[ABE-L] Uma reflexão sobre o cotidiano acadêmico

Pedro Luis do Nascimento Silva pedronsilva em gmail.com
Ter Maio 24 15:55:04 -03 2016


Colegas,

Parabenizo o Cribari pela postagem do artigo da Profa. Suzana Herculano-Houzel.
Aqui no Brasil, fazer ciência é como 'matar um leão por dia', como diz a
Denise, e como vivenciam quase todos os que atuam em universidades da
esfera pública.

A professora Suzana relata o tratamento recebido quanto à questão das
prestações de contas. Há excesso de regulação na utilização dos fundos
públicos e de burocracia na comprovação das pequenas despesas. Isto
decorre, em parte, da percepção de que 'todos são desonestos, até que
provem o contrário', pois são tantas as irregularidades na administração de
fundos públicos que o sistema evoluiu dessa maneira. Lamentável, e
ineficiente, haja visto que tal regulação e burocracia pesadas não tem
conseguido impedir a atuação de verdadeiras quadrilhas organizadas para
apropriar-se dos recursos públicos.

Precisamos encontrar outras formas de fazer as coisas, mas não vai ser
fácil. As corporações envolvidas são fortes.

Mas que isso não iniba a vontade de mudar e a discussão de alternativas.

Saudações, enviadas de Salvador, onde participo de uma excelente Reunião da
RBRAS.

Pedro.

Em 24 de maio de 2016 14:06, Francisco Cribari <cribari em de.ufpe.br>
escreveu:

> O artigo abaixo contém, creio, uma reflexão relevante. Aqueles que
> trabalham em universiidades públicas brasileiras e que estão comprometidos
> com atividades de pesquisa precisam, em caráter quase cotidiano, dividir
> seu tempo com tarefas que nada têm a ver com pesquisa, ensino e orientação
> de alunos. Precisam desempenhar tarefas de secretariado, cuidar de tarefas
> básicas e não tão básicas de informática, gastar tempo e esforço para
> enviar uma correspondência via SEDEX, resolver problemas relacionados à
> manutenção e ao conserto de equipamentos, cuidar de compras de passagens
> aéreas e reservas de hotel, elaborar, sem qualquer apoio administrativo,
> relatórios e prestações de contas de projetos de pesquisa e de organização
> de eventos e a lista segue. As atividades de pesquisa e até mesmo as
> atividades de ensino do docente terminam sendo, em alguma extensão,
> afetadas negativamente. Precisamos caminhar para uma estrutura
> organizacional mais eficientes em nossas universidades públicas. Fica a
> reflexão.
>
> Abraços, FC
>
>
> Folha de São Paulo, 24 de maio de 2016
>
> Ciência eficiente
>
> Suzana Herculano-Houzel
>
> Ah, como é bom poder fazer meu trabalho. Minha nova casa, a Universidade
> Vanderbilt, é uma universidade particular nos EUA, e como tal pode ser
> administrada como qualquer empresa preocupada com eficiência. Isso
> significa que pessoas treinadas em administração fazem seu trabalho de
> administrar, e pessoas treinadas em pesquisa podem fazer seu trabalho de
> pesquisar.
>
> Deveria parecer óbvio, mas os 14 anos que passei na UFRJ e a experiência
> compartilhada por inúmeros colegas mostram que esse não é o caso nas
> universidades públicas do Brasil, nossos centros de excelência em pesquisa.
> Nelas, cientistas perdem tempo tendo que improvisar nas funções de
> administrador, agente de compras e viagem, contador, técnico em
> informática, eletricista e o que mais for necessário. Tipicamente, não
> contamos com apoio estruturado nas universidades -ou ele não é nem eficaz
> nem eficiente. Somente professores titulares na UFRJ contam com apoio
> secretarial.
>
> Ao contrário, em poucos dias na Vanderbilt, já conto com o apoio de uma
> pessoa que cuida de compras (basta eu enviar um link do produto desejado),
> outra que gerencia meus fundos para pesquisa (e sabe o quanto eu gastei por
> meio do responsável pelas compras), mais uma que resolve tudo relacionado a
> TI (e providenciou um IP fixo para um computador no dia seguinte). Temos um
> sistema on-line de reembolso de pequenas despesas e uma agência de viagens
> à disposição.
>
> Em meu instituto na UFRJ, levei meses para conseguir um IP fixo -que foi
> desconfigurado semanas depois. Uma tentativa de montar um serviço de
> contabilidade que fizesse nossas prestações de contas deu por água por
> conta da tentativa do instituto de cobrar uma porcentagem do valor dos
> auxílios administrados, o que as agências de fomento não autorizam. Eu era
> tratada como ladra quando tinha que provar na Faperj que havia de fato
> viajado a trabalho, apresentando um sem-fim de comprovantes.
>
> Mas concluir que universidades públicas não podem ser administradas
> eficientemente por serem públicas seria uma falácia; aqui nos EUA
> universidades públicas como a da Califórnia dão o exemplo. Claro que a
> impossibilidade de punir ou desligar funcionários ineficientes no sistema
> brasileiro não ajuda. Mas vontade institucional ainda assim poderia ir
> longe se montasse um sistema que permitisse aos cientistas apenas fazer
> ciência.
>
>
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