[ABE-L] Fwd: Sobre lixo acadêmico

Basilisk De Braganca Pereira basilio em hucff.ufrj.br
Sáb Jan 10 17:05:22 -03 2015



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> De: Basilio de Bragança Pereira <basilio em hucff.ufrj.br>
> Data: 10 de janeiro de 2015 13:51:10 BRST
> Para: Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira em ime.usp.br>
> Assunto: Re: [ABE-L] Sobre lixo acadêmico
> Complementando o paragrafo do Carlinhos sobre lixo produzido no mundo e que não é privilegio de brasileiros sugiro seguir as criticas e artigos do 
> John Ioannidis da Stanford University, 
> C.F. Rehnborg Professor in Disease Prevention (School of Medicine)
> Professor of Health Research and Policy
> Professor, by courtesy, of Statistics
> 
> https://statistics.stanford.edu/people/john-ioannidis
> https://med.stanford.edu/profiles/John_Ioannidis
> 
> ele tem vários artigos mostrando que a maioria das publicações são falsas.
> 
> Poucos dias atras escrevi para alguns colegas que considero lideres na nossa profissão, com currículos impecáveis , com publicações importantes e me mostrando descontente por nenhum deles terem sido reconhecidos como níveis mais altos no CNPQ, ou agraciados com comendas  ou serem membros de academias de ciências. 
> O que me conforta são as palavras do grande mestre David Blackwell (Statistical Sciences 1986 entrevista )
> 
> 
> 
>  Não me incomoda também esta discussão se o pesquisador  publica em revista com prestigio ou não.Se o trabalho é bom vai ser reconhecido 
> Nunca vi ninguém criticar os que usam a universidade como trampolim para cargos mais altos e na maioria das vezes fora da academia . São os famosos FORMADORES DE OPINIÃO , usam o titulo de professor ou pesquisador ( que já deixaram de ser a muito tempo) e começam a dar palpite e criticando quem continua nos seus laboratórios ou escritórios.
> Hoje em dia a coisa esta pior,  a influencia de partidos políticos, torna ainda maior esta categoria. E muitas vezes ocupam os lugares que mencionei anteriormente  sem  merecimento.
> 
> Sem querer politizar fico curioso como a Presidente no discurso de posse fala num Governo Educacional e o maior corte de verbas será na Educação. Deixo isso para os formadores de opinião
> 
> Basilio 
>   
> 
> Em 9 de janeiro de 2015 23:49, Carlos Alberto de Bragança Pereira <cpereira em ime.usp.br> escreveu:
>> 
>> Meus caros redistas:
>> O primeiro artigo publicado na VEJA já foi uma agressão a nossa vida acadêmica.  Lutamos muito para chegar ao nível que hoje temos, já foi muito difícil e muito árduo.  O comentário pejorativo de muitos de nossos colegas é a justificativa que usam para a falta de produtividade própria.  Sobre o artigo da folha de São Paulo, chamar de lixo acadêmico o que se produz no Brasil me da sim um arrepio grande, pois a pessoa para definir algo tem de ter lido tudo, o que não é o caso com certeza!  Alguns artigos que meu irmão colocou na rede mostram que a maioria dos artigos publicados no mundo é inútil e talvez até lixo. Não é propriedade brasileira a produção de lixo.  Em nossa área, por exemplo, a quantidade de artigos com poucas citações ou autoexcitações é grande.
>> 
>> Vou evidentemente desconsiderar esses comentários terríveis que tenho visto por ai.  Gostaria de me dirigir aos pobres jovens acadêmicos que estão tentando fazer carreira acadêmica digna em nosso contexto.
>> 
>> Meu autor preferido é o Nelson Rodrigues e em um dos seus textos ele comenta sobre o inicio de sua carreira teatral.  Manuel Bandeira, crítico de um jornal, era um grande nome da intelectualidade brasileira.  Bandeira fez um elogio grande a uma das obras de Nelson que evidentemente ficou lisonjeado.  Claro que na próxima peça quis ouvir a avaliação do mestre maior e não teve a mesma recepção.  Depois de alguns trabalhos verificou que ele estava produzindo coisas dirigidas para aquele intelectual.  Tinha esquecido que o que deveria produzir devia refletir o que pensava para mostrar ao público o que havia em seu coração e em sua mente.  Hoje vejo que os nossos queridos pesquisadores escrevem objetivando as revistas famosas - que também publicam muito lixo – esquecendo o que na verdade pensam e fazem no dia-a-dia.  Percebi que também estávamos sofrendo disso no primeiro artigo que escrevi com o Josa depois de nossa volta do exterior.
>> 
>> Enviamos um artigo para o ISR – na época uma revista de prestígio – cujo editor era um grande cara, Bardorff-Nielsen.  Um ano depois escrevi para ele cobrando o resultado da avaliação de nosso trabalho.  Pediu-me desculpas, pois tinha recebido um referato de um dos avaliadores dizendo que todos já sabiam daquilo.  Ele então questionou o avaliador e enviou para outros dois avaliadores.  Nosso artigo foi publicado com dois anos de atraso e recentemente verifiquei que na mesma época orientador e aluno de uma importante escola americana haviam publicado um artigo na mesma época com toda a notação igual a nossa e a maior parte de nosso material estava ali.  Tanto orientador como aluno são hoje as pessoas de mais destaque na área de amostragem.  Não fosse pelo editor, quem iria acreditar que os tupiniquins haviam feito primeiro.  Assim decidi que tudo que tivermos de novidade, e creio que tive MUITAS, devemos tentar sim numa boa revista e se vier com elogio, mas dizendo que não é para aquele fórum, publique rápido mesmo que seja no arxive. O problema do arxive é que não possui avaliadores e assim apenas pessoas muito interessadas fuçam ali, mesmo com nomes de tupiniquins.  Mas por favor, publiquem em revista de impacto razoável mesmo não sendo as de ponta.
>> 
>> Andei pelo mundo da ciência e conheci grandes brasileiros – Frotta-Pessoa para mim foi um dos grandes que mesmo VELHINHO me ensinou muito – pesquisadores de primeiro mundo.  Posso afirmar a vocês meus caros que escrever tudo que pensam e acreditam são o que faz de vocês verdadeiros cientistas.  Se for ruim alguém vai te questionar.  Se for bom, não espere de colegas elogios, pois não virão.  Mas escrevam, pois o trabalho mais árduo de um acadêmico é a escrita.  Acho ruim é ficarmos atrelados apenas à moda e ser participante apenas por resolver pequenos problemas técnicos.  Frotta me ensinou que as pessoas são divididas em dois grupos, os genuínos e os cretinos!  Faça sua escolha meu filho, o pedia para nós.
>> 
>> A academia americana hoje sofre muito com o fato de um tenure track estar com um longo prazo de 10 anos.  O indivíduo vira um escravo dos grandes nomes e quando chega ao final se não fez novidade não continua naquele departamento considerado de alto nível, mesmo quando possui muitas publicações em boas revistas.  Ali as pessoas olham é a contribuição real dos jovens em TT.  Imaginem alguém se matando para resolver pequenos problemas técnicos de pesquisas de titulares e quando chegam ao final do período não tenham publicado a novidade que poderia ter vindo do seu coração e da sua mente.  Vai ser jogado no lixo da concorrência por novo período de experimentação.  Já vimos isso acontecer!
>> Imaginem vocês que tenho três artigos em revistas da Scientific Research Publishing – scirp, vários na ENTROPY da MDPI, vários em GMR, e alguns na Clinics: As editoras mais criticadas pelo artigo da revista VEJA!  Estou  muito honrado em ser editor associado tanto da ENTROPY como da GMR.  As duas tem bom índice de impacto e seus editores são pessoas que conheço e respeito muito.  É claro que também ali pode haver papers ruins assim como na nature que vez por outra pede desculpas por publicações errôneas.  Um dos papers que enviamos para a BA, por exemplo, voltou com elogios à matemática, computação e pasmem ao inglês.  No entanto não era artigo de interesse no momento!  Mandamos para OJS e fomos muito bem tratados ali.  Certa vez eu e um aluno chileno tivemos um paper aceito no annals of estatístics, depois de nossas correções reenviamos para o novo editor que nos disse que já não havia interesse no artigo.  Publicamos o artigo, uma parte no nonparametrics e outra no multivariate.  Um ano depois apareceu um artigo no annals com a nossa notação que nos proporcionou a extensão para os modelos multivariados. Certamente os autores não eram tupiniquins. Poderia contar muitas outras coisas para justificar minhas escolhas.  O artigo que publicamos na revista chilena estava aceito em uma ótima revista de Berkeley, no entanto apareceu a chance de homenagear a Pilar que foi uma de minhas alunas.  Achei que ela merecia um bom paper na revista em sua homenagem.  O pessoal da revista que havia aceitado nosso artigo não me perdoa até hoje.
>> 
>> Como sou muito velho tenho bastante história para contar.  Assim, meus caros, eu quero dar um conselho: escrevam tudo que acreditam e que gostam.  Envie para uma revista, que seus mentores acreditam ser o top. Depois que vier a negação, muitas vezes de caras que não leram o paper só o nome dos tupiniquins, verifique se convencem você da justiça do resultado. Caso se não concordem publiquem o mais rápido possível em outra revista não tão badalada.  Não me arrependo de ter feito isso em minha vida.   Meus índices de produtividade são dos melhores dentre as pessoas de minha área.  É claro que sempre haverá uma explicação com desmerecimento, mas o que vale é o que está gravado ali no CNPq, no Google ou no researchgate.
>> 
>> Sobre o pagamento para publicação posso afirmar que mesmo boas revistas custam mesmo muito caro.  Na minha última publicação do PlosOne foi minha vez de pagar dentre os membros do grupo.  1600 dolares foi o que me cobraram!  As revistas BMC (bioinformatics, genetics etc) também são muito caras.  Mas eu reclamos muito e algumas delas como a bioinformatics me livrou de pagamento.  Na genetics consegui redução de 50%.  Já nessas outras menos badaladas eu não pago nas que sou editor associado e na clinicas eu Tb não tenho despesas.  Nosso ultimo paper na scirp me descontaram 75% e paguei 300 dólares o que não é lá muito ruim.  Com outros paguei 500 dólares o que me pareceu tb bem razoável.  Mas eu choro e digo que não tenho condições de pagar o que querem.  Todos em Open Access!
>> 
>> Aceito sim críticas sobre lixo que eu possa ter produzido, mas para críticas sobre a beleza da revista e não do artigo nem precisam se dirigir a mim.  Críticas inúteis e com desmerecimento!  Em um dos artigos do ano passado, uma aluna do Butantan depois de voltar para sua terra natal, com a pressão para publicação viu uma revista da editora Green Journals e mandou o artigo, que posso dizer lindo. O artigo foi publicado e a revista até a poucos meses tinha apenas o nosso artigo e não foi para frente.  Tenho dois artigos maravilhosos, em minha opinião é claro, em que as revistas desapareceram.  São dois artigos muito citados por gente muito boa.  Um na revista brasileira de genética e outro na JRSS C – the statistician. Os dois artigos são muito requisitados, pois são muito bons.
>> 
>> All I have written was under my skin!!!!!!  I am proud of my little and unimportant papers!  Thats all I have to offer from the botton of my heart!
>> 
>> Saudações
>> Carlinhos
>> 
>> -- 
>> Carlos Alberto de Bragança Pereira
>> http://www.ime.usp.br/~cpereira
>> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
>> Stat Department - Professor & Head
>> University of São Paulo
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> Basilio de Bragança Pereira ,DIC and PhD(Imperial College), DL(COPPE) 
> *UFRJ-Federal University of Rio de Janeiro 
> *Titular Professor of  Bioestatistics and of Applied Statistics 
> *FM-School of Medicine and COPPE-Posgraduate School of Engineering and 
> HUCFF-University Hospital Clementino Fraga Filho.
> 
> *Tel: 55 21 3938-7045/7047/2618
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