[ABE-L] Deu na Folha de São Paulo

Francisco Cribari cribari em de.ufpe.br
Sex Set 16 07:05:50 -03 2016


Folha de São Paulo, 16 de setembro de 2016 - EDITORIAL

EDITORIAL
Ciência de resultados

O físico José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), muito tem contribuído para a ciência
brasileira, tanto por sua produção especializada quanto pela franqueza de
seus diagnósticos sobre o setor.

Nos anos 1980, quando foi reitor da USP, deu curso a processos de avaliação
hoje corriqueiros, mas que na época enfrentavam resistência —como no
episódio da publicação, por esta Folha, da célebre "lista dos
improdutivos", em 1988.

Consolidou-se, então, a noção de que o financiamento da pesquisa com
recursos públicos deve guiar-se por parâmetros de mérito e desempenho. A
Fapesp, nesse processo, ocupou uma posição exemplar.

Hoje na presidência da fundação, Goldemberg mostra preocupação com o estado
da pesquisa. Em entrevista à *Folha* publicada na quarta-feira (14)
<http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/09/1813080-ciencia-tem-que-ter-criterios-mais-rigidos-diz-presidente-da-fapesp.shtml>,
o físico atenta para a necessidade de tornar mais rígidos os critérios de
avaliação.

Um de seus alvos são as teses de doutorado. O dirigente considera excessivo
o prazo de quatro anos das bolsas correspondentes, pois não há incentivo
para completar o trabalho em menos tempo.

Ademais, a existência em instituições como a USP de apenas dois conceitos
—aprovado ou reprovado— e de relações pessoais entre avaliadores e
avaliados na banca examinadora tende à chancela de todas as pesquisas,
mesmo das que não são merecedoras.

Não espanta, assim, que a produção científica brasileira tenha baixo
impacto internacional. Os 639,5 mil estudos nacionais publicados em
periódicos de renome de 1996 a 2015 angariaram em média 8,96 citações por
artigo (contra as 21,66 de uma potência como os EUA, com seus 8,45 milhões
de trabalhos no período).

O Brasil tem relativamente poucos pesquisadores, 698 por milhão de
habitantes —nos EUA são 4.018 por milhão. Investe, contudo, 1,2% de seu PIB
em pesquisa.

É o maior percentual na América Latina, cifra igual à da Espanha, com suas
14,16 citações por artigo, e o triplo do que despende o Chile (0,4%), que
consegue média de 11,82 menções por trabalho.

A ciência brasileira não faz má figura no panorama internacional, mas
deveria entregar resultado mais condizente com a parcela da riqueza que
consome.
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