[ABE-L] Mais reflexões na convalecência

Julio Stern jmstern em hotmail.com
Dom Ago 23 10:17:58 -03 2015


  

     > Evidentemente,
nossos valores não são exatamente os mesmos, 

> mas
todos nós primamos pela excelência. 

 

Carlinhos: 

Acho que Nao eh bem
assim. 

Acho que ha
muitos valores em jogo aqui, 

e muitos destes valores sao completamente divergentes! 

 

Quero por em
discussao dois modelos distintos de fazer ciencia. 

Obviamente
estes sao dois casos hipoteticos,  para efeito de discussao (casos ficticios extremos, que nao existem de forma pura na realidade):

 

(1) Trabalho
Heteronomo: 

 

- Pesquisador
Brasileiro implementa o pedaco que lhe cabe de um 

modelo
complexo e sofisticado, especificado por um famoso grupo 

de pesquisa internacional.


  

- O trabalho
do pesquisador Brasileiro requer trabalho duro e alta 

competencia em uma tarefa especifica, que sera recompensado 

com uma
publicacao em uma revista de griffe. 

 

- O trabalho
do pesquisador em Brasileiro nao requer grande  

originalidade:  Trata-se de juntar modelos e tecnicas conhecidas, 

ainda que
para montar uma aplicacao inovadora. 

 

- O trabalho
final do grupo internacional eh altamente original e 

inovador,
mas a o papel do pesquisador Brasileiro pode ter sido 

totalmente
subordinado e subserviente, sem que tenha sequer 

uma compreensao
global do mesmo, muito menos que tenha 

participado
da concepcao original do projeto. 

  

(2) Trabalho
Autonomo: 

 

- Um grupo
de pesquisadores Brasileiros desenvolve uma ideia 

original e
altamente inovadora, e luta com unhas e dentes pelo 

seu lugar ao
sol no grande e vasto mundo. 

  

- O trabalho
eh criticado duramente, como toda proposta original 

e inovadora eh e deve
ser criticada para poder provar o seu valor. 

 

- Os
trabalhos do grupo sao publicados em revistas de boa 

qualidade,
mas longe dos titulos com as griffes da moda. 

Apos varios
anos de trabalho, e um grande elenco de artigos 

publicados,
alguns artigos terminam por ser aceitos em 

revistas
lideres de suas respectivas areas.    

 

Minhas Conclusoes:


 

- Algumas
das ideias em discussao na lista parecem reforcar 

o modelo Heteronomico
de producao cientifica, tentando 

inclusive
impo-lo  manu militari,  por instrumentos de coacao. 

 

- O modelo
Heteronomico de producao intelectual e derivado, 

ao menos em
parte, de um grande complexo de inferioridade. 

Nelson
Rodrigues criou para tal a denominacao 

"Complexo
de Vira-Lata"  (vide verbete Wiki). 

 

Termino
agradecendo ao Carlinhos o esforco de fomentar, 

incessantenmente,
o modelo de trabalho intelectual Autonomo.  

Uma de suas
bandeiras de guerra (emprestada do Frota Pessoa):

 - O mundo se
divide entre os cretinos e o genuinos!  

    ---Julio Stern  

Mundo mundo vasto mundo, mais vasto eh meu coracao. Carlos Drumond de Andrade    

    



> Date: Sat, 22 Aug 2015 14:08:41 -0300
> From: cpereira em ime.usp.br
> To: abe-l em ime.usp.br; g-mae em ime.usp.br
> Subject: [ABE-L] Mais reflexões na convalecência
> 
> 
> Pedro Mexia: Ficamos sozinhos (...). Ficamos sozinhos quando não  
> mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos nossas convicções. É um  
> preço que sempre “estive” disposto a pagar.  (as aspas são minhas  
> substituindo estou por estive).
> 
> Nelson Rodrigues: A unanimidade é burra!
> 
> Inicio minhas reflexões de hoje informando a todos que tenho o maior  
> respeito tanto pelo Hedi quanto pela Alexandra, que pertencem ao grupo  
> de pessoas que me fazem ter orgulho de ser estatístico brasileiro.   
> Contudo, discordo de algumas ou muitas opiniões.  Evidentemente,  
> nossos valores não são exatamente os mesmos, mas todos nós primamos  
> pela excelência.
> 
> Quando o Helio elogia a colocação dos dois na rede e não me coloca na  
> lista é sinal de que concorda com eles e não comigo.  Acho isso muito  
> normal e nunca se deve nos colocar como opositores em nossa pequena  
> sociedade de cientistas ou técnicos.  Tenho certeza que somos  
> considerados lideres de grupos em nossa comunidade.  Claro que seria  
> muito bom se o Helio tivesse me incluído na lista dos elogiados.  A  
> seguir vou dar a definição de promotor e comentar sobre algumas das  
> atitudes que já vi realizarem.
> 
> O promotor é um agente público e seu principal objetivo é  defender a  
> sociedade e seus interesses. Ele atua como um fiscal da lei e pode  
> entrar em ação caso queira investigar suspeitas de crimes como desvio  
> de recursos públicos.
> No entanto alguns não cumprem adequadamente a função.  Um promotor  
> coloca na mídia algo que suspeita e não tem provas.  Logo em seguida  
> usa essas informações midiáticas para abrir um processo para um acusado
> 
> Dito isto, informo que isso foi feito com a MDPI empresa de nosso  
> amigo Lin que publica revistas de bom impacto como a Cell e a própria  
> Entropy.  - Não digo isso apenas por ter participado da Entropy deste  
> o primeiro número.  Digo isso porque conheço tanto o Dr Lin quanto o  
> nosso editor da Entropy - Kevin Knuth.  Kevin é uma pessoa maravilhosa  
> e um matemático de primeira linha.  Virou editor da Entropy depois de  
> conhecer o Dr Lin aqui em nosso congresso do Maxent -.
> 
> Então, voltando ao que sei, um dos editores de uma revista da MDPI foi  
> demitido em função do que fez para a empresa, levou para a Springer,  
> um congresso que tinha sido iniciado pela MDPI.   Nós editores  
> associados fomos informados de todos os detalhes na época e nos  
> ofereceram sair do Board caso estivéssemos duvidando da justiça da  
> demissão.  Algum premio Nobel que fazia parte do nosso editorial Board  
> informou a mídia eletrônica que não sabia que era editor associado.   
> Contudo, ao olharmos em uma das listas, apresentadas pela Alexandra, e  
> clicarmos na MDPI notaremos que havia uma concordância por escrito  
> desse senhor aceitando o convite.  Na época que entrei para o Board  
> existiam 3 pessoa que haviam ganho o prêmio Nobel. (É como o direito  
> de resposta que dão a pessoas normais como nós na nossa m´dia.   
> Colocam nossas respostas bem escondidas para que não seja vista.)
> 
> Agora gostaria de mudar o foco para os nossos jovens.  A capa da ÉPOCA  
> desta semana traz: “Eles querem conversar. Nem golpe militar nem “fora  
> Levy”.  Os jovens que recusam os clichês das manifestações – e trazem  
> novas e boas ideias para o debate público”.  Tenho recebido muitas  
> mensagens de jovens e não muito jovens sobre o assunto produtividade.   
> Tenham certeza que alguns deles irão apresentar em futuro próximo um  
> projeto inovador sobre o que poderíamos entender por produtividade.   
> Vejam que um grande amigo e também do Hélio me lembrou de que o caso  
> da nossa discussão é bem parecido com a discussão do uso do UBER –  
> grande lembrança.
> 
> Vejam que tudo já foi escrito e comentado.  Por que então insistir no  
> assunto?  O jovem de hoje tem acesso a tudo da internet e sabe muito  
> bem desses problemas.  A escolha é livre a pessoa deve fazer sempre o  
> melhor.  Mas o foco de nosso trabalho, se considerar ele ótimo, é que  
> seja lido e citado.  Se não estiver publicado, por não ter resubmetido  
> por pura depressão, nunca vai ser lido.  Claro que existe razões para  
> duvidarmos de revistas e de sua eficiência, mas não está tudo no mesmo  
> pacote.  O pior é que vemos, como o Hélio disse, uma revista que  
> costuma rejeitar ótimos trabalhos de nossos meninos publicar um artigo  
> como esse onde a único interesse é manter o poder da produção na mão  
> de poucos.
> 
> Quando falei que a Alexandra poderia estar servindo a grandes empresas  
> de forma alguma achei que ela faz isso de propósito.  Simplesmente  
> parece razoável para alguns de nós que os taxistas tenham a prioridade  
> do serviço de atendimento ao público.
> 
> JOVENS PUBLIQUEM SEUS TRABALHOS ONDE HOUVER ESPAÇO.  ASSIM QUE  
> PUBLICADO COLOQUE-OS EM UMA REDE ACADÊMICA COMO O RESEARCH GATE.  SE  
> FOR INTERESSANTE MUITO VÃO LER E AI SIM PODER DAR UMA IDÉA A VOCÊS DA  
> IMPORTÂNCIA DO TRABALHO.  TENHO ALGUNS ALUNOS QUE DESISTIRAM DA  
> ACADEMIA SIMPLESMENTE POR TEREM TIDO O TRABALHO REJEITADO EM REVISTA  
> top.
> 
> Para terminar tenho mais uma historinha a contar.  Quando Victor Hugo  
> terminou sua tese, claro que achamos que tínhamos ouro em nosso  
> trabalho.  Submetemos ao Annals of Statistics.  O artigo foi aceito  
> com ressalvas e precisamos modificá-lo.  Neste ínterim mudou a editor  
> da revista.  Assim que fizemos a revisão recebemos uma carta dizendo  
> que naquele momento o Annals não tinha mais interesse em publica-lo.   
> Foi a maior decepção que tive em minha vida acadêmica pois o método  
> tinha saído do fundo de meu coração.  Meu amigo Ram Tiwari veio ao  
> Brasil para a defesa do Victor (embora não tenha feito parte da banca)  
> e me disse que iríamos escrever dois artigos um foi para o Journal of  
> Nonparametrics e o outro para o Multivariate.  São bem citados é  
> verdade no entanto seria de verdade a nossa maior glória ter o paper  
> no Annals.  Daí pra frente eu percebi que temos que publicar nossas  
> ideias antes que alguém as descubra (se for bom vão descobrir com  
> certeza) e publique antes de nós.
> 
> Tenham um bom final de semana.
> Carlinhos
> -- 
> Carlos Alberto de Bragança Pereira
> http://www.ime.usp.br/~cpereira
> http://scholar.google.com.br/citations?user=PXX2AygAAAAJ&hl=pt-BR
> Stat Department - Professor & Head
> University of São Paulo
> 
> 
> _______________________________________________
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> https://lists.ime.usp.br/mailman/listinfo/abe
 		 	   		  
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