[ABE-L] Pagou, publicou

Luis Paulo Braga lpbraga em geologia.ufrj.br
Qua Jan 28 11:13:13 -03 2015


*27/Jan/2015 - Pagou, publicou*

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/205381-pagou-publicou.shtml

*Revistas científicas aceitam trabalhos falsos para divulgação, viram piada
na internet e acendem debate sobre critérios de edição de pesquisas*

Fernanda Perrin


Pesquisadores sob pressão viraram alvo de publicações científicas
consideradas predatórias. Esses periódicos são questionáveis por ter, como
critério de seleção dos trabalhos, o pagamento de uma taxa pelos autores
dos artigos.


"Essas revistas atraem quem precisa publicar no exterior e em grande
quantidade, como consequência de regras inflexíveis que alguns países usam
para avaliar o desempenho acadêmico", diz Yi Shin Tang, pesquisador da USP
na área de direito e professor-adjunto na Universidade de Copenhagen.


Ele exemplifica com o caso da agência de fomento à pesquisa CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) -
responsável, no Brasil, por avaliar cursos de pós. Quanto melhor a
classificação de um programa, mais recursos recebe e mais bolsas pode
oferecer a pós-graduandos.


O critério de maior peso na avaliação da CAPES é o número de artigos
publicados pelos professores em revistas -não qualquer uma. O órgão faz um
ranking de periódicos, o QUALIS, que varia de A1 (melhor) a C (pior).

Alguns acadêmicos criticam esse método, e também o número expressivo de
periódicos internacionais entre os de melhor classificação.


Jorge Almeida Guimarães, presidente da CAPES, rebate dizendo que o QUALIS é
feito por nomes reconhecidos.


"O Brasil tem 350 mil professores universitários, e publica 35 mil artigos
em revistas indexadas, incluindo as brasileiras. Dá uma média de 0,1 por
ano por professor. Do que reclamam?", questiona.


Para Guimarães, a indexação e a classificação do QUALIS evitam o surgimento
no país de periódicos predatórios, uma tendência mundial.

Com ele concorda Felipe Loureiro, professor do Instituto de Relações
Internacionais da USP: "No Brasil, com as regras da CAPES, não faz sentido
publicar em um 'journal' sem visibilidade e que não esteja no QUALIS.
Duvido que alguém credenciado a um programa de mínima excelência pague para
publicar em periódicos do tipo".


Mas há casos de brasileiros com trabalhos em revistas de reputação duvidosa.


O professor da Unifacs (Universidade Salvador) Paulo Caetano da Silva
publicou artigo no "IJACT" (International Journal of Advanced Computer
Technology) em parceria com um aluno.


O periódico virou piada na internet após ter aceito para publicação um
artigo intitulado "Get Me Off Your Fucking Mailing List" ("Me Tire da Sua
Maldita Lista de Contatos", em tradução livre). O conteúdo do trabalho é só
essa frase repetida ao longo de dez páginas.


Assinado por David Mazières, da Universidade Stanford, e Eddie Kohler, de
Harvard, o "artigo", originalmente, foi feito em resposta a convites
indesejados que os professores recebiam para dar conferências.

O texto circulou com grande sucesso no meio acadêmico e chegou ao cientista
australiano Peter Vamplew, que, cansado de receber em seu email chamadas
para publicação em revistas de pouca credibilidade, o enviou como uma
brincadeira ao "IJACT".


Para sua surpresa, o periódico avaliou o artigo como "excelente" e cobrou
US$ 150 (R$ 400) de Vamplew para publicação. Procurado, o "IJACT" disse que
seu e-mail havia sido invadido por um hacker à época.


O professor brasileiro diz desconhecer se houve pagamento ao "IJACT" na
veiculação de seu artigo. Para ele, publicar ali foi relevante por oferecer
um retorno da comunidade acadêmica sobre um trabalho em fase inicial, que
não seria aceito por um periódico do ranking da CAPES.


A publicação também valeria no processo interno de avaliação da Unifacs.
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <https://lists.ime.usp.br/archives/abe/attachments/20150128/383ec64d/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão abe