[ABE-L] RES: O vexame do Brasil foi estatisticamente significante ?

Marcelo L. Arruda mlarruda em terra.com.br
Ter Jul 15 10:48:01 -03 2014


Julio e demais listeiros,

     Reitero a minha posição e o destaque de que não estou dizendo que 
os resultados sejam fora do padrão, mas que a forma como eles 
aconteceram está fora do padrão.
     Da mesma forma, julgo fora do padrão o "linchamento" que estamos 
vendo por parte de torcida e imprensa, que reduz a análise de um 
trabalho de 29 jogos e de uma Copa do Mundo de 7 jogos à apreciação 
emocional de apenas dois resultados particularmente negativos. Imaginem 
se em 1982 tivéssemos perdido de 7x1 para a Itália (em vez dos 3x2 que 
de fato aconteceram): todo o trabalho de 2 anos e meio de Telê Santana 
seria julgado uma porcaria, por causa de um único resultado acachapante?

     Assim que eu tiver um tempinho sobrando (provavelmente no fim de 
semana), farei um ajuste das forças de cada seleção, de acordo com o 
modelo do Chance de Gol, mas utilizando como base somente os 64 jogos da 
Copa do Mundo. Acho que isso ilustrará melhor a real performance da 
Seleção Brasileira pois, da mesma forma que é verdade que o Brasil 
perdeu de 7x1 da Alemanha, também é verdade que o Brasil ganhou da 
Colômbia, que ganhou da Grécia, que empatou com a Costa Rica, que 
empatou com a Holanda, que empatou com a Argentina, que empatou com a 
Alemanha! Ou que o Brasil ganhou da Colômbia, que ganhou da Grécia, que 
empatou com a Costa Rica, que empatou com a Holanda, que empatou com a 
Argentina, que ganhou da Bélgica, que ganhou da Argélia, que empatou com 
a Alemanha! Ou ainda, que o Brasil empatou com o México, que 
praticamente empatou com a Holanda, que empatou com a Argentina, que... 
e assim por diante, num grafo que contabiliza os 64 jogos ao invés de de 
simploriamente reduzir tudo a duas derrotas nos dois últimos jogos.

     Por fim, com relação a modelar vitória, empate e derrota em vez de 
número de gols, essa abordagem implicaria considerar Espanha 10x0 Taiti 
(Copa das Confederações) e Nova Caledônia 1x0 Taiti (Eliminatórias da 
Oceania para a Copa do Mundo) como resultados iguais ("vitória do time X 
sobre o Taiti") e conseqüentemente que Espanha e Nova Caledônia seriam 
"tecnicamente iguais"... percebem a falta de discernimento que essa 
abordagem pode causar? Admito que alguma ponderação possa ser necessária 
e que a diferença entre 8x0 e 9x0 talvez deva ser considerada menor que 
a diferença entre 0x0 e 1x0 ou entre 1x0 e 2x0. Mas não se pode 
simplesmente ignorar o placar e olhar diretamente para quem ganhou o jogo!

Marcelo

Em 15/07/2014 09:21, Julio Bueno escreveu:
> Prezados,
> Não acho que são fora do padrão, mas um alerta para que se modele 
> vitória, empate e derrota ao invés de número de gols.
> Afinal, em jogos eliminatórios perder de 1 e perder de seis é, para 
> fins práticos o mesmo, por mais que se julgue humilhante etc...
> O tamanho amostral é muito pequeno, no entanto, para que se ponha 
> qualquer pedra sobre o assuno, o que na verdade é o objetivo do 
> esporte, não?
> Não haveria esporte se houvesse certeza sobre o resultado.
> []s
> Júlio
>
>
> 2014-07-14 17:07 GMT-03:00 Marcelo L. Arruda <mlarruda em terra.com.br 
> <mailto:mlarruda em terra.com.br>>:
>
>     Respondendo ao Vermelho, ao Carlos Leite e ao Luiz Sergio,
>     imaginem que um corredor de maratona quebra a perna no km 40 e
>     rasteja nos dois últimos quilômetros. Acho que todos concordam que
>     não se pode misturar o seu desempenho nos 40 km iniciais com seu
>     desempenho nos 2 km finais, correto? É exatamente essa distinção
>     que estou fazendo com a Seleção Brasileira e foi à condição
>     anormal em que esse sujeito correu os dois últimos quilômetros que
>     eu me referi como "outlier".
>
>     Ou seja, não estou dizendo que o fato de perder para Alemanha e
>     Holanda seja um outlier, mas que esses dois jogos, pelas condições
>     em que aconteceram, são unidades amostrais largamente diferente
>     das demais e, portanto, que não podem ser indiferentemente
>     colocadas num mesmo balaio.
>
>     Numericamente, o que eu quero dizer é:
>
>         Alemanha "normal": 4 vitórias (57%) e 3 empates (43%)
>         Brasil "normal": 3 vitórias (60%) e 2 empates (40%)
>         Brasil desfalcado, remendado e abalado: 2 derrotas (100%)
>
>     Marcelo
>
>     Em 14/07/2014 15:05, Vermelho escreveu:
>>     Marcelo,
>>
>>     O Brasil teve 43% de vitórias, 28,5% de empates e 28,5%de derrotas.
>>     A Alemanha teve 57% de vitórias, 43% de empates e 0%de derrotas.
>>
>>     Eu concordo que para previsões futuras o 7x1 seja descartado como
>>     pouquíssimo provável (não os 3x1 contra a Holanda, que esse é bem
>>     factível). Mas o resultado desta Copa, não deixa dúvida: a
>>     Alemanha foi bem melhor!
>>     Abç.
>>
>>
>>     Em 14 de julho de 2014 14:16, Marcelo L. Arruda
>>     <mlarruda em terra.com.br <mailto:mlarruda em terra.com.br>> escreveu:
>>
>>         Acabo de ver que errei a posição das aspas, o que pode
>>         comprometer o sentido da frase.
>>
>>             Onde escrevi: "em condições" normais
>>
>>             o correto é: em "condições normais"
>>
>>         Marcelo
>>
>>         Em 14/07/2014 14:04, Marcelo L. Arruda escreveu:
>>>         Vermelho, leia o que eu respondi ao Luiz Sergio.
>>>
>>>         Nos jogos disputados "em condições" normais, o Brasil teve
>>>         60% de vitórias e 40% de empates contra 57% e 43% da Alemanha.
>>>         As duas derrotas do Brasil são outliers que respondem por
>>>         somente 2/7 da amostra.
>>>
>>>         Marcelo
>>>
>>>         Em 14/07/2014 13:35, Vermelho escreveu:
>>>>         Alemanha: nenhuma derrota.
>>>>         Brasil: duas derrotas sem nenhuma chance de dúvida.
>>>>         A diferença num campeonato de 7 jogos é bastante visível.
>>>>
>>>>
>>>>         Em 14 de julho de 2014 13:31, Marcelo L. Arruda
>>>>         <mlarruda em terra.com.br <mailto:mlarruda em terra.com.br>>
>>>>         escreveu:
>>>>
>>>>                 A Alemanha _foi_ muito melhor que o Brasil naqueles
>>>>             90 minutos totalmente atípicos (pela escalação (mal)
>>>>             improvisada, pelos quatro gols em seis minutos e pelas
>>>>             sequelas que refletiram no Brasil x Holanda). Se formos
>>>>             medir o que as seleções fizeram na Copa como um todo, e
>>>>             deixando os "jogos outlier" de lado, teremos:
>>>>
>>>>                 Brasil - 3 vitórias (Croácia, Camarões e Colômbia)
>>>>             e 2 empates (México e Chile)
>>>>                 Alemanha - 4 vitórias (Portugal, EUA, França e
>>>>             Brasil) e 3 empates (Gana, Argélia e Argentina)
>>>>
>>>>                 Não é uma diferença tão avassaladora assim...
>>>>
>>>>             Marcelo
>>>>
>>>>             Em 14/07/2014 10:08, Luiz Sergio Vaz escreveu:
>>>>>
>>>>>             Marcelo,
>>>>>
>>>>>             É que antes da Copa, a Alemanha era melhor que o
>>>>>             Brasil. Depois dos 7x1, ela mostrou-se _muito_ melhor
>>>>>             que o Brasil.
>>>>>
>>>>>             Imagina agora depois que ganhou o título e a simpatia
>>>>>             de toda a população brasileira, por tudo que fizeram
>>>>>             na Bahia?! Em menos de 1 ano os alemães fizeram mais
>>>>>             por aquela gente do que a classe política nas 3
>>>>>             esferas da administração pública. E olha que sem bolsa
>>>>>             e todo o mais.
>>>>>
>>>>>             Muitos dirão que é a Síndrome de Estocolmo (risos).
>>>>>             Claro que é um exagero de quem pensa assim.
>>>>>
>>>>>             Abraço,
>>>>>
>>>>>             Luiz
>>>>>
>>>>>             p.s. *Síndrome de Estocolmo*(/Stockholmssyndromet/ em
>>>>>             sueco) é o nome dado a um estado psicológico
>>>>>             particular em que uma pessoa, submetida a um tempo
>>>>>             prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até
>>>>>             mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu
>>>>>             agressor. A síndrome de Estocolmo parte de uma
>>>>>             necessidade, inicialmente inconsciente.
>>>>>
>>>>>             *De:*abe [mailto:abe-bounces em lists.ime.usp.br] *Em
>>>>>             nome de *Marcelo L. Arruda
>>>>>             *Enviada em:* sexta-feira, 11 de julho de 2014 18:47
>>>>>             *Para:* abe-l em ime.usp.br <mailto:abe-l em ime.usp.br>
>>>>>             *Assunto:* Re: [ABE-L] O vexame do Brasil foi
>>>>>             estatisticamente significante ?
>>>>>
>>>>>             Logo de cara já não gostei: ora o autor fala em
>>>>>             "Alemanha melhor que o Brasil" e ora fala em "Alemanha
>>>>>             _muito_ melhor que o Brasil". Ora, como alguém pode
>>>>>             pretender realizar um teste de hipóteses sem definir
>>>>>             sua hipótese alternativa de forma minimamente precisa?
>>>>>
>>>>>             Marcelo
>>>>>
>>>>>                 ----- Original Message -----
>>>>>
>>>>>                 *From:*Vermelho <mailto:vermelho2 em gmail.com>
>>>>>
>>>>>                 *To:*Luiz Sergio Vaz <mailto:luizvaz em sarah.br>
>>>>>
>>>>>                 *Cc:*abe-l em ime.usp.br <mailto:abe-l em ime.usp.br>
>>>>>
>>>>>                 *Sent:*Friday, July 11, 2014 3:29 PM
>>>>>
>>>>>                 *Subject:*Re: [ABE-L] O vexame do Brasil foi
>>>>>                 estatisticamente significante ?
>>>>>
>>>>>                 Muito bom o post!!!
>>>>>
>>>>>                 Em 11 de julho de 2014 15:20, Vermelho
>>>>>                 <vermelho2 em gmail.com <mailto:vermelho2 em gmail.com>>
>>>>>                 escreveu:
>>>>>
>>>>>                 Mas não vamos nos esquecer que a laranja mecânica,
>>>>>                 também, deve estar com a lubrificação deficiente
>>>>>                 e, portanto, poderá ser um jogo razoável e quem
>>>>>                 ganhá-lo levará um belo premio de consolação.
>>>>>                 Alguns bons milhões!
>>>>>
>>>>>                 Abç.
>>>>>
>>>>>                 Em 11 de julho de 2014 15:07, Luiz Sergio Vaz
>>>>>                 <luizvaz em sarah.br <mailto:luizvaz em sarah.br>> escreveu:
>>>>>
>>>>>                 http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com.br/2014/07/o-vexame-do-brasil-foi-estatisticamente.html
>>>>>
>>>>>                 Abraço
>>>>>
>>>>>                 Luiz
>>>>>
>>>>>                 p.s. Não se esqueçam. Amanhã tem jogo: laranja
>>>>>                 mecânica x bagaço da laranja
>>>>>
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>
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>
> -- 
> Júlio Sílvio de Sousa Bueno Filho
> Professor
> Departamento de Ciências Exatas
> Universidade Federal de Lavras
> Caixa Postal 3037
> Lavras, MG - Brasil - 37200 000
> tel: (+55) 35 3829 1369
> fax: (+55) 35 3829 1371
>
>  "Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza."
> João G. Rosa - Riobaldo (Grande Sertão: Veredas)
>
> "Homo sum; humani nihil a me alienum puto."
> Terêncio - Chremes (Heautontimoroumenos)

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