[ABE-L] Uma reflexão sobre o cotidiano acadêmico

Francisco Cribari cribari em de.ufpe.br
Ter Maio 24 14:06:06 -03 2016


O artigo abaixo contém, creio, uma reflexão relevante. Aqueles que
trabalham em universiidades públicas brasileiras e que estão comprometidos
com atividades de pesquisa precisam, em caráter quase cotidiano, dividir
seu tempo com tarefas que nada têm a ver com pesquisa, ensino e orientação
de alunos. Precisam desempenhar tarefas de secretariado, cuidar de tarefas
básicas e não tão básicas de informática, gastar tempo e esforço para
enviar uma correspondência via SEDEX, resolver problemas relacionados à
manutenção e ao conserto de equipamentos, cuidar de compras de passagens
aéreas e reservas de hotel, elaborar, sem qualquer apoio administrativo,
relatórios e prestações de contas de projetos de pesquisa e de organização
de eventos e a lista segue. As atividades de pesquisa e até mesmo as
atividades de ensino do docente terminam sendo, em alguma extensão,
afetadas negativamente. Precisamos caminhar para uma estrutura
organizacional mais eficientes em nossas universidades públicas. Fica a
reflexão.

Abraços, FC


Folha de São Paulo, 24 de maio de 2016

Ciência eficiente

Suzana Herculano-Houzel

Ah, como é bom poder fazer meu trabalho. Minha nova casa, a Universidade
Vanderbilt, é uma universidade particular nos EUA, e como tal pode ser
administrada como qualquer empresa preocupada com eficiência. Isso
significa que pessoas treinadas em administração fazem seu trabalho de
administrar, e pessoas treinadas em pesquisa podem fazer seu trabalho de
pesquisar.

Deveria parecer óbvio, mas os 14 anos que passei na UFRJ e a experiência
compartilhada por inúmeros colegas mostram que esse não é o caso nas
universidades públicas do Brasil, nossos centros de excelência em pesquisa.
Nelas, cientistas perdem tempo tendo que improvisar nas funções de
administrador, agente de compras e viagem, contador, técnico em
informática, eletricista e o que mais for necessário. Tipicamente, não
contamos com apoio estruturado nas universidades -ou ele não é nem eficaz
nem eficiente. Somente professores titulares na UFRJ contam com apoio
secretarial.

Ao contrário, em poucos dias na Vanderbilt, já conto com o apoio de uma
pessoa que cuida de compras (basta eu enviar um link do produto desejado),
outra que gerencia meus fundos para pesquisa (e sabe o quanto eu gastei por
meio do responsável pelas compras), mais uma que resolve tudo relacionado a
TI (e providenciou um IP fixo para um computador no dia seguinte). Temos um
sistema on-line de reembolso de pequenas despesas e uma agência de viagens
à disposição.

Em meu instituto na UFRJ, levei meses para conseguir um IP fixo -que foi
desconfigurado semanas depois. Uma tentativa de montar um serviço de
contabilidade que fizesse nossas prestações de contas deu por água por
conta da tentativa do instituto de cobrar uma porcentagem do valor dos
auxílios administrados, o que as agências de fomento não autorizam. Eu era
tratada como ladra quando tinha que provar na Faperj que havia de fato
viajado a trabalho, apresentando um sem-fim de comprovantes.

Mas concluir que universidades públicas não podem ser administradas
eficientemente por serem públicas seria uma falácia; aqui nos EUA
universidades públicas como a da Califórnia dão o exemplo. Claro que a
impossibilidade de punir ou desligar funcionários ineficientes no sistema
brasileiro não ajuda. Mas vontade institucional ainda assim poderia ir
longe se montasse um sistema que permitisse aos cientistas apenas fazer
ciência.
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <https://lists.ime.usp.br/archives/abe/attachments/20160524/f0361ae2/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão abe