicações em boas revistas. Ali as pessoas olham é a
> > contribuição real dos jovens em TT. Imaginem alguém se matando para
> > resolver pequenos problemas técnicos de pesquisas de titulares e
> > quando chegam ao final do período não tenham publicado a novidade que
> > poderia ter vindo do seu coração e da sua mente. Vai ser jogado no
> > lixo da concorrência por novo período de experimentação. Já vimos
> > isso acontecer!
> > Imaginem vocês que tenho três artigos em revistas da Scientific
> > Research Publishing – scirp, vários na ENTROPY da MDPI, vários em GMR,
> > e alguns na Clinics: As editoras mais criticadas pelo artigo da
> > revista VEJA! Estou muito honrado em ser editor associado tanto da
> > ENTROPY como da GMR. As duas tem bom índice de impacto e seus
> > editores são pessoas que conheço e respeito muito. É claro que também
> > ali pode haver papers ruins assim como na nature que vez por outra
> > pede desculpas por publicações errôneas. Um dos papers que enviamos
> > para a BA, por exemplo, voltou com elogios à matemática, computação e
> > pasmem ao inglês. No entanto não era artigo de interesse no momento!
> > Mandamos para OJS e fomos muito bem tratados ali. Certa vez eu e um
> > aluno chileno tivemos um paper aceito no annals of estatístics, depois
> > de nossas correções reenviamos para o novo editor que nos disse que já
> > não havia interesse no artigo. Publicamos o artigo, uma parte no
> > nonparametrics e outra no multivariate. Um ano depois apareceu um
> > artigo no annals com a nossa notação que nos proporcionou a extensão
> > para os modelos multivariados. Certamente os autores não eram
> > tupiniquins. Poderia contar muitas outras coisas para justificar
> > minhas escolhas. O artigo que publicamos na revista chilena estava
> > aceito em uma ótima revista de Berkeley, no entanto apareceu a chance
> > de homenagear a Pilar que foi uma de minhas alunas. Achei que ela
> > merecia um bom paper na revista em sua homenagem. O pessoal da
> > revista que havia aceitado nosso artigo não me perdoa até hoje.
> >
> > Como sou muito velho tenho bastante história para contar. Assim, meus
> > caros, eu quero dar um conselho: escrevam tudo que acreditam e que
> > gostam. Envie para uma revista, que seus mentores acreditam ser o
> > top. Depois que vier a negação, muitas vezes de caras que não leram o
> > paper só o nome dos tupiniquins, verifique se convencem você da
> > justiça do resultado. Caso se não concordem publiquem o mais rápido
> > possível em outra revista não tão badalada. Não me arrependo de ter
> > feito isso em minha vida. Meus índices de produtividade são dos
> > melhores dentre as pessoas de minha área. É claro que sempre haverá
> > uma explicação com desmerecimento, mas o que vale é o que está gravado
> > ali no CNPq, no Google ou no researchgate.
> >
> > Sobre o pagamento para publicação posso afirmar que mesmo boas
> > revistas custam mesmo muito caro. Na minha última publicação do
> > PlosOne foi minha vez de pagar dentre os membros do grupo. 1600
> > dolares foi o que me cobraram! As revistas BMC (bioinformatics,
> > genetics etc) também são muito caras. Mas eu reclamos muito e algumas
> > delas como a bioinformatics me livrou de pagamento. Na genetics
> > consegui redução de 50%. Já nessas outras menos badaladas eu não pago
> > nas que sou editor associado e na clinicas eu Tb não tenho despesas.
> > Nosso ultimo paper na scirp me descontaram 75% e paguei 300 dólares o
> > que não é lá muito ruim. Com outros paguei 500 dólares o que me
> > pareceu tb bem razoável. Mas eu choro e digo que não tenho condições
> > de pagar o que querem. Todos em Open Access!
> >
> > Aceito sim críticas sobre lixo que eu possa ter produzido, mas para
> > críticas sobre a beleza da revista e não do artigo nem precisam se
> > dirigir a mim. Críticas inúteis e com desmerecimento! Em um dos
> > artigos do ano passado, uma aluna do Butantan depois de voltar para
> > sua terra natal, com a pressão para publicação viu uma revista da
> > editora Green Journals e mandou o artigo, que posso dizer lindo. O
> > artigo foi publicado e a revista até a poucos meses tinha apenas o
> > nosso artigo e não foi para frente. Tenho dois artigos maravilhosos,
> > em minha opinião é claro, em que as revistas desapareceram. São dois
> > artigos muito citados por gente muito boa. Um na revista brasileira
> > de genética e outro na JRSS C – the statistician. Os dois artigos são
> > muito requisitados, pois são muito bons.
> >
> > All I have written was under my skin!!!!!! I am proud of my little
> > and unimportant papers! Thats all I have to offer from the botton of
> > my heart!
> >
> > Saudações
> > Carlinhos
> >
> > --
> > Carlos Alberto de Bragança Pereira
> > http://www.ime.usp.br/~cpereira
> > http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> > Stat Department - Professor & Head
> > University of São Paulo
> >
> >
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> > abe mailing list
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> > https://lists.ime.usp.br/mailman/listinfo/abe
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