[ABE-L] Ainda sobre a inversão de mérito

Hedibert Lopes hedibert em gmail.com
Qua Jul 11 13:41:18 -03 2018


Boa tarde pessoal,

Tenho acompanhado de perto essa discussao sobre qualis/fator de
impacto/merito/bolsa CNPq/etc e, assim como varios membros, acho que sao
temas muito relevantes para nossa area de pesquisa. Particularmente
importante para os jovens pesquisadores (menos que 35 anos, ou por ai) que
comecam a encontrar os caminhos das pedras nesse mundo
academico-cientifico.

Estou adicionando dois resumos que fiz para melhor entender o cenario
atual.  E' incompleto e representa todos meus vieses, portanto nao assumo
nenhuma responsabilidade pelo uso indevido desse material.

Uma curiosidade:  O Brasil esta' entre os paises que mais publicaram, nos
ultimos 3 anos, no Journal of Applied Statistics (JAS) e no Journal of
Statistical Computation and Simulation (JSCS), com pesadas contribuicoes da
USP e UFPE (UFSCAR tambem, mas no JAS). O JSCS tem FI=0.87 (2017) e o JAS
tem FI=0.67 (2017), ambos proximos ao BJPS (IF=0.82, 2017) onde a maioria
das publicacoes tambem sao de brasileiros. Essas, e varias outras revistas,
estao no canto direito inferior da minha figura, entre as revistas com
menor impacto e classificacao B1/B2 no Qualis.

Perguntas que me vem a cabeca:  E' isso que somos?  Pesquisadores do "canto
direito inferior"?  Porque publicamos muitos artigos ali?  E' o porto final
do processo de submissao ou um dos iniciais?  As publicacoes saem mais
rapidamente ali ou nao?  Nao tenho solucoes obvias.  O que fiz no Insper,
assim que cheguei ao Brasil foi usar os indices Scimago JCR (e nao o fator
de impacto) para listas revistas de estatistica (hoje nem usamos mais essa
listagem, fazemos um estudo caso a caso com pareceristas internos e
externos).

Queria finalizar dizendo que nao acho um "merito", dentro da nossa area
(estatistica) ter uma ideia em uma semana, escrever o artigo em 2 semanas e
te-lo publicado em 2 meses.  No minimo acho suspeitoso.

Abs,
Hedibert



On Wed, Jul 11, 2018 at 10:39 AM Florencia Leonardi <leonardi em ime.usp.br>
wrote:

> Caros colegas,
>
> segui com atenção a discussão dos últimos dias sobre as avaliações de
> produtividade e o que foi exposto sobre as injustiças dessas avaliações.
> Na nossa pós-graduação do IME-USP nós temos discutido este assunto faz
> algum tempo, em relação com o credenciamento de orientadores e possíveis
> mudanças
> de regras. Eu gostaria de manifestar meu apoio às ideias que Alexsandra e
> Adriano expuseram nas respectivas mensagens. Eu acho que nós devemos sim
> usar
> os índices "objetivos" como ferramentas para nos auxiliar nas avaliações,
> porque seria impossível conhecermos por exemplo a qualidade de todas as
> revistas,
> mas eles nunca deveriam substituir a análise criteriosa de colegas da
> área. Eu acho que essa búsqueda pela "objetividade" está perdida, e além
> disso,
> pode ser muito mais injusta que a suposta "subjetividade" da análise por
> pares.
> Acho que, como foi dito, nós deveríamos buscar mais transparência nos
> processos de avaliação por pares, termos pareceres bem justificados, e não
> tentar substituir a
> avaliação humana por um número ou um ranking de pessoas segundo número de
> artigos, número de citações, etc. O que é que esses índices representam
> sobre a relevância
> da pesquisa dessa pessoa? Além disso, como foi exposto aqui, as
> classificações da Capes no Qualis não seguem rigorosamente os mesmo
> critérios que a própria Capes propõe.
> Isso na minha opinião não faz o menor sentido, porque um índice é só
> isso, um índice, e retocá-lo manualmente não corrige nenhuma distorção, só
> destrói a única propriedade que
> esse número tem, que é o de ser objetivo. O que não deveríamos é usar
> esses números como único critério de avaliação, as pessoas são muito mais
> que seu h-index.
>
> Outro assunto que foi levantado na discussão é sobre a
> multidisciplinaridade, acho que o "sistema" ainda não está preparado para
> isso, para poder impulsar a multidisciplinaridade
> não basta só querer que as pessoas façam isso, o sistema deve proporcionar
> a elas condições. Como fazer isso não está claro para mim, mas como não
> fazer sim está claro.
> Os editais de concursos pedem muitas vezes graduação e doutorado na mesma
> área, mesmo pessoas que tem pesquisa de qualidade na área do concurso não
> podendo se inscrever.
> Isso faz algum sentido?
>
> Abraços,
> Florencia
>
>
> 2018-07-09 15:55 GMT-03:00 Carlos Alberto de Bragança Pereira <
> cpereira em ime.usp.br>:
>
>> Caros redistas, colegas e amigos
>> Quero agradecer a todos que se manifestaram em solidariedade à minha
>> reclamação, mas principalmente aos colegas que se dispuseram a discutir
>> tema tão importante para todos nós.
>>
>> Os e-mails da Alex e do Adriano talvez tenham dado a direção a seguir em
>> nossas ambições de cpoder construir um sistema justo de avaliação.
>>
>> Mas escrevo hje para divulgar uma mensagem de um jovem pesquisador a qual
>> me tocou profundamente devido à consequência de uma injustiça.  O último
>> parágrafo dele me fez pensar que o que aconteceu comigo é nada em
>> comparação com a situação dele.  Vou divulgar porque ele me autorizou a
>> fazê-lo.
>>
>> Antes de colocar a mensagem do jovem eu gostaria de dizer que colaboro
>> com o melhor grupo de psiquiatria deste pais e a seguinte mensagem eu
>> recebi agora de nossa colega psiquiatra.
>> _______________________________________________________________________
>> obrigada Carlinhos,
>> assim que o Daniel me mandar eu te encaminho
>> a revista é o Journal of Anxiety Disorders, fator de impacto 3.481
>> abraços
>> Roseli
>> _______________________________________________________________________
>>
>> Aqui vai o que interessa
>> Retirei o sobrenome que identificaria completamente o autor
>>
>>
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
>> Prezado professor Carlinhos,
>>
>> Meu nome é Marcelo Pereira, sou um jovem estatístico (hoje eu tenho 32
>> anos de idade) que inclusive já trocou alguns emails com o senhor. Venho
>> através deste email me solidarizar com o que aconteceu com o senhor, pois
>> aconteceu algo no mesmo contexto comigo.
>>
>> Ano passado eu completei 3 anos de doutorado e assim eu tinha direito de
>> pedir uma bolsa PQ nível 2. Bom, fiz o meu projeto enviei no prazo com tudo
>> nos conformes.
>>
>> Quando saiu o resultado, eu só recebi a avaliação de 1 parecer ad hoc
>> (geralmente são 3-4). O parecer de Pré-seleção foi dado 1 mês após o único
>> parecer ad hoc que eu recebi, e o mesmo falou que eu conclui o doutorado em
>> 2015, e portanto não estava apto a receber bolsa PQ, sendo que eu terminei
>> em 2014. Bom, eu recorri do resultado no dia 18/01/2018 e até 20 dias atrás
>> o resultado estava "em Análise pelo CNPq", sendo que já tinha um outro
>> edital aberto. Enviei um email para a ouvidoria, e em menos de duas semanas
>> resolveram soltar o resultado de reconsideração, que continuou como
>> indeferido. Mas, agora falaram que não tinha mérito para estar entre os que
>> mereciam bolsa e minha resposta foi a seguinte:
>>
>>
>> Ainda, referente ao mérito da proposta, cabe alguns destaques:
>>
>> 1) Eu possuo mais de 50 artigos científicos publicados e/ou aceitos em
>> periódicos internacionais (apesar da pouca idade) com sistema de arbitragem
>> em diferentes linhas de pesquisa. Nos últimos 3 anos (número de anos após a
>> minha defesa de doutorado) eu publiquei 24 artigos científicos (6 em 2015,
>> 10 em 2016 e 8 em 2017) em periódicos internacionais. A grande maioria de
>> meus artigos estão publicados em revistas com grandes visibilidade e
>> impacto na área de estatística, mostrando intensidade e regularidade das
>> publicações. Em termos de Qualis/CAPES, possuo melhores métricas que vários
>> outros bolsistas PQ do mesmo comitê da Matemática e Estatística. Acredito,
>> fortemente, que a minha produção (nos últimos 3 anos) é equivalente à
>> produção científica de pesquisadores nível 1D da área de probabilidade e
>> estatística.
>>
>>
>>
>> 2) Tenho trabalhado em colaboração com diferentes pesquisadores, do
>> Brasil e do exterior e com diferentes graus de senioridade, além de
>> desenvolver trabalhos solo. No momento, venho trabalhando em cerca de 25
>> artigos científicos que serão submetidos a periódicos internacionais da
>> área de estatística e tenho 16 artigos submetidos. Esses dados mostram
>> intensidade e autonomia
>> científica superior a outros bolsistas PQ da mesma área.
>>
>>
>> 3) Apesar de jovem, vale ressaltar que eu sou revisor de cerca de 90
>> importantes periódicos internacionais, além de ser Editor Associado de dois
>> periódicos internacionais: International Journal of Computer Sciences and
>> its Applications e International Journal of Statistics: Advances in Theory
>> and Applications.
>>
>>
>> 4) Ressalto ainda que, com apenas 30 anos de idade, eu assumi em 2016 a
>> coordenação da Pós-Graduação em Matemática Aplicada
>> e Estatística da UFRN (ainda continuo como coordenador), sendo talvez o
>> coordenador mais jovem dentre todas as áreas de conhecimento da CAPES.
>>
>>
>> 5) Os bons fóruns cientíticos que venho publicando evidenciam a qualidade
>> de minha pesquisa. Contudo, destaco ainda que recebi o prêmio JAN TINBERGEN
>> AWARDS 2017 pelo International Statistical Institute (ISI) em Marrakech,
>> Marrocos. Esse é um dos prêmios mais importantes para jovens estatísticos
>> do planeta, quiçá não seja o maior. Eu concorri com jovens estatísticos de
>> 138 países em desenvolvimento e fiquei em primeiro lugar.  Ressalto que no
>> mesmo evento o Professor Sir David Cox recebeu o primeiro prêmio
>> International Prize
>> in Statistics. Esse prêmio é considerado o Nobel da Estatística. Este é
>> um indicador claro de qualidade da pesquisa
>> e de inserção internacional.
>>
>> 6) Dentre os critérios do Comitê Assessor da Matemática e Estatística,
>> dentre outros, destaco o seguinte: "especial atenção
>> aos jovens com claro potencial para se tornarem lideranças.". Pelos
>> argumentos de mérito listados em (1)-(5) acima entendo que
>> satisfaço completamente os critérios do comitê, especialmente este
>> destacado.
>>
>>
>> O mais estranho é que outros pesquisadores com 5-6 artigos publicados
>> durante toda a sua vida acadêmica ganharam bolsa.
>> Quando o mérito não é levado em conta, perde o sentido de quase tudo.
>>
>>
>> Qual foi o efeito causado em mim: hoje em dia não tenho nenhum pouco de
>> vontade de fazer mais pesquisa. Desanimei completamente. Encontrei outras
>> atividades que me fazem feliz e estou vivendo. Talvez tenha sido excelente
>> para a minha vida pessoal.
>>
>>
>> Desculpe pelo longo email e espero que o resultado em relação a bolsa do
>> senhor seja revertido.
>>
>> Saudações,
>>
>> Marcelo
>> --
>> Carlos Alberto de Bragança Pereira
>> http://www.ime.usp.br/~cpereira
>> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
>> Stat Department - Professor & Head
>> University of São Paulo
>>
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Hedibert Freitas Lopes, PhD
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