[ABE-L] e começa 2015...

Richard Santos jamesrichardsantos em gmail.com
Seg Jan 12 15:42:20 -03 2015


Uma parte do que o Gauss falou penso está relacionado com o objetivo das
universidades, que é o de melhorar o seu ranking, e os indicadores do
ranking são percentual de docentes com doutorado, número de publicações,
etc, indicadores mais de quantidade do que de qualidade. Ou seja, o
interesse é mais em ter mais verbas para sim, e não educar ou gerar
conhecimento. Mas, o ranking é uma coisa implementada pelo governo. Então,
boa parte do erro não vem do governo?
Muitos acadêmicos estão mais preocupados em publicar em maior número,
independente da qualidade, só para ficar entre os que mais publicam para
ganhar a verba. Tudo que vira comercial acaba (o futebol brasileiro, a
educação, a saúde, etc).
Assim, imagino como os estatísticos pesquisadores (mais teóricos, mas não
só teóricos, claro, mas que tem o papel mais de criar métodos, de testar e
comparar métodos já existentes - sinto falta disso, às vezes -, etc)
passam, só imagino porque sou estatístico aplicado (menos crio ou testo
teorias, mas que preocupa mais em aplicar os métodos existentes já nos
problemas práticos e em bases grandes). Acho que toda área tem essa
separação, de pesquisador e prático, não é? E ambos são essenciais, ninguém
consegue ser os dois com a mesma profundidade (em matemática, física,
estatística, engenharia). Para o estatístico aplicado, e não o pesquisador,
há outros problemas, do mercado, e de novo do governo, mas são problemas
diferentes.
Abçs.
Richard

Em 12 de janeiro de 2015 12:39, Fabio Machado <faprama em gmail.com> escreveu:

> Um ponto adicional é o acesso prematuro de jovens professores
> às demandas burocráticas, administrativas e políticas de seus
> departamentos e institutos. Isto somado a também prematura estabilidade
> é uma combinação explosiva.
>
> Ouço histórias de jovens colegas que perdem preciosas horas em comissões
> e cargos sendo isto entendido como um acesso ao círculo de decisões quando
> na verdade são armadilhas que atrasam e na maioria das vezes inviabilizam
> o desenvolvimento de suas carreiras acadêmicas.
>
> Saudações
>
>
>
>
>
>
> 2015-01-12 11:46 GMT-02:00 Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>:
> > Caríssimos.
> >
> >
> >
> > Meus últimos comentários sobre o tema discutido que constam
> >
> > de um texto que publiquei (em co-autoria com o Prof. Renato Cintra, UFPE)
> >
> > no Jornal do Commercio de Recife há  uns 2 anos.
> >
> >
> >
> > Infelizmente, ao longo dos últimos anos, uma série
> >
> > de eventos se combinam para desmantelar qualquer
> >
> > ambiente acadêmico que pretenda esboçar excelência.
> >
> >
> >
> > Nominalmente, temos abaixo 10 pontos de uma lista
> >
> > que poderia conter pelo menos 50 itens.
> >
> >
> >
> > 1. excesso de burocracia que engessa as universidades;
> >
> >
> >
> > 2. introdução de legislações, pareceres e recomendações jurídicas
> >
> > que corroem o mérito e as tradições universitárias (por exemplo, na
> >
> > UFPE, não se pode solicitar uma simples carta de recomendação
> >
> > no processo de seleção de alunos da pós-graduação);
> >
> >
> >
> > 3. indefesa dos valores acadêmicos baseado em mérito e
> >
> > desmotivação dos professores mais destacados;
> >
> >
> >
> > 4. dificuldades do nosso sistema na contratação de professores
> estrangeiros;
> >
> >
> >
> > 5. infra-estrutura extremamente precária;
> >
> >
> >
> > 6. nivelamento por baixo e imposição de sistema de quotas para alunos
> > iméritos;
> >
> >
> >
> > 7. vestibular com fraquíssimo crivo de seleção. Um exemplo: a
> trigonometria
> >
> > do ENEM se resume ao triângulo retângulo.
> >
> >
> >
> > 8. excessiva preocupações com evasão ou reprovação,
> >
> > mas pouca preocupação em melhorar o ensino;
> >
> >
> >
> > 9. priorização em criar novos cursos e diplomar alunos
> >
> > em grande quantidade sem necessariamente zelo pela qualidade;
> >
> >
> >
> > 10. baixa qualidade do ensino médio que reflete
> >
> > em uma baixa qualidade do ensino superior.
> >
> >
> >
> > Efetivamente, vem-se introduzindo dispositivos anti-meritocráticos e
> >
> > assistencialistas que exaltam a mediocridade.
> >
> >
> >
> > O estímulo ao esforço e/ou a busca pela excelência está sendo
> relativizado.
> >
> >
> >
> > Sds,
> >
> >
> > Gauss Cordeiro
> >
> >
> > Em 11 de janeiro de 2015 09:15, Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>
> escreveu:
> >
> >> Caro Jaime,
> >>
> >> Bom dia!
> >>
> >> Permita-me uma pequena sugestão em alterar o seu último parágrafo:
> >>
> >> "está destruindo"  deve ser substituído por "destruiu" a carreira
> docente
> >> das IFES.
> >>
> >> Esse fato já ocorreu (portanto é passado) para encerrar a última greve.
> >>
> >> Nos últimos 3 meses fui convocado para 8 bancas de progressão
> >> de professor associado 4 para titular nas duas federais do meu
> >> Estado e, em 5 delas, não aceitei  pois os candidatos dos
> >> departamentos não tinham (para mim) perfil de professor titular.
> >> Todos são agora titulares!
> >>
> >> Estou numa idade que não almejo mais alterar o rumo da
> >> irresponsabilidade acadêmica.
> >>
> >> Sds,
> >>
> >> Gauss
> >>
> >>
> >> Em 10 de janeiro de 2015 23:41, Jaime Rivera <rivera em im.ufrj.br>
> escreveu:
> >>
> >>> Caros Colegas,
> >>>
> >>> A análise feita pelo Prof. Rogerio Leite não é completa pois existem
> >>> algumas
> >>> particularidades com Chile que devem ser consideradas antes de fazer a
> >>> análise
> >>> dos gastos.
> >>>
> >>> 1) As universidades chilenas não são gratuitas. Existem as estatais e
> >>> privadas
> >>> mais a diferença dos preços cobrados não varia muito.
> >>>
> >>> 2) Não existe estabilidade laboral. O professor que é mal avaliado o
> não
> >>> atinge os objetivos mínimos pode ser demitido.
> >>>
> >>> 3) Professores chilenos que saem para fazer um doutorado no exterior
> com
> >>> Bolsa
> >>> chilena, se não conseguem o doutorado, tem que devolver ao estado todo
> o
> >>> dinheiro que recebeu como bolsa.
> >>>
> >>> Isso aqui no Brasil sería impensável. Mais aí temos uma grande
> diferença
> >>> que
> >>> de por si implica numa economia gigantesca de recursos públicos.
> >>>
> >>> No Brasil o quadro docente é muito inestável. O perfil de professor
> >>> titular
> >>> muda de universidade em universidade, existem ainda professores
> titulares
> >>> com
> >>> apenas com mestrado ou graduação.
> >>>
> >>> Outra ponto importante é que não existe cobrança nas bolsas de
> Doutorado
> >>> nem
> >>> Pós Doutorado. Isto é candidato a doutor pode ser reprovado e mesmo
> assim
> >>> não
> >>> tem que devolver nada ao estado. No caso de Pós Doutorado é pior ainda.
> >>> Isto a
> >>> maneira de anedota, porem real: Uma vez eu perguntei a um beneficiário
> de
> >>> Bolsa de Pos Doc do CNPq  que passou um ano em USA, se ele tinha
> >>> publicado
> >>> bem. Ele respondeu: "Jaime lá em USA é outro ritmo, meu orientador me
> >>> mandou
> >>> fazer cursos de graduação e quase reprovei"
> >>>
> >>> Mais ainda,  o Programa ciências sem fronteira  leva alunos de
> graduação
> >>> para
> >>> centros de excelência. Muitos deles despois  de alguns anos recebendo
> >>> bolsa
> >>> voltaram porque não sabiam o idioma local.  Todo esse dinheiro ficou em
> >>> nada.
> >>> Some  esses valores todos e veja quanto dá!
> >>> Não é pouco não!
> >>>
> >>> Para ser breve, este governo, esta destruindo a carreira docente. Na
> nova
> >>> lei
> >>> do magistério assinada pelo Dr. Aloizio Mercadante (Tese de Economia:
> As
> >>> bases
> >>> do Novo Desenvolvimentismo no Brasil: análise do governo Lula
> >>> (2003-2010),
> >>> 17/12/2010) assinou a lei 12.863 onde todo professor deve iniciar a
> >>> carreira
> >>> universitária como auxiliar, não importando sua qualificação. Poder ser
> >>> doutor, pós doutor, ter ganhado o Premio Novel o a medalha Field.
> Começa
> >>> o
> >>> magistério como auxiliar. Isso é mandar a meritocracia para aquele
> lugar.
> >>> Fora os pontos acima estou de acordo com a opinião do Prof. Leite.
> >>>
> >>> Um abraço
> >>> Jaime.
> >>>
> >>>
> >>>
> >>> --
> >>> Jaime E. Munoz Rivera
> >>>
> >>>
> >>> ---------- Original Message -----------
> >>> From: "Hedibert Freitas Lopes" <hedibert em im.ufrj.br>
> >>> To: Gauss Cordeiro <gauss em de.ufpe.br>,Dani Gamerman <dani em im.ufrj.br>
> >>> Cc: im em im.ufrj.br,Lista da ABE <abe-l em ime.usp.br>
> >>> Sent: Fri, 9 Jan 2015 18:22:02 -0300
> >>> Subject: Re: [ABE-L] e começa 2015...
> >>>
> >>> > Aproveitando a deixa do Gauss, vou repetir aqui tambem minha
> >>> > colocacao do facebook sobre esse artigo:
> >>> >
> >>> > Brasil: 670 artigos & 30 bilhões
> >>> > Chile: 717 artigos & 2 bilhões
> >>> > Brasil nos top jornals: 1%
> >>> > Brasil nas revistas indexadas: 2.5%
> >>> >
> >>> > Distributivismo demagogo, regime de trabalho obsoleto e burocracia:
> >>> > lixo acadêmico em abundância.  Retornei ao Brasil a pouco mais de um
> >>> > ano e navegando nos currículos Lattes de vários estatísticos,
> >>> >  economistas e biólogos (áreas que me interessam) o que me assusta é
> >>> > que não somente professores/pesquisadores mais velhos/estabelecidos,
> >>> > mas também os mais jovem produzem essa montanha crescente de
> >>> > excremento acadêmico. A mediocridade paira no ar."
> >>> >
> >>> > Complemento aqui mais especificamente para a estatistica brasileira:
> >>> >
> >>> > Alguns dos professores/pesquisadores de 65 anos ou mais (e alguns
> >>> > mais novos) que fazem parte do pequeno grupo de admiro no Brasil ja'
> >>> > fizeram muito para nossa estatistica cientifica e estruturalmente e
> >>> > seria, na minha opiniao, injusto julga-los sem fazer um desconto
> >>> > temporal.  Agora, convenhamos, vejo varios professores associados na
> >>> > nossa area
> >>> > (a um passo do "paraiso") com curriculos mediocres e que produzem
> >>> > esse lixo academico a que a Nature se refere.  No's
> >>> > professores/pesquisadores entre 40 e 60 anos (\pm 5 anos) devemos
> >>> > dar o exemplo para o pessoal que esta' ai comecando e isso nao esta'
> >>> > acontecendo.  Temos que fazer logo, o mais rapido possivel, a
> >>> > mudanca de uma quantidade alta de artigos irrelevantes para um
> >>> > numero baixo de trabalhos relevantes.  This is my 2 cents.
> >>> >
> >>> > Abs,
> >>> > Hedibert
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