[ABE-L] Ainda sobre a inversão de mérito

Florencia Leonardi leonardi em ime.usp.br
Ter Jul 10 17:23:36 -03 2018


Caros colegas,

segui com atenção a discussão dos últimos dias sobre as avaliações de
produtividade e o que foi exposto sobre as injustiças dessas avaliações.
Na nossa pós-graduação do IME-USP nós temos discutido este assunto faz
algum tempo, em relação com o credenciamento de orientadores e possíveis
mudanças
de regras. Eu gostaria de manifestar meu apoio às ideias que Alexsandra e
Adriano expuseram nas respectivas mensagens. Eu acho que nós devemos sim
usar
os índices "objetivos" como ferramentas para nos auxiliar nas avaliações,
porque seria impossível conhecermos por exemplo a qualidade de todas as
revistas,
mas eles nunca deveriam substituir a análise criteriosa de colegas da área.
Eu acho que essa búsqueda pela "objetividade" está perdida, e além disso,
pode ser muito mais injusta que a suposta "subjetividade" da análise por
pares.
Acho que, como foi dito, nós deveríamos buscar mais transparência nos
processos de avaliação por pares, termos pareceres bem justificados, e não
tentar substituir a
avaliação humana por um número ou um ranking de pessoas segundo número de
artigos, número de citações, etc. O que é que esses índices representam
sobre a relevância
da pesquisa dessa pessoa? Além disso, como foi exposto aqui, as
classificações da Capes no Qualis não seguem rigorosamente os mesmo
critérios que a própria Capes propõe.
Isso na minha opinião não faz o menor sentido, porque um índice é só isso,
um índice, e retocá-lo manualmente não corrige nenhuma distorção, só
destrói a única propriedade que
esse número tem, que é o de ser objetivo. O que não deveríamos é usar esses
números como único critério de avaliação, as pessoas são muito mais que seu
h-index.

Outro assunto que foi levantado na discussão é sobre a
multidisciplinaridade, acho que o "sistema" ainda não está preparado para
isso, para poder impulsar a multidisciplinaridade
não basta só querer que as pessoas façam isso, o sistema deve proporcionar
a elas condições. Como fazer isso não está claro para mim, mas como não
fazer sim está claro.
Os editais de concursos pedem muitas vezes graduação e doutorado na mesma
área, mesmo pessoas que tem pesquisa de qualidade na área do concurso não
podendo se inscrever.
Isso faz algum sentido?

Abraços,
Florencia


2018-07-09 15:55 GMT-03:00 Carlos Alberto de Bragança Pereira <
cpereira em ime.usp.br>:

> Caros redistas, colegas e amigos
> Quero agradecer a todos que se manifestaram em solidariedade à minha
> reclamação, mas principalmente aos colegas que se dispuseram a discutir
> tema tão importante para todos nós.
>
> Os e-mails da Alex e do Adriano talvez tenham dado a direção a seguir em
> nossas ambições de cpoder construir um sistema justo de avaliação.
>
> Mas escrevo hje para divulgar uma mensagem de um jovem pesquisador a qual
> me tocou profundamente devido à consequência de uma injustiça.  O último
> parágrafo dele me fez pensar que o que aconteceu comigo é nada em
> comparação com a situação dele.  Vou divulgar porque ele me autorizou a
> fazê-lo.
>
> Antes de colocar a mensagem do jovem eu gostaria de dizer que colaboro com
> o melhor grupo de psiquiatria deste pais e a seguinte mensagem eu recebi
> agora de nossa colega psiquiatra.
> _______________________________________________________________________
> obrigada Carlinhos,
> assim que o Daniel me mandar eu te encaminho
> a revista é o Journal of Anxiety Disorders, fator de impacto 3.481
> abraços
> Roseli
> _______________________________________________________________________
>
> Aqui vai o que interessa
> Retirei o sobrenome que identificaria completamente o autor
>
>
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
> Prezado professor Carlinhos,
>
> Meu nome é Marcelo Pereira, sou um jovem estatístico (hoje eu tenho 32
> anos de idade) que inclusive já trocou alguns emails com o senhor. Venho
> através deste email me solidarizar com o que aconteceu com o senhor, pois
> aconteceu algo no mesmo contexto comigo.
>
> Ano passado eu completei 3 anos de doutorado e assim eu tinha direito de
> pedir uma bolsa PQ nível 2. Bom, fiz o meu projeto enviei no prazo com tudo
> nos conformes.
>
> Quando saiu o resultado, eu só recebi a avaliação de 1 parecer ad hoc
> (geralmente são 3-4). O parecer de Pré-seleção foi dado 1 mês após o único
> parecer ad hoc que eu recebi, e o mesmo falou que eu conclui o doutorado em
> 2015, e portanto não estava apto a receber bolsa PQ, sendo que eu terminei
> em 2014. Bom, eu recorri do resultado no dia 18/01/2018 e até 20 dias atrás
> o resultado estava "em Análise pelo CNPq", sendo que já tinha um outro
> edital aberto. Enviei um email para a ouvidoria, e em menos de duas semanas
> resolveram soltar o resultado de reconsideração, que continuou como
> indeferido. Mas, agora falaram que não tinha mérito para estar entre os que
> mereciam bolsa e minha resposta foi a seguinte:
>
>
> Ainda, referente ao mérito da proposta, cabe alguns destaques:
>
> 1) Eu possuo mais de 50 artigos científicos publicados e/ou aceitos em
> periódicos internacionais (apesar da pouca idade) com sistema de arbitragem
> em diferentes linhas de pesquisa. Nos últimos 3 anos (número de anos após a
> minha defesa de doutorado) eu publiquei 24 artigos científicos (6 em 2015,
> 10 em 2016 e 8 em 2017) em periódicos internacionais. A grande maioria de
> meus artigos estão publicados em revistas com grandes visibilidade e
> impacto na área de estatística, mostrando intensidade e regularidade das
> publicações. Em termos de Qualis/CAPES, possuo melhores métricas que vários
> outros bolsistas PQ do mesmo comitê da Matemática e Estatística. Acredito,
> fortemente, que a minha produção (nos últimos 3 anos) é equivalente à
> produção científica de pesquisadores nível 1D da área de probabilidade e
> estatística.
>
>
>
> 2) Tenho trabalhado em colaboração com diferentes pesquisadores, do Brasil
> e do exterior e com diferentes graus de senioridade, além de desenvolver
> trabalhos solo. No momento, venho trabalhando em cerca de 25 artigos
> científicos que serão submetidos a periódicos internacionais da área de
> estatística e tenho 16 artigos submetidos. Esses dados mostram intensidade
> e autonomia
> científica superior a outros bolsistas PQ da mesma área.
>
>
> 3) Apesar de jovem, vale ressaltar que eu sou revisor de cerca de 90
> importantes periódicos internacionais, além de ser Editor Associado de dois
> periódicos internacionais: International Journal of Computer Sciences and
> its Applications e International Journal of Statistics: Advances in Theory
> and Applications.
>
>
> 4) Ressalto ainda que, com apenas 30 anos de idade, eu assumi em 2016 a
> coordenação da Pós-Graduação em Matemática Aplicada
> e Estatística da UFRN (ainda continuo como coordenador), sendo talvez o
> coordenador mais jovem dentre todas as áreas de conhecimento da CAPES.
>
>
> 5) Os bons fóruns cientíticos que venho publicando evidenciam a qualidade
> de minha pesquisa. Contudo, destaco ainda que recebi o prêmio JAN TINBERGEN
> AWARDS 2017 pelo International Statistical Institute (ISI) em Marrakech,
> Marrocos. Esse é um dos prêmios mais importantes para jovens estatísticos
> do planeta, quiçá não seja o maior. Eu concorri com jovens estatísticos de
> 138 países em desenvolvimento e fiquei em primeiro lugar.  Ressalto que no
> mesmo evento o Professor Sir David Cox recebeu o primeiro prêmio
> International Prize
> in Statistics. Esse prêmio é considerado o Nobel da Estatística. Este é um
> indicador claro de qualidade da pesquisa
> e de inserção internacional.
>
> 6) Dentre os critérios do Comitê Assessor da Matemática e Estatística,
> dentre outros, destaco o seguinte: "especial atenção
> aos jovens com claro potencial para se tornarem lideranças.". Pelos
> argumentos de mérito listados em (1)-(5) acima entendo que
> satisfaço completamente os critérios do comitê, especialmente este
> destacado.
>
>
> O mais estranho é que outros pesquisadores com 5-6 artigos publicados
> durante toda a sua vida acadêmica ganharam bolsa.
> Quando o mérito não é levado em conta, perde o sentido de quase tudo.
>
>
> Qual foi o efeito causado em mim: hoje em dia não tenho nenhum pouco de
> vontade de fazer mais pesquisa. Desanimei completamente. Encontrei outras
> atividades que me fazem feliz e estou vivendo. Talvez tenha sido excelente
> para a minha vida pessoal.
>
>
> Desculpe pelo longo email e espero que o resultado em relação a bolsa do
> senhor seja revertido.
>
> Saudações,
>
> Marcelo
> --
> Carlos Alberto de Bragança Pereira
> http://www.ime.usp.br/~cpereira
> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> Stat Department - Professor & Head
> University of São Paulo
>
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